29 - Querido Diário

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Thronicke

2021 CPI dá covid-19 foi algo que nos absorveu completamente, nenhuma mulher foi indicada pelos partidos para serem titulares e suplentes, mas a bancada feminina que montamos meses antes se fez presente em cada reunião, não tínhamos poder decisório em nada, porém estivemos lá levantando nossa voz em meio ao machismo explícito.

Nós nos revezávamos eu e a Simone sempre íamos juntas após algumas fofocas começamos a irmos em dias alternados, ela como presidente da bancada fez uma escala e na reunião de ontem coincidiu de estarmos juntas, por um momento os ânimos alterados outros senadores tentaram me calar, e Simone se levantou como um raio.

Foi tão rápido estávamos afastadas numa fração de segundos ela estava parada ao meu lado com o dedo na cara daqueles homens que se achavam os donos do mundo.

Naquele dia eu vi ela virar onça por mim, eu me senti tão segura ao seu lado, eu já vi ela fazer algo parecido por outras mulheres, mas ver ela agindo daquela forma em minha defesa me fez sentir segura como nenhuma outra pessoa me fez.

Ao fim daquela conturbada sessão viemos para Campo Grande, passar o fim de semana desta vez ficamos em meu apartamento, pois sinto falta dele e a morena concordou.

— Seu Luiz se aposentou? — Disse entrando no condomínio e notando que o porteiro não é mais o mesmo.

— Sim, ele se aposentou a uns 12 anos e faleceu faz 5. — Digo com semblante triste. — Sinto falta dele, ele era um ótimo ser humano, era muito gentil comigo, cuidava de mim no tempo da faculdade.

— Sinto muito, ele era um bom homem, esse rapaz é filho dele?

— Obrigada, ele era. Não! O filho dele é cirurgião geral trabalha na Santa Casa.

Após estacionar na garagem subimos nos acomodamos no meu apartamento, pedi pra Simone arrumar as coisas dela no Closet enquanto eu preparava o almoço.

Notei que ela estava demorando então fui até o quarto depois de desligar as panelas e encontro ela no closet sentada no chão com minha caixa preta ao seu lado, escuto ela fungar estava chorando.

Querido diário!

Eu Soraya Vieira Thronicke decidi escrever para aliviar um pouco a dor que carrego em meu peito, talvez seja velha demais para ter um diário. Kkkkk. Isso nem é um diário, é apenas uma folha em branco no qual deposito algumas gotas de tinta.

Hoje faz cinco dias que eu deixei a mulher da minha vida no aeroporto sem uma resposta, ela disse EU TE AMO, assim com todas as letras no meio de várias pessoas meu coração quase saiu pela boca eu só queria correr para seus braços e abraça-la, beijar aqueles lábios macios e dizer a ela que também a amo.

Lembro perfeitamente do momento, é uma visão que está presa em minha memória se repetindo em um loop infinito, lembro do arrepio causado em minha espinha quando ela massageou meus tímpanos com aquelas três palavras, o frio na barriga, as borboletas em meu estomago voavam dando rasantes de um lado para outro, meus pés vacilaram queriam correr na direção contrária do meu caminho.

Me virei e vi ela linda como sempre, mas com um olhar triste que não combinava com aquele rosto angelical, a feição da mulher logo atrás dela me fez lembrar do porque estar indo embora, me fez virar e voltar a seguir meu caminho deixando para trás o amor da minha vida.

Todavia eu estou aqui em uma fria Berlim, com um vazio no peito e sem contato com a mulher de olhos castanhos escuros que me fez sentir viva desde que aqueles orbes encontraram as minhas.

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