Velho ano-novo

a maconha

— Você não tinha mesmo nenhum lugar para ir hoje à noite?

— Eu tinha. Alguns amigos me chamaram para viajar à praia com eles, mas deixei todo mundo no vácuo e fugi. Como eu disse: sou péssimo com o WhatsApp.

— Mas então, neste caso, não era sobre o WhatsApp, né? Você só não queria estar com eles hoje.

— Acho que sim, mas não sabia como dizer. Que tipo de amigo horrível não quer passar o Ano-Novo com os amigos?

— Eu. E várias pessoas. Na verdade, acho que a maioria das pessoas não passa o Ano-Novo com os amigos.

— Eu acho mais fácil recusar o convite da minha família.

Juliano riu.

— Também.

— Sou um pouco obcecado com agradar às pessoas. Ou com não ter que sentir o desconforto de desagradá-las. Não sei...

— Sei. Mas não é desconfortável pra você quando você mesmo se desagrada?

— Talvez, mas sinto que sei lidar melhor com os desagrados da vida do que todo mundo que eu conheço. Eu só aceito que as coisas não são do jeito que gostaria que fossem e sigo em frente. Agora, os outros... todo mundo questiona, briga, discute, cobra. É tão dramático. Eu sou de câncer, eu que deveria ser tão dramático!

— Olha, por toda a minha vida tive dessas amizades em que eu era o único amigo da relação. E as pessoas ainda me perguntam por que eu me afasto delas. As pessoas são sem noção mesmo, Gregório. Elas não têm noção de si mesmas, ou dos outros. Você não deveria se importar muito em deixá-las confortáveis, porque elas já estão preocupadas em fazer isso consigo mesmas e não passa pela cabeça delas que você se importe tanto. Ou talvez passe, e elas se aproveitam disso também. Bem possível. Você fuma? — perguntou.

— Não fumo, mas se você quiser, não me importo.

— Ahá, tá vendo? Você provavelmente odeia fumaça e cheiro de cigarro, mas quer me deixar confortável.

— Não, juro que não, bobão. Não ligo mesmo.

Juliano puxou um pedaço de seda do bolso esquerdo e balançou no ar para mim.

— É maconha, de qualquer jeito.

— Maconha?

— Isso. Você fuma?

— Nunca fumei.

— Hum. Você devia.