23 - Eu não ameaço. Eu cumpro!

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O caminho até o hospital, foi feito em absoluto silêncio. Simone estava bem quieta, encolhida no seu canto, perdida em seus pensamentos. Soraya queria poder abraçá-la, olhar em seus olhos, e dizer que tudo ficaria bem, mas não podia. No fundo, ela sentia que nada ficaria bem, e isso a assustava. Ela tinha medo do que poderia acontecer com Simone, ela era tão agarrada ao pai. Ela também estava preocupada com Eduardo, e a familia Gonçalves. Se Simone descobrisse o que Eduardo fez, o que Morgana fez... Não, ela não queria pensar sobre aquilo.

Não quando estava começando a ver Simone de outra maneira, do outro lado da linha, como uma pessoa boa e com sentimentos.

Ao chegarem no hospital, Simone correu para dentro, sem nem se importar com os trajes que usava.

Saíram de casa tão rápido, que Soraya não tinha notado que ela estava com seu pijama de bruxinhas. Pijama que se resumia, a um shortinho de ceda roxo, e uma blusinha da mesma cor, ambos estampados com pequenos chapéus de bruxa.

Podia parecer infantil, mas Soraya se incomodou, e muito, com os olhares que Simone recebeu pelo caminho.

Aqueles homens não tinham o direito, de olhar para ela daquela maneira.

Soraya correu até ela, e jogou seu paletó por cima do pijama. Não era muita coisa, mas pelo o paletó ser mais grande do que o tamanho certo de Soraya, ele iria cobrir boa parte das coxas de Simone.

Simone a encarou com um olhar sugestivo, mas não disse nada e correu até a recepcionista.

- Eu gostaria de saber sobre um paciente. - Simone falou apressadamente, enquanto tentava não pular na recepcionista. - O nome dele é...

- Simone.

Ela se virou, e viu a figura da mãe.

Fairte estava pra lá de abalada. Seus cabelos castanhos, sempre tão arrumados, estavam uma bagunça. Assim como o rosto, manchado com a maquiagem. Pela postura de Fairte, dava para imaginar o estado de Ramez, já que ela parecia carregar o mundo nas costas.

Simone correu até a mãe, e a abraçou forte, desejando não ter que sair dali e encarar a verdade.

Soraya observava a cena de longe, e com certa emoção. Seria muito bonito, se não fosse a ocasião. Ela estranhou, o fato de Simone não derramar uma lágrima.

Soraya havia chorado, Fairte mal se aguentava em pé, mas ela não. Simone mantinha a mesma postura de sempre, e se não fosse o desespero em seus olhos, Soraya juraria que ela não estava preocupada.

- Minha filha. - Fairte soluçou.

Fairte queria dizer algo que confortasse a filha, ou a si mesma, mas lhe faltou palavras. Ela acompanhou de perto o problema de Ramez, as idas ao médico e as pequenas crises. Ela sabia que o marido não suportaria uma crise mais forte, e por isso, orava para ter sido algo mais leve.

- O que aconteceu, mãe? - Ela perguntou. - Você estava com ele?

- Não, não. - Fairte tentou se acalmar. - Ele tinha saído, disse que tinha negócios para resolver. Depois recebi a ligação da So e...

- So? - Simone se intrigou. - O que a Soraya estava fazendo com o papai?

- Eu não sei.

Simone procurou Soraya pela recepção do hospital, e a encontrou perto da porta, encostada em uma pilastra e com o olhar perdido.

Algo se acendeu dentro de Simone, e uma raiva imensa tomou seu corpo. Ramez não tinha negócios relacionados a Soraya, eles não tinham por que estar juntos... A não ser, que...

Simone foi até ela, e a despertou com um tapa ardido em seu braço.

- O que você não me contou?

Os olhos castanhos, praticamente cuspiam fogo, e os punhos fechados, mostravam que ela já sabia a resposta.

Soraya não queria que ela soubesse, não enquanto estivesse tão nervosa, mas como sempre, não conseguia esconder nada dela.

- Te contei tudo o que...

- Eu não sou idiota. - Rosnou, dando outro tapa nela. - Ou você me conta, ou eu descubro sozinha.

Soraya bufou derrotada, ela não podia medir forças com Simone.

- Ele estava na casa do Eduardo.

Soraya chegou a pensar que Simone explodiria na frente dela, ainda mais depois de seu rosto adquirir um tom forte de vermelho.

Novamente Eduardo.

Era quase engraçado, como tudo que acontecia de ruim na vida de Simone, passava, de algum modo, pela família Gonçalves. Ela queria pegar o revólver em baixo do seu colchão, ir até a casa daquele maldito e explodir aquela cabeça oca.

Simples assim.

Mas não podia, não enquanto o pai estava no hospital, lutando pela vida.

- Diz alguma coisa, vai. - Soraya a sacudiu, tirando-a do transe.

Simone sorriu de lado e olhou nos olhos de Soraya, de uma maneira um tanto assustadora.

- Se acontecer algo de ruim com meu pai, eu vou atrás dele. - Disse pausadamente. - E depois mato você.

Naquele momento, Soraya desejou que ela não tivesse dito nada. Não que acreditasse nas palavras vazias de Simone, mas porquê não queria ter recebido aquele olhar ameaçador.

- Está me ameaçando? - Ela sorriu.

- Eu não ameaço. - Ela falou, virando as costas e indo na direção da mãe. - Eu cumpro.

REVENGE - Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora