o devaneio

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Um pouco antes das 23h59, uma onda gelada de vento sopra contra as minhas bochechas.

— Nossa, que frio que bateu agora — digo, e ele chega para mais perto de mim, dobrando seu braço ao meu redor.

— Melhorou.

Uma quietude se abate sobre o ambiente por um breve momento. É quase Ano-Novo e a rua à nossa frente está completamente vazia, tingida por tons cinzentos e de azul-escuro. Somente um poste de luz funciona, na virada da esquina, e o semáforo pisca em amarelo, como se, assim como nós, também estivesse no limite daquele tão aguardado instante de passagem livre.

Ele pende a cabeça pro lado e diz:

— Lembra de horas atrás, quando a gente se conheceu na seção de frios do mercado e você me chamou de intrometido? Agora tô te abraçando na calçada dele. A vida é engraçada.

"Sim, de fato, a vida é engraçada", penso. E realmente: tinha conhecido ele na seção de frios do mercadinho da esquina do meu bairro.

Velho ano-novoOnde histórias criam vida. Descubra agora