Meu calmante particular.

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Voltou para o quartel e resolveu tomar um segundo banho, ele já tinha tomado mas achou que a sensação ruim passaria junto com a água.

Colocou sua camisa branca favorita, não estava nevando, o frio era suportável.

Tentou se concentrar na leitura mas sua mente estava constantemente viajando para outro lugar... Sendo assim, decidiu trocar de roupa, indo malhar um pouco. Seu banho não tão recente era um desperdício, mas tudo bem.

Correu um pouco, seguiu seu treinamento até onde seu ombro permitiu e então conseguiu esfriar um pouco a mente, para variar.

– Eu vou trocar essa porra de cadeira. — Xingou consigo mesmo ao ouvir os rangidos do assento.

Revisou os planos da última expedição, bom, seus objetivos foram concluídos mas... Erwin estava sentindo uma vontade muito estranha de mudar.

Ele passou sua vida inteira não vendo problema na morte. Afinal, a morte é algo natural e inevitável. Por que ele se sentiria mal em matar pessoas que entraram ali sabendo que morreriam?

Bom, ele não sabe, mas sentia algo sempre que via algum soldado sem vida. Vergonha, raiva... Culpa.

Negar a si mesmo os sentimentos vindos daqueles momentos, não mudaria nada.

Ele sabe disso, ele sabe que não pode deixar de pensar sobre o tempo em que foi ele passando pela dor de ver alguém importante para si ir embora.

O quão diferente do homem que levou seu pai ele é?

Afastou os pensamentos.

Ele nunca chegava em uma conclusão, ele não queria uma.
Se ele pensasse nisso demais, entenderia que é a hora de desistir daquilo e se desistisse disso, teria que enfrentar a depressão de ter passado sua vida inteira lutando por causa disso. Se despedindo por causa de algo besta.

Algo tão besta quanto uma flor.

Seu coração disparou repentinamente com o pensamento. Mas... Levi vai voltar, não? Eles vão se casar, não? Depois de tantos anos... Eles... Eles finalmente vai ficar juntos, certo?

Aquele sentimento de impotência, as mãos tremendo, seu cérebro não podendo evitar em dizer "É exatamente assim que os soldados se sentem, isso é seu karma pessoal".

Erwin era possessivo, ele sabe disso, mas todas as vezes em que sua só de pensar em perder o menor... A raiva de Petra era mais fácil de lidar, ele poderia ser frio com Levi, beber, chorar, qualquer compulsão que lhe fizesse esquecer a proximidade dos dois. Mas se Levi fosse embora...

O que ele faria se Levi fosse embora?

Apesar de tudo, todas as mortes, todos os planos, os anos em que se dedicou unicamente ao reconhecimento, parte de si realmente... Realmente queria sair daquela vida.

Tinha uma parte de seu peito que ardia em felicidade quando pensava em viver de verdade. Ter um casamento, filhos, sair com os amigos de vez em quando, passar pela tristeza boa de dizer; "Eles cresceram tão rápido!" Essa parte de si gritava quando via o capitão. Principalmente quando via o menor sofrer.

Como ele quer tirar os humanos das muralhas se não pode nem mesmo tirar o amor da sua vida daquele sofrimento?!

Ele pode fazer mil discursos que tem como fim "morram por isso" mas nunca nenhum sobre "vivam pela felicidade de viver". Ele não pode consolar um homem ferido. Ele não pode nem mesmo se declarar sem sentir a culpa por estar mentindo.

"Você é tudo para mim, eu largaria tudo por você!" Largaria mesmo?

Ele precisa respirar, ele precisa ter aquela conversa consigo mesmo sem se perder em auto-ódio e culpa.

– Você viu que o Capitão Levi saiu das muralhas só com outras quatro pessoas? — Sasha comentava com os amigos Connie e Jean. — Dizem que ele foi buscar uma prova de amor para o Comandante.

Hãm?! E o Comandante deixou? — Jean parecia chocado. — Que morrer prova amar alguém?
Ele é muito forte e isso não se pode negar mas... Bem, seu eu fosse o Comandante não deixaria.

– O Levi parece do tipo que pede permissão para alguém? — Connie falou, sem usar o título de respeito. — Mesmo que tenha que pedir desculpas, acho que ele iria mesmo assim.

– Hm... Amar é um pouco complicado, mas é verdade que arriscar sua vida por alguém é uma prova de que ama muito ela. Só não sei se é mais do que salvar... — Sasha divagou.

– Salvar com certeza é uma melhor forma. — Jean disse convicto.

O comandante que ouvia tudo a espreita, sentiu seu coração palpitar novamente.

Levi, Levi não está bem e ele sabe disso.

Correu para o quarto de Hanji, batendo freneticamente na porta.

– Oi? O que foi?? — Abriu a porta meio desnorteada.

– Porra, o Levi, ele não está bem. — Ignorou a visão de Molbit correndo para se vestir. Bom, chamaremos isso de vingança.

– Como assim?? — Perguntou ficando rapidamente preocupada.

A mulher não foi pois sabia que naquela área era incomum a existência de titãs.

– Eu não sei, mas... Mas ele não está bem, eu só sei disso. — Passou a tremer, um medo incontrolável surgiu em seu peito. — Hanji, eu vou até lá, vou ver o que aconteceu e se eu não voltar eu quero que... Que- — Ele diria "cuide do reconhecimento" se não tivesse sido impedido.

– Que nada! Eu vou com você! — Terminou de abotoar a camisa. — Vou colocar meu dmt e... Leve mais alguém, qualquer um serve.

Erwin saiu um tanto tonto enquanto pelos corredores, sua boca estava seca, e ele tinha noção de que estava suando frio.

O esquadrão especial havia ido com Levi e eles eram os únicos treinados para situações repentinas. Apesar dos novos cadetes, era isso que eles eram, cadetes.

– Comandante? Por que está tão atordoado? — Armin, um dos cadetes a quem Levi treinava perguntou.

– Armin? Por que não saiu com os seus amigos? — Perguntou tentando fingir um pouco de sanidade. Ok, agora pareço um idiota para os cadetes também.

– Nós já voltamos...

– Meu Deus! Comandante, o que houve?! — Eren alarmou, atraindo a atenção de Mikasa.

– Aconteceu algo com o capitão, não é? — A menina pareceu entrar num conflito interno antes de ameaçar um choro. — De novo não... A gente- A gente não pode fazer nada p'ra ajudar?! — Perguntou agarrando o homem pelo colarinho da camisa, foda-se, ela se desculparia depois!

– P-podem sim, na verdade... — Falei levemente sufocado. — Estou reunindo algum pessoal para ir resgata-lo comigo...

– Nós vamos!! — Soltou ele, tranquilizando o menor dos três, que ficou chocado novamente em segundos.

– P-pera, você é incrível em matar titãs mas Eren e eu não! — Armin tinha noção de que uma tropa de resgate era pequena, logo, precisa dos melhores, coisa que eles não eram quando o assunto era força física.

– Não vamos lidar com titãs, Lev- o Capitão está numa área montanhosa. — Se corrigiu. — Se algo aconteceu com eles, foi relacionado ao frio.

–  Ah... Então faz sentido. — O menor concordou.

Os três cadetes foram as arrumar enquanto Hanji reuniu a equipe de medicina.

Os nove saíram em busca de um Levi vivo. De um possível Levi vivo.

Namorados.Onde histórias criam vida. Descubra agora