Amanda voice's
Era 23:00 da noite de uma sexta-feira,eu estava no meu quarto assistindo a algum filme do Adam Sandler,enquanto comia um enorme balde de pipoca e procrastinando mais um dia da minha vida,assim como havia feito na últimas semanas.
Os meninos estavam lá embaixo na sala de jogos,aproveitando o tempo do pai em casa,tendo a famosa "noite dos meninos" e isso não incluía a mim,nem a Ísis.
Eu estava com 38 semanas e 5 dias,na minha última consulta minha médica falou que não teria problema se ela nascesse agora,mas achava que Ísis só nasceria com as 39 semanas,o que me tranquilizou bastante e o que fez criar um bolão na nossa família,de quantas semanas ela nasceria.
Na madrugada de ontem pra hoje eu havia sentido algumas sensações diferentes e consultei a minha médica que confirmou as contrações de treinamento,inclusive minha barriga ficava bem rígida durante um tempo,Júlia pediu que eu não me assustasse e isso era sinal que estava mais perto do que imaginávamos.Durante o dia eu senti dores semelhantes a cólica e algumas dores nas costas,mas presumi que fosse pelo peso da barriga,e também esses desconfortos no final da gestação seriam frequentes,porém não era nada que me impedisse de seguir o dia,até por que segui minha rotina normal.
Resolvi finalmente me levantar e ir até os meninos,que estavam na parte debaixo da casa,me espreguicei ainda deitada e quase desisti da ideia de sair da cama.
—E se eu ficar deitada só mais um pouquinho.
Falei no meio das cobertas,com a minha filha que estava na barriga.
—Coragem Amanda.
Respirei fundo e sentei na cama procurando meus chinelos para poder levantar.
Firmei meus pés no chão e quando levantei desliguei a televisão e dei o primeiro passo,então senti uma grande quantidade de líquido descendo pela minha perna.
—Tá tonta Amanda,fazendo xixi na roupa.
Falei comigo mesma.
Passei a mão pela perna e aquilo não parecia urina,a poça no chão se formou e foi aí que minha ficha caiu.
—Só pode ser brincadeira.
Eu falei rindo comigo mesma.
Respirei fundo e tentei me acalmar,agora era sério e não tinha mais volta,minha filha iria nascer.
Coloquei as mãos na cabeça e tentei raciocinar,não queria assustar os meninos e muito menos me assustar.
Procurei o número de Thiago e pedi que ele subisse,quando desliguei a ligação,já mandei mensagem pra minha médica.
Enquanto isso já avisava no grupo da família que minha bolsa havia estourado,não queria deixar ninguém desinformado.
—Oi amor.
Thiago colocou a cabeça pra dentro do quarto e eu sorri pra ele e logo após olhei pra poça em minha volta,ele acompanhou o olhar.
—Amanda,que isso?Tá' mijando nas calças?
Ele falou na maior inocência e eu revirei os olhos.
—Minha bolsa estourou.
Eu disse.
—Aquela que eu te dei de presente?
—Thiago,a minha bolsa estourou.
—Eu já sei amor,mas me fala qual.
Ele falou impaciente.
—Seu idiota,a minha bolsa estourou.
Falei fazendo gestos com a mão e apontando pra poça.
—AI MEU DEUS,ESSA BOLSA?
Colocou a mão na cabeça e fez cara de espantado.
—Finalmente você entendeu.
Revirei os olhos com sua lerdeza.
—Vamos pro hospital Amanda,que calma é essa?Meu Deus do céu,aonde está as malas?
Ele falou desesperado.
—Amor,calma.
Falei rindo da cara dele.
—Eu vou tomar banho e você vai colocando as malas no carro.
O orientei.
Entrei no banheiro,o mesmo banheiro que descobri a gravidez,encarei o espelho e vi o tanto que mudei desde que ela chegou na minha vida, havia muitas mudanças,pés inchados,quadris e pernas extremamente largos,seios maiores e até mais estrias e uma barriga enorme,mas quando falo de mudanças vai muito além do físico.
Os episódios de hoje mudariam a minha história pelo resto da minha vida,as marcas de gerar uma vida.
Eu hoje poderia enfatizar o quanto sou realizada por tudo que vivo,me pergunto se sou merecedora de tanta felicidade.
Me despedi daquele corpo que foi casa do amor da minha vida por 9 meses e permiti me parabenizar por ter sido tão forte,eu demoraria a me acostumar a não tê-la mais dentro de mim,mas me confortaria em saber que estaria aqui fora recebendo muito carinho.
E realmente havia chegada a hora,toda a ansiedade para a conhecer acabava aqui,era o ponta-pé para uma nova era.
Assim que entrei no chuveiro a primeira contração me preencheu e eu mordi meu lábio tentando aliviar a dor,por ser a primeira não veio tão forte e ainda tinha um espaço entre elas,razoavelmente longo.
Me arrumei e peguei todos os documentos,em meios a contrações e outras eu consegui descer as escadas.
Isago e Iago ficariam com a minha sogra e minha cunhada,elas estavam aqui só esperando o momento pra me auxiliarem nessa nova fase.
Os dois estavam no sofá jogando.
—A mamãe tá indo tá?
Falei com eles e cheguei mais perto,fazendo careta por conta da dor.
Isago levantou e me abraçou.
—Que dê tudo certo mãe,volta logo e com ela!
Me deu um beijo na testa.
O menino mais alto que eu se curvou e eu deixei um beijo na sua cabeça.
—Promete que vai voltar rápido?
Iago levantou fazendo charme.
—Prometo meu pretinho,daqui no máximo três dias a mamãe tá' em casa.
Abracei ele.
—Fica bem mãe,tô ansioso pra ver a Zizi.
Falou com os olhinhos brilhando.
—Vamos?
Thiago entrou na sala me chamando.
—Até logo mana!
Isago fez um toque com minha barriga.
Eu saí de casa e finalmente entramos no carro,rumo ao hospital,a médica já me esperava lá.
Entrei no whatsapp e no grupo da família,abrindo uma foto que haviam enviado,uma selfie com várias passagens rumo a Londres e eu tive um susto,não imaginei que todos viriam e eu super me emocionei.
As dores aumentavam gradativamente e o tempo entre as dores só diminuía.
Chegamos no hospital e eu respirei fundo nervosa,Thiago segurou a minha mão e entramos juntos.
—Você é a mulher mais foda do mundo.
Ele olhou nos meus olhos e me deu um selinho.
Sentei na cadeira e fiz toda a minha ficha,minha médica me acompanhou em tudo.
Fiz o meu primeiro exame de toque e estava com 2cm de dilatação,Júlia disse que estava indo tudo ótimo,comecei os exercícios estimulantes para o parto normal.
A intensidade das contrações aumentaram e a dor ficou difícil de controlar.
—Puta que pariu.
Apertei a mão de Thiago e mordi meu lábio.
Eu estava na bola e não aguentava mais ficar rebolando em cima disso.
—Amor,cê parou pra pensar que isso aqui é melhor que motel?Tem banheiro,serviço de quarto,ar condicionado,caralho,paguei isso com gosto tá?
Ele falou e eu quase voei na cara dele,as duas enfermeiras que estavam conosco riram.
—Cala boca seu desgraça.
Deixei um tapa no seu braço.
Outra contração veio e eu me encolhi toda.
—Caralho,que dor,meu deus.
Falei fechando os olhos que força e apertei os braços de Thiago.
—Isso amor,me agride mesmo,tá' tudo bem!
Falou fazendo careta.
A enfermeira entrou no quarto e me avisou sobre o segundo exame de toque,me levaram até a sala.
—Nós evoluímos muito e pelas próximas 7 horas a Ísis já pode estar aqui.Estamos quase lá amiga!
Júlia falou e nós sorrimos.
Eu já estava em trabalho de parto a quase 5 horas e estávamos com 6,5cm dilatados,ou seja,já tínhamos meio caminho andado.
O dia já estava quase amanhecendo e as contrações já vinham uma encima da outra,sem quase nenhum espaço entre elas.Os minutos de dores aumentavam e os espaços entre elas só diminuíam.
—Eu quero picolé.
Olhei meia zonza de sono pra Thiago.
—Que?
—Picolé de limão,por favor amor.
—Amor,são 4 da manhã,mas eu vou agilizar.
Ele falou rindo e puxou o celular do bolso.
Eu simplesmente apaguei em meio às dores,eu estava extremamente cansada.
Acordei com Thiago me chamando,resolvi entrar na banheira e finalmente saboreei meu picolé.
Nesse meio tempo meus familiares me ligaram,já estavam todos lá em casa,junto com a família de Thiago e estavam extremamente ansiosos.
As cinco e meia fui para mais um exame de toque e estava com 8,5cm de dilatação e minha obstetra avisou que talvez nascesse antes do que ela estipulasse.
Eu e Thiago aproveitamos o momento a sós e rezamos pedindo por um parto calmo e sem complicações,que nossa filha nascesse cheia de saúde.
As seis e quarenta e cinco da manhã as dores se tornaram insuportável e eu na minha cabeça só passava que não conseguiria.
—Thiago,eu não vou conseguir.
Chorei me sentido uma fracassada,abraçando ele.
—Calma,eu tô aqui,você é a mulher mais foda do mundo,você consegue.
Ele me acalmou e eu desabei.
Eu me sentia num beco sem saída e pedia forças,eu queria lutar pela minha filha.
As sete e dezesseis da manhã eu fiz meu último exame de toque.
—Preparados papais?9,8cm dilatados,partiu se preparar.
Ela disse e eu senti meu estômago esfriar e minhas mãos suarem.
Nós voltamos para o quarto e nossa família já estava lá,resolveram vir pro hospital de última hora e eu agradeci pois com eles por perto,tudo parecia mais seguro.
Fizemos um círculo e rezamos,eles assistiriam o parto em uma salinha que era separado por um vidro da sala de parto.
—Seja forte minha filha,nós te amamos e temos muito orgulho de você.
Minha mãe me disse e me abraçou forte.
A equipe médica chegou pra poder me buscar,Thiago já estava com a roupa adequada e só deu tempo de eu me despedir dos meus filhos,que pelo contrário que eu pensava,assistiriam o parto.
Ali era a virada de chave,eu estava passada de dor e sentia como todos os meus ossos estivessem quebrando.
Olhei pra mão de Thiago que estava segurando a minha mão e encarei o terço enrolado em seu pulso,mais uma vez pedi forças.
—Eu estou aqui,seja forte meu amor,eu sei que você vai.
Ele deu um beijo na minha testa e no mesmo momento entramos na sala de parto.
As lágrimas já desciam dos meus olhos,era um mistura de tudo,principalmente de dor,muita dor.
—Meu senhor,me dá força pai.
Revirei os olhos de dor.
—Minha vida,eu te amo,tenha força pela nossa menina,eu confio em você.
Ele me disse no ouvido.
—Vamos lá Amanda,a Ísis precisa vir ao mundo.
Minha médica disse assim que se posicionou no meio da minhas pernas.
—Será rápido,você consegue,faça força.
Ela mandou e ali eu sabia que começaria tudo.
Fiz a primeira força e me permiti gritar pela primeira vez desde que cheguei nesse hospital,apertei forte a mão de Thiago.
—Isso meu amor,você consegue,você é foda Amanda.
Ele falou mais uma vez no meu ouvido.
—Vamos mamãe,continue assim,mais uma vez.
Júlia disse.
Fiz o máximo de força que podia,um grito mais alto veio e minha cabeça rodou.
—A última mamãe,só a última.
Agarrei os lençóis e fiz força,muita força,a pressão no meu canal vaginal sessou e eu encostei na maca exausta,eu sentia meu mundo girar.
O chorinho afinado e alto invadiu a sala.
—Seja bem-vinda Ísis.
A minha médica falou e a equipe médica bateu palmas.
—Você conseguiu amor,você é extraordinária,nossa menininha nasceu.
Colocaram ela sob meu peito e eu me permiti chorar,eu suspirei e agradeci mentalmente.
—Você nasceu meu amor.
Eu chorei e olhei para minha filha.
—Eu te amo Ísis.
Thiago disse enquanto olhava pra ela.
Ali deixávamos de ser apenas uma,era muito além da dor superficial,era a dor da partida e a dor da chegada,da chegada da vida e da morte que põe fim a um dos melhores períodos que a mulher pode ter,gerar dentro de si uma vida.
Olhei para Ísis e vi ali tudo tomar sentindo,a minha vida toda,25 anos de idade,tomar sentindo,aliás,segurava minha vida nos braços.
Cabelos escuros e pele morena,ali chorando no meu colo,como um presente pra mim.
Eu esperei tanto por esse momento que só conseguia apreciar,eu me sentia tão feliz e realizada que não conseguia reagir,o mundo pra mim parou,pra que eu pudesse renascer.
—Queria falar nada não,mas é minha cara.
Thiago falou no meu ouvido e nós rimos juntos.
Eu o encarei e me perdi naquele sorriso,aquele que me fez apaixonar por ele.
—Eu te amo Dr.Amanda,obrigado por me ensinar o que é amor de verdade.
Ele me deu um selinho.
—Eu te amo.
Sussurrei e sorri pra ele.
Fizeram todo o processo de limpeza e de pesar a Ísis,enquanto também me preparavam pra voltar ao quarto.
Thiago foi até o vidro que nos separava de nossos familiares e finalmente mostrou o rostinho de Ísis,o pessoal tava emocionado e muito feliz.
Eu sabia que aquilo era meu propósito,que Deus me guardava esse destino e eu agradecia por ele ser tão bondoso comigo.Agora estávamos completos,a minha família estava completa.
Ísis Helena Linhares da Silva,nasceu às sete e trinta e sete da manhã,pesando 3,344kg,medindo 50cm.
De um parto normal,totalmente saudável e sem nenhuma sequela.
Nós precisávamos dela mais do que imaginávamos,eu a amo com a alma,por que a alma nunca morre!
09/04/2022,o dia em que eu renasci.
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Desencontros-THIAGO SILVA
FanficNem sempre as mais bonitas histórias,começam da forma certa...