o parente distante

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— Eu queria muito ser "o parente distante", sabe? Que é o que eu sou mesmo, já que nunca vou aos eventos da família e não tô no grupo do WhatsApp. Mas sabe aquele primo que você nunca vê e não faz ideia da vida dele, e que, de vez em quando, tem um vislumbre de como ele tá e quem ele é? Talvez porque uma tia fofocou sobre numa manhã de Natal, ou o perfil dele foi sugerido pra você no Facebook. Geralmente ele vai parecer diferente dos membros da sua família, ele vai ser meio rockeiro, ou vai ter tatuagens, ou vai cursar computação. Você vai até se interessar e se identificar com ele por uns minutos, pensando que não é o único introvertido, a única ovelha negra da família, mas na realidade você é, porque ele só tem essa figura na superfície. E quando você o conhece na noite de Ano-Novo, instantes antes de fugir da ceia, ele age como todos da sua família agem e é só broxante. Enfim... Apesar disso, gosto da ideia de ser o parente distante pro restante da família também no futuro. Porque o parente distante é sempre aquele primo da sua idade que cresceu quietão, tranquilo e em paz, foi viver a vida dele quietão, tranquilo e em paz, sem se importar muito com nada. Não seguiu exatamente tudo o que seus tios propuseram a ele, mas ainda deu orgulho, porque conseguiu se mudar e se sustentar, vivendo do jeitinho dele. E ninguém poderia falar muito mal dele, pois é um rapaz bom e reservado. Ele não ligaria também se falassem. E também seria uma inspiração para o priminho ansioso mais novo. Enfim.

— Nossa. Não entendi nada do que você disse, Greg.

— Nada. Só odeio o Calebe.

Velho ano-novoOnde histórias criam vida. Descubra agora