Meu Querido Chefe.

Força maior.

Por Lauren

Foram duas semanas muito duras para mim. As cenas do corpo, do sangue e também as memórias dos momentos junto a Antony, não saíam de minha cabeça. Virava e rolava na cama a noite, no quarto de hóspedes na casa de Henry. Algumas noites em que não o via — Ou melhor, todas as noites, pois sem minha ajuda ele ficava um pouco mais atarefado que o normal, já que era difícil achar alguém na CMA com o mesmo pique que o meu para aturá-lo e para trabalhar devidamente —, eu dormia com a minha mãe para aproveitar ao máximo sua companhia em Londres.

Ela estava sendo meu pilar. Meu apoio emocional. Minha companheira de todas as horas. Naquelas semanas sem comparecer na empresa, nós passávamos horas conversando e ela me contou que Henry pediu a ela para aceitar viajar até Londres para me fazer uma surpresa. Cada dia eu ficava mais impressionada em como o Henry poderia ser incrível quando quisesse, tinha capacidade para fazer qualquer coisa. E eu senti falta dele durantes todos aqueles dias, que passavam como o caminhar de uma lesma. Tentei me distrair ajudando Margareth nos afazeres; Observando pela janela o jardineiro cortando os arbustos no jardim lá embaixo; Lendo um novo livro; Procurando lugares para morar pela internet, e cozinhando. Foi quando decidi fazer uma surpresa para o Henry, pedindo a Marianne a receita de suas "rosquinhas" prediletas, e bom, ele amou. Eu só não esperava que ele me visse dançando, mas foi apenas uma maneira de manter pensamentos ruins afastados.

Para me surpreender ainda mais, Henry chegou mais cedo em uma das noites e me deixou dormir ao seu lado. Eu estava tão pensativa e traumatizada que nada de cunho sexual passava pela minha mente, eu só queria companhia e foi isso o que ele fez. No dia seguinte, estava feliz. Me arrumei lindamente para a visita aos Cavills e prometi a minha mãe que voltaria cedo para me despedir, já que ela voltaria a Londres pela noite. O jantar estava super agradável, de modo algum posso dizer que fiquei incomodada ou chateada por Sienna também ter ido, ela era uma mulher adorável e sua energia era contagiante. Nós trocamos ideias incríveis, ela me contou sobre suas viagens e brincou sobre eu ter como obrigação visitar a Cidade do México um dia. Henry ficou com seu pai e irmãos, e deixou nós mulheres — Eu, Sienna, Marianne e suas cunhadas —, a vontade para os "assuntos femininos" como ele chamou.

Eu estava precisando daquilo. Não estava sendo ingrata, eu só conversava com Eric, ele nunca deixaria de ser meu melhor amigo e irmão, mas esqueci por um tempo o trauma enquanto tomava um vinho com as mulheres a minha volta. Quando Sienna teve que ir embora, eu contei somente a Colin e Marianne — Na presença só de Henry, que também viu o ocorrido —, o que eu tinha presenciado e quão horrível aquilo se tornou dentro de mim. Contei das noites mal dormidas, dos choros repentinos e do apoio que o filho deles estava me dando. Colin agradeceu a Henry pela gentileza. Marianne como sempre um doce, ofereceu seu lar para me acolher. Era uma família excepcional, mas eu não queria incomodar mais.

Eu havia guardado dinheiro no banco, o suficiente para alugar um quarto até eu arranjar uma casa ou aparatamento, cujo aluguel coubesse em meu bolso. Eu precisava voltar a me movimentar, trabalhar, malhar e tentar esquecer 100% tudo aquilo, e eu sabia que conseguiria. Quando chegamos a noite, Henry estava estranhamente calmo. Minha mãe já esperava com suas malas na sala, seus olhos me diziam que tudo ficaria bem e eu acreditava neles.

— Tem certeza que não quer que eu vá até o aeroporto? — Perguntei.

— Não, está ficando tarde. Você não pode se expor, ainda mais esta hora — Ela respondeu e eu concordei.

— Fique tranquila, Lau. Eu faço questão de levar sua mãe e colocá-la em segurança em meu jato até Nova York — Henry disse pegando as malas de minha mãe e se retirando para ir até o carro.

— Eu vou sentir tanto a sua falta — Abracei minha mãe o mais forte que consegui — A senhora me ajudou tanto nesses últimos dias. Obrigada por tudo. Por me amar, por me criar tão bem e por ser a senhora.