Questionei o intrometido, antes de qualquer coisa:
— Então, por que você tá passando sua véspera de Ano-Novo na calçada de um mercado, bebendo a cachaça mais barata que havia no refrigerador?
— Provavelmente pelo mesmo motivo que você.
— Eu só me sentei aqui pra conversar com você por um segundo. Eu tenho mais o que fazer no Ano-Novo.
— Como é o seu nome?
— Não quero te falar.
— Ok, "não quero te falar". Você não mente muito bem, e pode apenas ser sincero, afinal, a gente tá na mesma.
— A gente não tá na mesma.
— E o que você tá fazendo por aqui?
— Hum. Verdade. Tchau.
Nesse momento, realmente me levantei e saí do estacionamento com meus chips de batata-doce. Alguns segundos depois, voltei. Ignorei o olhar dele no processo da minha caminhada até a porta automática da mercearia.
— Voltou?
— Vou comprar mais bebidas. Não que eu tenha que te explicar.
De modo sério, entrei no mercado e comprei mais bebidas. Quando saí de novo, havia três garrafas de chopp de vinho debaixo do meu braço esquerdo.
— Comprou? — A voz dele ressoou quando passei reto pelo seu corpo na calçada.
— Sim. Boa noite, tenha um feliz Ano-Novo.
Nem mesmo olhei para o seu rosto e segui até o fim do estacionamento, parando somente quando o escutei berrando:
— Não vai dividir essas aí comigo também? Que ano novo egoísta e solitário você vai ter!
"Ah, vai se foder!" — fiz o mesmo caminho inteiro de volta. Mais uma vez. Eu sabia o que estava fazendo, só não queria aceitar.
O idiota estava sorrindo quando cheguei mais perto.
— Qual o seu nome?

VOCÊ ESTÁ LENDO
Velho ano-novo
RomanceTodo ano é igual na vida de Gregório, mas algo parece prestes a mudar quando ele conhece Juliano no mercadinho do bairro na noite de Réveillon.