Nós escutamos música no Xiaomi velho e quebrado do Juliano. Ele tocou "Cry Baby", do The Neighbourhood, para mim, e eu apresentei a Fiona Apple para ele. Então, a gente ouviu Liniker e Milton Nascimento quando Juliano criticou o fato de que a gente só estava ouvindo norte-americanos branquelos.
— Ok, tá. Ouve isso aqui.
— De quem é? Qual nome?
— É da Phoebe Bridgers. Norte-americana branca de novo. É um cover, na verdade, não é uma música original dela.
Eu dou play em "That Funny Feeling", e o toquinho de violão ressoa no ar da calçada fria e vazia. Juliano balançou a cabeça enquanto ouvia e eu rumorejei a letra da música bem baixinho.
Ele me olhou nos olhos e eu abaixei a cabeça, sentindo vergonha de continuar cantando. Juliano colocou a ponta dos dedos no meu queixo e levantou minha cabeça. Eu pisquei, nervoso. A mão dele cheirava a hidratante de morango, chips de batata-doce e cachaça. Ele se aproximou, conforme o refrão da música ia entrando. O nariz dele tocou no meu. Senti o seu bigode contra minha bochecha. Aguardei.
Então, nós nos beijamos. Com calma e aleatoriedade, assim como a música que tocava.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Velho ano-novo
RomansaTodo ano é igual na vida de Gregório, mas algo parece prestes a mudar quando ele conhece Juliano no mercadinho do bairro na noite de Réveillon.