Juliano estava me mostrando os grupos de bate-papo dele, todos encharcados com mensagens não vistas. Por vez, revelei para ele que eu não era muito bom com o aplicativo também.
— Eu sou terrível com o WhatsApp, tem tantas pessoas que eu deixei no vácuo no primeiro semestre do ano, e agora já vamos pra outro ano.
— O WhatsApp é terrível. Eu não vejo a hora disso cair em desuso e o MSN retornar à moda. Aquilo sim era bom.
— Nossa, mas eu odiava a figurinha do garoto branco careca abaixando a bermuda e soltando pum na tela. Extremamente de mau gosto!
— Não era uma figurinha, isso não existia ainda. Quer dizer, não digitalmente, pelo menos. E eu digo que o MSN era bom porque você não era obrigado a conversar com as pessoas vinte e quatro horas por dia. Sério, lembra como funcionava? Você entrava às oito e meia da noite e ficava ausente às nove para ir ao banheiro; voltava às nove e cinco e nove e meia você dizia que ficaria offline para só retornar no dia seguinte. Era perfeito. Você vivia a vida e conversava com outras pessoas por um breve momento. Não tinha prisão, não existia vácuo ou pressão...
— Não existia conversar com todo mundo que existe o tempo inteiro em conversas que nunca acabam.
— Não existia grupos com quatrocentas mensagens que você perdeu porque esteve fora por uma hora.
— Não existia "ghosting".
— Exato! Meu Deus, ghosting é um termo tão irritante.
— Hoje em dia, todos os termos são irritantes.
— Todos?
— Todos.
— Eu gosto de "brainstorm", me sinto como um estudante de Marketing.
— Por que alguém gostaria de se sentir como um estudante de Marketing?

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Velho ano-novo
RomanceTodo ano é igual na vida de Gregório, mas algo parece prestes a mudar quando ele conhece Juliano no mercadinho do bairro na noite de Réveillon.