Capítulo 15: É por isso que você nunca ganha

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Lorde Voldemort.

Seu rosto estava escondido pelo capuz de sua capa, mas Tom sabia mesmo assim. Havia uma atração quase física pela figura, sentida não em sua mente desperta, mas nas profundezas de sua alma fraturada. Este era o Lorde das Trevas, a aranha sentada no centro de uma teia de Horcruxes.

Seu próprio futuro.

A mão de Harry estava apertada em torno de seu pulso, apertada o suficiente para machucar. Ele também sabia, Tom percebeu.

Nenhum dos dois falou, como se temessem que isso de alguma forma atraísse sua atenção, denunciasse sua posição. Era irracional, claro. Ele não conseguiria entrar. Ele nem conseguia vê-los. O Feitiço Fidelius que Harry lançou todas aquelas semanas atrás escondia a localização exata do chalé: Voldemort poderia procurar na clareira por mil anos, passar por cada folha caída, e ainda não encontrá-lo.

E ainda...parecia que ele estava olhando diretamente para eles.

Tom estremeceu quando a dúvida se espalhou como uma respiração gelada em sua nuca. E se Voldemort pudesse usar a conexão entre suas almas para ignorar o feitiço? E se tivesse sido mal lançado? Parecia ter funcionado bem na época, mas Harry não estava confiante. Talvez Voldemort pudesse vê-los e estava apenas fingindo que não, prolongando o momento sadicamente.

Tom desejou, de repente, que a magia tomasse a forma de uma parede sólida, ou pelo menos um escudo mágico brilhante. Qualquer coisa visível serviria. Ele engoliu em seco e flexionou seus próprios dedos ao redor do pulso de Harry, segurando-o por sua vez. Se Voldemort desse um único passo em direção a eles, ele iria aparatá-los, a chance de ser estilhaçado que se dane.

Mas Voldemort não se mexeu. E então, entre uma batida de coração e outra, ele se foi.

O desaparecimento foi tão rápido e silencioso que Tom se encolheu de surpresa. Ele examinou a linha das árvores freneticamente, então girou para checar o jardim, o braço torcido desajeitadamente sobre o corpo para manter o controle sobre Harry.

Nada. Não havia ninguém lá, e o puxão sedutor havia desaparecido como se nunca tivesse existido.

Tom soltou a mão de Harry e riu de alívio vertiginoso. Ele guardou a varinha no bolso e revirou os ombros; sentindo, de repente, todas as dores da luta.

- Ele se foi?

- Ele não pode entrar.- respondeu Tom.- Se pudesse, já o teria feito.- ele ofereceu uma mão para Harry, que olhou para ela sem entender.

Houve um leve tremor em seus ombros e seus olhos estavam selvagens, voando de um lado para o outro, depois para o sangue cobrindo suas próprias mãos. Não medo de Voldemort, mas sim uma reação ao fazer sua primeira morte.

Tom não entendeu. Quando sua maldição atingiu o volumoso Comensal da Morte, tudo o que ele sentiu foi poder e triunfo, a ideia de sentir algo negativo depois de matar era estranha para ele. Afinal, ele só matava pessoas por bons motivos ou por acidente imprevisível, então não havia do que se arrepender.

Harry não parecia disposto a se mexer sozinho. Tom se agachou e colocou os braços sob as axilas para levantá-lo. Harry não resistiu e apoiou-se nele enquanto caminhavam pelo jardim até a porta da frente.

Uma vez dentro do chalé, Tom enganchou uma cadeira com o pé e jogou Harry nela. Ele colocou a chaleira para ferver e usou sua varinha para encher um balde com água. O sabonete havia sido deixado perto do riacho, mas havia uma barra sobressalente no armário da cozinha à esquerda.

Quando ele voltou para a mesa, Harry estava caído em sua cadeira como uma marionete com suas cordas cortadas. Tom suspirou e arrastou a outra cadeira. Sentou-se de frente para ele, o balde cheio segurado cuidadosamente entre os joelhos. Harry observou frouxamente enquanto ele levantava uma esponja com água morna e sabão para enxugar o sangue respingado em seu rosto. Era uma tarefa que ele poderia ter feito com magia, mas Tom teve o impulso de fazer do jeito trouxa. Um ato ritualístico e eterno.

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