23 - Aquele com memórias e sacrifícios.

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"And i can go anywhere i want
anywhere i want
just not home."

— my tears ricochet


"Por favor, pare esse pesadelo que eu tenho toda noite, onde suas mãos estão longe das minhas
Agora, me conte o nome que permanece em meus lábios, o significado desse sonho tão triste
Meu coração está perdido em uma labirinto de memórias
Me salve, nas profundezas desse sonho eterno, onde um segredo azulado adormece
Não vá quebrar o meu coração, não faça isso
Há um mundo destruído dentro do nosso diário esquecido, leve-me para aquele segredo"

— Eternally, TXT.

🎐



Quando incêndios acontecem, a reação natural é, de fato, reagir.

Correr, gritar, tentar sair daquilo que você sabe que vai te matar.

Pessoas que demoram a reagir de fato ou quando demoram a conseguir sair, a fumaça ou o fogo te deixam com queimaduras, sequelas.

As marcas daqueles minutos ou até mesmo segundos de atraso, te acompanham por toda a vida, costumam dizer que você pode até mesmo esquecer, mas as cicatrizes vão estar sempre ali para te lembrar do quão ruim foi sentir aquilo.

Quando sento e paro para pensar na minha atual situação, jogado na cadeira da cozinha, enquanto tento terminar minha (ainda) primeira xícara de café do dia, me sinto preso nos meus segundos ou minutos de atraso.

Difícil dizer quando eu tive certeza de que as minhas sequelas e cicatrizes seriam para sempre, mas acho que se tivesse um pedido nesse exato momento, seria para reagir, antes de o fogo se alastrar.

Não consigo terminar o café, ele ficou frio e sem graça, tão gelado quanto o ambiente, quanto a cadeira na qual eu estava sentado, tão frio quanto todo o discurso que eu tornava a ouvir.

— Termine logo isso, Jungkook. Quero te levar a um lugar, já chega desse drama todo, já fazem semanas!

Ignoro a fala, me levanto e vou até a pia para lavar a xícara.

Joguei o café fora, perdi qualquer vontade de toma-lo.

Então eu deixo o objeto de porcelana em um lugar no balcão, me viro e sigo em direção ao meu quarto. Não falo nada, por saber que nada que saia da minha boca o interesse se não for exatamente o que ele quer ouvir.

Semanas preso em um looping de fuga, semanas ficando o mais longe possível de casa enquanto tento trabalhar o dobro por um pouco mais de dinheiro e tento não enlouquecer com as provas.

Quando me olhei no espelho hoje, nessa sexta feira cansativa e arrastada, consegui ver que na verdade não estou tão ruim, talvez porque ainda tenho para onde fugir.

Mesmo quando entro no quarto e fecho a porta, ouço quando ela é aberta e todo o discurso recomeça.

Um looping.

Não durmo quando fico em casa, na verdade tem sido dificil isso sequer acontecer, geralmente só venho colocar as roupas na lavadora e pegar novas, coisas assim.

Mas eu tenho aguentado.

Até mesmo ouvir meu pai falar com tanto desgosto todas as vezes em que, infelizmente, nós nos encontramos em casa.

Mas são seis e trinta da manhã, são semanas e minha paciência se esgotou.

— Eu ainda lembro o que aconteceu naquela noite. – falo, meu rosto está virado para a janela do quarto enquanto vejo a chuva cair lá fora, tudo tão frio que eu quase podia sentir que o inverno havia chegado, as gotas de chuva se reúnem no canto direito da janela pequena e um pouco suja.

Decalcomanie / •jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora