Em determinado momento, acho que a maconha bateu.
— Sabe quando você manda uma mensagem e uma palavra vai errada? Tipo, muito errada. Tipo, você queria dizer "música", mas diz "mkausis", ou sei lá?
— Sim.
— Esses dias isso aconteceu comigo e percebi que é tão sobre a ansiedade e a pressa que eu tenho para me expressar sobre tudo.
— Ah, acho que todos nós temos, né?
— Sim, estou tentando dizer "Eu" porque lembrei de um vídeo da JoutJout sobre como a gente sempre fala "a gente", "nós", para fazer uma crítica a algo pessoal que nem sabemos se as outras pessoas também fazem, ou pensam, ou sentem. E eu fiz isso durante toda essa minha fala, percebi isso agora. Enfim... a gente quer tanto dizer o que pensa logo e também responder tão rápido, que escreve tudo correndo e aperta em enviar sem parar para ler o que escreveu, ou não tem a paciência pra corrigir, ou sei lá.
Acredito que liguei algo dentro de Juliano, porque ele se derramou em um desabafo raivoso e irritado logo em seguida:
— A gente... Quer dizer, eu, ou nós... Ah não, quer saber? Foda-se. A gente mesmo, porque toda nossa geração é assim e a gente sabe. Nós somos essa bola de pressa, ansiedade, falta de foco, querer tudo no mesmo segundo e, em seguida, estar cansado de tudo, sem querer nada, e cometer erros porque não queremos parar, pensar, se controlar. Tipo, eu sei que antes era ruim. Que nossos pais e avós e tudo mais viviam num mundo cheio de regras e doutrinas problemáticas e limitadoras da vida humana, que estavam infelizes o tempo todo, fingindo que estavam bem porque não tinham outra opção e também era mal-educado ser infeliz... Mas, meu Deus! A nossa geração perdeu a mão demais. A gente quer fazer tudo e viver tudo, e ser livre, e se divertir, e ser feliz, e realizar todos os sonhos e desejos, e simplesmente não dá pro nosso cérebro processar isso. E também a gente não acha mais mal-educado ser infeliz, então quando nosso cérebro não processa e dá tudo errado, a gente fica infeliz e deprimido, e faz questão de deixar isso claro, e mostrar isso, e tuitar sobre, e postar músicas de artistas deprimidos no stories do Insta e...
— Sim... sim.
— Não.
— Sim, não.

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Velho ano-novo
RomanceTodo ano é igual na vida de Gregório, mas algo parece prestes a mudar quando ele conhece Juliano no mercadinho do bairro na noite de Réveillon.