a realidade

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— Feliz Ano-Novo, Gregório!

Quando o relógio finalmente bate meia-noite, Calebe é o primeiro da família a vir me abraçar, me tirando dos meus devaneios. Eu me levanto do banquinho encostado na parede da varanda e paro de olhar para a esquina. Acho que passei as últimas três horas sentado ali, praticamente alheio ao barulho de fofoca e da comida sendo mastigada que vinha da minha família reunida.

Daqui da varanda da minha tia, no terceiro andar do casarão que ela possui, é possível ver grande parte do nosso bairro: o parquinho da creche onde meu priminho estuda, o posto de gasolina onde meu pai sempre para a caminho da igreja, o mercadinho da esquina onde minha mãe me fez ir mais cedo comprar três garrafas de refrigerante de uva, porque aparentemente é o sabor preferido de todos os meus parentes.

O mercadinho fechou assim que eu saí de lá. Eu e o garoto bonitinho de tranças que estava comprando uma garrafa enorme de água.

Ele era bonito e parecia ter a minha idade. Quando abrimos a geladeira ao mesmo tempo, nossas mãos se tocaram por meio milésimo de segundo. Claro que, provavelmente, ele nem reparou, ou se importou com isso. Mas eu sim. Eu meio que gostei, me causou emoções.

Emocionado. Sou de câncer.

Eu devia ter puxado assunto, parecia alguém interessante.

Enfim.

Espero que ele esteja tendo um Ano-Novo melhor que o meu.

Velho ano-novoOnde histórias criam vida. Descubra agora