19. Entre bonança e tempestade 2 3

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          Ele tinha certeza que Jon e ele se amavam, mas sua fé foi abalada ao ouvir o resto da conversa do amigo com o noivo. Então Tankhun, Tay e o homem que ele ama o envolveram em uma trama de vingança?

           Ele já sabia que eram uma história de amor clichê,  "enemy lovers". Jon tinha lhe dito antes. Mas ouvir que era uma vingança e que principalmente seu  amigo de infância tinha apoiado tudo isso, o adoecia até a divisão da alma. Que crime ele cometeu para ser julgado e condenado por pessoas que ele ama e admira? Por seu homem?

         Repetiu a pergunta:

        - O que você não vai me contar, senhor Johan?

        Tankhun e Jong olhavam abismados para o lívido homem parado à frente deles. Time se aproximou com passos temerosos e ergueu Jon pelo colarinho da camisa risca de giz que ele tinha amado e trazido para seu amante.

          -  Seja o que for, conta-me agora.

          Tankhun se despediu sem ser ouvido por ambos. Os dois estavam presos em um olhar de mágoa e dor. Os dois pareciam se perder dentro da imagem que viam refletida nos olhos do outro. Aquilo ia longe, mas se resolveria logo. O doce Time era rápido em perdoar. Era essa a ideia que Khun tinha agora do amigo. Mas no olhar de Time, Jon viu a crueldade de outrora e aquilo o fez acreditar que tudo o que tinha construído em cima daquela mentira tinha sido destruído ali, encapado naquela pergunta, imbutido nas indagações silenciosas que ele via brotar nos olhos escuros que o miravam.

           Foi a conversa mais amarga de sua nova vida. Saber que a pessoa que ele ama o fez implorar por ele por noites seguidas, quebrou o coração de Time. Ouvir que ele traiu miseravelmente todos os amantes que teve e que foram muitos o adoecia mais que imaginar que ele que na infância tinha protegido Tay com sua inocência e virgindade, tinha depois destruído sua auto-estima.

           Ele teve coragem de namorar e trair Tay como se com isso o castigasse por ter sido sequestrado em seu lugar? 

          Chorou ao ouvir. Chorou enquanto fugia sem destino em seu carro.  Chorou todas as vezes que o som do celular era o do noivo. Chorou quando estacionou em frente aos portais do inferno. Chorou vendo a fita da amarela da polícia. Chorou ao voltar ao passado.

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Vinte e quatro anos atrás

            Ele estava brincando no portão de sua casa quando viu Tay vindo em sua direção. O amiguinho saltitava feito uma lebre no jardim e sua vozinha cantando uma canção do templo chamou sua atenção. Ergueu os olhos e notou que um carro estava de portas abertas e aquela mulher que vivia brigando com sua segunda mãe, estava agachada dentro. O tio estava olhando para o Tay pelo espelhinho do carro. Aquele espelhinho que ele ainda não sabe o nome.

         O medo que ele tem do tio brotou de novo. Contou para o pai e ele não acreditou. Ele teria que salvar o amigo de novo e sozinho. Levantou-se e correu em direção do menino.

        -   Vou pegar você, Tay.

        O outro riu feliz e deu meia-volta, correndo quase que sobre sua sombra que se atrasou pela velocidade do amiguinho. Tay estava salvo!

       Continuou correndo e passou pelo carro. Ouviu a mulher e o tio amaldiçoar sua existência e teve quase certeza que suas próximas vidas,  mas Tay ia à frente, rindo e gritando feliz:

        -  Você não me pega. Você não me pega. Ih. Ih. Ih. Você não me pega, Ti. Você não é de nada!

        Suspirou aliviado quando viu a babá do outro segurar seu braço e o levar para dentro, a casa o protegendo. Estava na esquina, entre sua rua e a do amiguinho. Os dois sempre enganavam as cuidadoras e iam brincar juntos. Sempre. Sempre. Quando crescessem iam casar com boas mulheres e elas seriam amigas, seus filhos iam estudar e crescer juntos,  como eles. Como seus pais.

My Bitter Poison     #JonTimeOnde histórias criam vida. Descubra agora