24 - Hoje você vai conhecer Lara Almeida.

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- Não precisa ficar ai, olhando de longe.

Soraya se assustou com a voz. Ela estava um tanto distraída, olhando Simone através do vidro. Desde que o médico permitiu a entrada de parentes, Simone não tinha saído do lado do pai, e Soraya não tinha saído da parede de vidro.

- Acha que vai acabar tudo bem? - Perguntou a Fairte, que se juntou a ela.

- Eu não sei. - Ela sorriu. - Ramez já está cansado, não sei se tem forças pra continuar.

Soraya bufou baixo, e voltou seu olhar para Simone. Ela estava sentada ao lado do pai, segurando sua mão e sussurrando algo que Soraya não conseguia ouvir.

Por mais que não aparentasse, ela imaginava a dor que Simone estava sentindo, e queria poder impedir que ela sofresse.

- Ela gosta muito de você. - Fairte sussurrou

- Duvido muito. - Retrucou, se lembrando da ameaça que recebeu mais cedo.

- Não deveria duvidar. Ela disse, depois de uns segundos de silêncio. - Simone só tem um jeito torto de amar, não quer dizer que ela não ame.

Soraya olhou para Fairte, e logo voltou a olhar para dentro do quarto.

Simone a amava?

Parecia um tanto improvável para ela. Que ela gostava, ou sentia algo por ela, era óbvio, mas amar?

Então Soraya se fez uma pergunta.

O que era amor?

Ela amava Simone?

A resposta veio no momento em que seus olhares se cruzaram.

Sim.

Ela amava a mulher decidida dos olhos tristes. Ela amava o jeito que ela torcia os lábios, quando algo não a agradava. Quando ela a arranhava na hora do prazer, ou quando erguia a sobrancelha.

O sorriso discreto, o debochado, o malicioso, e o que ela mais gostava, o sorriso sincero. Aquele que ela raramente mostrava, e que a deixava tão linda.

Ela era fodidamente apaixonada por Simone.

- Eu amo a sua filha. - Ela admitiu, fazendo Fairte sorrir de maneira maternal.

- Por que não diz isso a ela? - Perguntou, dando uma batida leve no vidro. - Leva ela pra se distrair um pouco.

Simone saiu do quarto, bem contrariada, mas obedeceu a mãe.

Ela parecia muito cansada, estava com uma expressão estranha no rosto e umas olheiras enormes.

- Vai com a Soraya. - Fairte disse para a filha. - Está tarde, você precisa descansar.

- Eu vou ficar, não preciso descansar. - Disse, fazendo pirraça.

- Simone, está decidido! - Fairte falou, com delicadeza e seriedade - Eu fico com seu pai, e você vai pra casa.

Simone queria dizer não, e ficar ao lado do pai. Queria gritar com Fairte, dizer que não era mais uma criança e que não seguiria ordens. Mas viu o sofrimento da mãe, o cansaço que abatia, a sempre perfeita, senhora Tebet. Ela não queria causar mais problemas, então aceitou as ordens da mãe.

- Me liga. - Pediu. - Qualquer coisa, um espirro, me liga. Por favor.

- Pode ficar tranquila, amor. - Fairte abraçou a filha. - Vai ficar tudo bem.

Soraya acompanhou Simone até em casa, e novamente, o caminho foi feito em silêncio. Ela preferiu prestar atenção na estrada, e Simone estava perdida em pensamentos.

Simone parecia perturbada, como se algo, além do estado do pai, a estivesse atormentando.

- Está entregue. - Disse, assim que chegaram ao apartamento de Simone. - Você vai ficar bem?

Ela não respondeu, porque não sabia o que responder. Não sabia se tudo ficaria bem, se ela ficaria bem. Ela queria acordar, e ver que estava num pesadelo horrível, mas que não passava de um sonho ruim.

Ela não convidou Soraya para ficar, mas também não disse pra ela ir. Na verdade, ela não disse nada, e isso a preocupou. Ela estava quieta demais, e para o momento que estava vivendo, isso era ruim.

Simone pareceu não se importar com a presença de Soraya, ela correu para o seu quarto e agarrou Teddy.

Se sentia com cinco anos novamente, via alguém que amava partir, e não podia fazer nada. Ela não queria sair do hospital, porque da última vez que deixou alguém, recebeu uma notícia ruim depois.

Foi assim com Susan, estava sendo assim com Ramez. Ela estava vivendo um inferno, e parecia que não ia parar nunca, que ela nunca teria paz.

Por que Ramez tinha que ter ido atrás de Eduardo?

Por que não deixou que Simone resolvesse?

Ela se sentia culpada, pensava que se não tivesse contado ao pai, ele ainda estaria ali, cheio de vida ao lado dela e da mãe.

- A culpa é minha. - Ela sussurrou pra si mesma.

- Ou, não se torture tanto.

Soraya estava observando ela, viu quando ela se agarrou ao velho urso e a ouviu se culpar pela situação do pai.

- Essa nem parece a Simone que me ameaçou no hospital. - Ela sorriu, tentando animá-la e falhando miseravelmente.

- Você não me conhece, não sabe nada sobre mim.

Ela revirou os olhos, reconhecendo a tática dela. Aquele era o jeito dela se defender, atacando e mantendo as pessoas longe. Não funcionaria, não naquela noite.

- Bom, eu conheço um pouquinho. - Disse, se juntando a ela na cama. - Eu sei que sua cor preferida é azul, e que você odeia rosa.

Simone olhou para ela, que sorriu e continuou.

- Sua comida preferida é lasanha, você ama o bombom sonho de valsa e é alérgica a abacaxi. Eu sei que odeia filmes de romance, poque acha bobo. E prefere o frio ao calor. Você odeia flores, mas adora ursos e filhotes.

Simone sorriu melancólica, ouvindo Soraya contar detalhes da vida dela, coisas que quase ninguém sabia.

Mesmo mostrando saber muito, Soraya não sabia de nada. Ela queria contar as mesmas coisas que contou a Ramez, mas não teve coragem.

Simplesmente não conseguiu dizer a ela, que aquela mulher que ela conhecia tão bem, não existia. Que ela não passava de uma casca, usada para esconder uma menina indefesa e rancorosa. Soraya era a única capaz de fazer com que se sentisse bem, a única que a entendia e ela não queria perder isso.

- Soso...

- Eu sei que está sendo difícil, mesmo você fazendo questão de esconder. Eu te conheço, sei quando...

- Não. - A interrompeu. - Você não me conhece.

Simone pulou da cama e voltou a vestir o smoking de Soraya.

- Aonde você vai a essa hora? - Ela perguntou, seguindo-a pela casa.

- Eu não. Nós. - Falou, pegando as chaves e abrindo a porta do apartamento. - Tenho que te mostrar uma coisa.

- Precisa ser agora?

- Precisa. - Ela a puxou para fora, trancando a porta atrás de si. - Hoje você vai conhecer Lara Almeida.

REVENGE - Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora