Meu Querido Chefe.

Momento reservado.

Por Lauren.

Arthur tomava seu sorvete, sentando no banco de madeira do hospital, balançando as perninhas, sem entender nada do que estava acontecendo. Tão inocente, nem imaginava que nunca mais veria sua mãe. Fui obrigada a secar as lágrimas rapidamente, não queria que ele me visse chorando, queria passar uma boa impressão. Ele me olhava com ternura com suas mãozinhas em volta da casquinha de biscoito e sua boquinha no doce gelado. Seus olhos eram tão azuis. Mais azuis do que os de Henry, quase azul claro... Era um menino lindo e tão calminho. Aceitou super de boa tomar um sorvete comigo e ainda perguntou se eu queria que ele dividisse o dele. Fiquei minutos imaginando como seria ser mãe. Como seria ter aquela preocupação com um ser tão ingênuo e tão pequeno. Como seriar amar incondicionalmente alguém que saiu de dentro de mim.

Sienna se tornou minha amiga no momento em que me fez sorrir anos atrás quando eu estava passando pelo meu pior momento. Ela nem sonhava que eu tinha presenciado um "ex-amor" meu, assassinado em minha própria cama. Ela só conversou comigo. Ela me contou diversas histórias de suas viagens, me explicou melhor sobre vinhos e animou aquele jantar. Ela era luz e tinha certeza que Henry sempre manteria ela viva na memória de Arthur. Acarinhei seus cabelos pretos lisos e ele me olhou, estendendo sua mãozinha com sorvete.

- Prova, tia. É bom - Ele disse, e eu sorri sem graça. Estava tão triste com aquela situação, mas aceitei e tomei um pouquinho de seu sorvete.

- Uma delícia. Você gostou? - Perguntei e ele acenou com a cabeça.

Limpei suas mãos com um lenço que estava em minha bolsa e sua boquinha. O dei um pouco de água para afastar um pouco o gosto doce, e logo ele começou a coçar os olhinhos.

- Estou com sono... - Ele se aproximou de mim e ficou olhando para meu colo.

- Ah... Você quer dormir... No meu colo? - Eu não tinha contato com crianças, nem quando meu irmão era uma, mas eu gostava. Só não sabia reagir. Ele coçou a cabeça e assentiu.

- Deixa?

- Claro, meu bem... Venha...

Estendi meus braços e o peguei no colo, deitando sua cabeça em meu ombro. Ele mesmo pegou sua chupeta que estava dentro de seu shortinho, botou na boca e pegou no sono. Fiquei ali sem ver o tempo passar, apenas sentindo sua respiração em meu pescoço. Seu cheirinho de perfume de bebê misturado com talco, era muito bom. O abracei para não cair, e ali ficamos. Naquele banco de madeira no jardim do hospital. Só Deus sabia como estava lá dentro, como a família estava desolada e como Henry ficaria com sua partida. Com Arthur adormecido, eu pude chorar baixinho em respeito a sua morte. Eu vou fazer o que me pediu, Sienna. Até meus últimos dias.

- Desculpe, Lauren - Henry surgiu no jardim. Seus olhos estavam vermelhos, seu rosto estava acabado - Eu não sabia que isso ia... Não deveria ter pedido para vir aqui... Agora ela... Ela... Ela se foi, Lauren.

Henry segurou o rosto com as mãos e caiu em prantos. Vê-lo daquele jeito, me cortou o coração. Eu sabia como era perder alguém importante e ele só precisava de apoio, assim como precisei anos atrás. Levantei com Arthur no colo e o abracei forte. Ele retribuiu e nos envolveu em seus braços, dando um beijo na testa de Arthur e me olhando enquanto chorava. Tudo ia ficar bem. Peguei em sua mão.

- Você não está sozinho. Já fez muito por mim, está na minha hora de fazer o mesmo - Falei - Conte comigo.

- Eu... - Ele se desvencilhou - Eu... Tenho que resolver algumas coisas com os médicos, funeral, e... Muitas outras coisas... Eu só...

- Calma, respira.

- Isso é muito difícil. Merda! O que vou dizer ao meu filho?

- Você confia em mim? - Me aproximei dele, que acenou com a cabeça - Então, eu cuidarei de Arthur para você resolver as... Você sabe... Dessa vez, eu estou aqui pra você e sua família.