II - A PRATA É O MESMO QUE FIM

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- Seus pais te deixam ter tatuagens? - foi a única coisa que o rapaz perguntou, quando viu Theo sem sua famosa camisa de mandas longas e gola alta. O Raeken se incomodava somente em estar sem a peça, mas ver o loiro encarando estava o agoniando ainda mais - São maneiras, cara - ele jogou o moletom limpo para o outro garoto - Por isso que não queria tirar a blusa?

O jovem pulou no pé da própria cama, se sentando no carpete escuro do quarto. Os livros ao redor dele, e a mancha de suco que havia caído em Theo, não tão distante, coberta por um pano de chão que tomou a coloração da bebida.

- Por que não responde minhas perguntas? - perguntou, mastigando seu chiclete enquanto falava, e movendo os materiais pela décima quinta vez, como se a qualquer momento algo fosse estar fora de lugar e ele precisaria que estivesse no lugar exato pra tudo funcionar - É tímido?

- Não - respondeu, finalmente. O mais novo sorriu, simpático.

Theo voltou para seu lugar no meio dos livros, ao lado do colega de turma.

- Repetiu de ano quantas vezes? - perguntou, normalmente. Novamente, o vazio foi sua resposta, deixando mais uma longa pitada de frustração - Okay, entendi, você só responde o que quer.

- Eu não repeti de ano - respondeu, buscando e trazendo um dos livros para perto do corpo. O moletom do estudante cabendo bem nele, por alguma razão não explicada - Só fiquei dois anos sem estudar.

- Por acaso não está tentando aquelas técnicas bestas de manipulação, né? - Theo o ignorando, mudando a atenção para a leitura - Tipo, só responder quando quer, pra agir como se tivesse controle da conversa. Porque definitivamente não vai dar certo, eu falo até sozinho, e sou um pouco hiperativo.

- Eu não estou fazendo nada, só demoro pra processar suas perguntas - ele levantou os olhos verdes para os olhos azuis - É só que você é um pouco incoveniente nas perguntas, não acha?

- Eu só estava tentando me aproximar - foi sincero, mantendo a ligação dos olhos sem problema algum. Parte de Theo anotando que não devia ser alguém normal, pessoas normalmente quebram contatos visual em menos de um minuto, se for contato com pessoas não íntimas. Entretanto, o garoto de fios loiros arrepiados, e bochechas gordas, somente sorriu - Mas talvez eu devesse começar perguntando sua idade, o que acha? Está bom, ou é incoveniente também? - foi Theo quem mudou a direção dos olhos.

- Tenho 16 anos - contou - E antes que pergunte - ele moveu a mão para os marca textos coloridos do rapaz. Mesmo que toscos, eram úteis, ele pensou - Sim, eu sou humano. E minhas tatuagens são reais.

- E teria algum problema você não ser humano? - questionou, deixando-se incomodar - Sabia que está em uma rua cheia de lupinos? - indagou, a voz mudando para uma que expressava aborrecimento. Ele tinha a mania de perguntar, e depois deduzir respostas, Theo notou. E seria difícil, muito difícil mesmo, o menino não tentar interpretar o silêncio do Raeken.

- Não tenho medo de cachorros - provocou. Ele pode ouvir a morte de palavras na boca do rapaz, e não precisava encarar o colega para saber que existia indignação. O jovem que tentava ler ele, era tão expressivo, que era Theo o entendendo mesmo sem querer, a todo tempo.

Ele ouviu um barulho de ruptura. E sua audição o guiou para os dedos avermelhados do mais novo. Dois pedaços, do que antes era uma caneta, a tinta azul vazando, manchando as garras do lobo. O loiro estava apertando tanto, que tinta não foi a única coisa escorrendo seus dedos. Havia sangue, havia raiva, vindo e transparecendo com facilidade.

- Engraçado - foi tudo que ele disse, forçando uma risada a sair pela boca, e respirando fundo, enquanto um mantra batia na sua mente.

O Sol, A Lua... E a Raiva?

Thiam - Ink Wings Boy Onde histórias criam vida. Descubra agora