29 - Ele vai pagar. Eu prometo!

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Pov's Simone

Você não vai chorar.
Você não vai chorar.
Você não vai chorar.

Eu passei mais de meia hora, repetindo isso em minha cabeça. A dor pela perda do meu pai, dilacerava meu peito e eu só queria sentar e chorar.

Chorar até que a dor passasse, queria acordar e ver que foi tudo um sonho ruim, que meu pai estava bem. Mas não era possível. Não foi a primeira vez, quando perdi Susan e implorei aos céus para que me levassem também.

- Filha? - Minha mãe chamou, botando a cabeça para dentro do meu quarto. Ela estava arrasada, o rosto inchado e o vermelho denunciavam o choro. Ela o amava tanto, eu o amava tanto.

Infelizmente a vida tem dessas coisas, pessoas boas se vão e as más... Elas ficam e aproveitam a vida até morrerem de velhice. Não parecia justo pra mim.

- Está doendo tanto. - Ela voltou a chorar em meus braços. - Eu não vou saber viver sem ele.

Meu sangue fervia na veia, e a raiva me impedia de ter compaixão pelo estado de minha mãe. Minha cabeça estava longe, eu não queria saber do enterro de meu pai, só queria acabar com o cretino que o matou.

Não só pelo meu sofrimento, mas pelo de minha mãe também. Ela era uma pessoa tão especial, que não merecia passar por um momento tão difícil, ela não merecia sofrer tanto. Nenhum deles merecia.

- Vai ser muito difícil, mãe. - Falei, alisando seus cabelos. - Mas eu vou estar do seu lado, eu vou cuidar de você, como o papai cuidaria.

Ela sorriu, e alisou meu rosto de maneira carinhosa, como sempre fazia quando estava triste.

- Sabe, eu fico muito feliz por ter você, meu amor. - Sua voz soava baixa - Ramez se apaixonou por você, no primeiro momento em que te viu. Assim como eu. Você tem uma luz, uma paz. Obrigada por ser minha filha.

Engoli o nó que se formava em minha garganta, não podia chorar, já tinha derramado todas as lágrimas possíveis.

- Eu te amo, mãe.

- Eu também te amo, meu anjo.

A pequena capela do cemitério, estava lotada de pessoas, a maioria desconhecida aos meus olhos. Empresários, amigos, familiares, conhecidos e... A família Gonçalves.

- Mas que merda é essa? - Todos olharam para mim, e notei que tinha pensado alto.

Soraya estava ao lado de Janja, e me lançou um olhar preocupado, ignorei.

Aquela família não tinha o direito de estar ali, não no velório do meu pai. Era um momento de dor, a hora do adeus definitivo. E a presença de Eduardo, só me deixava ainda mais irritada.

Caminhei até eles, segurando minha vontade de socar todos eles, e parei em frente a Janja, que me olhava daquela maneira irritante de sempre.

- Vieram ver o estrago que causaram? - Perguntei, ignorando os olhares de Soraya. - Estão satisfeitos?

- Eu sinto... - Morgana começou a falar, mas eu a interrompi.

- Sente mesmo? Você ficou parada, enquanto meu pai morria na sua frente. - Minha voz era baixa, mas bastante ameaçadora. - E agora vem me dizer que sente muito?

- Viemos em solidariedade. - Janja falou.

Eu ri. Uma risada alta, sem humor, amarga, que chamou a atenção de todos.

- Vá para o inferno! - Rosnei. - Você, sua família e quem mais quiser. Não preciso da solidariedade de vocês.

Eduardo deu um passo para frente. Se ele soubesse o ódio que eu sentia, ficaria longe, muito longe.

- Eu realmente sinto muito. - Falou em voz baixa. - Eu não sabia que era seu pai. Ele entrou na minha casa e me agrediu.

- Isso era motivo para deixá-lo morrer?

- Não. Eu fui imaturo e tolo. - Fiquei em silêncio, tentando controlar meus impulsos. - Olha Simone, eu não quero que fique um clima ruim entre nós. Na verdade, eu estou passando por uma crise, não posso perder mais nenhum cliente.

- Fica tranquilo. - O cortei. - Essa vai ser a menor das suas preocupações. Ah, e anota mais uma morte na sua conta.

Ele me encarou com os olhos arregalados, parecia que não estava me entendendo direito, mas tudo não passava de teatro.

Ele sabia.

E eu estava cansada de brincar de pique esconde, cansada de me segurar na máscara de Simone Tebet. Eu queria matá-lo, e queria que ele soubesse que era eu. Lara. A menina que ele desacreditou, que ele diminuiu.

Soraya se aproximou, e me puxou para longe deles.

- Eu tentei evitar isso. - Falou, olhando em direção a família Gonçalves.

- Tire ele daqui, antes que eu perca a cabeça e o enterre no lugar do meu pai.

- Eu sei que está difícil pra você, mas para de ser egoísta e pensa um pouco no seu pai. - Ela elevou um pouco a voz. - Aqui não é lugar de briga, esse não é o melhor momento.

Virei as costas para ela, e caminhei até o caixão fechado.

Já fazia três dias sem ele, eu não pude ver seu rosto pela última vez, aquela era minha última chace para me despedir. Soraya estava certa, não era a hora e muito menos o lugar.

Precisei amparar minha mãe por diversas vezes, ela estava desesperada e mal se mantinha de pé.

Eu estava me sentindo mal por não conseguir expressar nenhuma reação. Era como um bloqueio de emoções. Elas estavam lá, eu podia senti-las e tinha vontade de demostrar, mas não conseguia.

Não conseguia chorar, gritar ou espernear quando fecharam o túmulo de meu pai. Eu só assistia a tudo, com uma dor imensa no peito, uma vontade de chamar por ele, mas me sentia congelada.

"Eu sei que pode me ouvir, sei que de onde está, você pode me escutar. Me dê forças pai, me ajuda a passar por esse momento. Eu preciso ser forte pela mamãe, por mim também. Pode não parecer, mas tá doendo muito. Eu faria qualquer coisa pra essa dor passar, pra te ter de volta... Qualquer coisa. Me perdoa tá? Por tudo. Por não ter sido a filha que você merecia, por não ter passado mais tempo ao seu lado. Eu sinto tanto... Eu te amo pai. E o desgraçado que te tirou de mim. Ele vai pagar. Eu prometo!"

REVENGE - Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora