capítulo doze

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Ela pegou o frasco e chacoalhou. Eu te olhei.

— vai arder um pouquinho tá bom? — encheu a mão com um líquido verde.

— uhm rum... — eu já estava sentindo a dor.

Ela esfregou a mão em meu machucado e eu quase gritei de dor, passou em minha testa e depois lavou as mãos com sabonete. Meus olhos ficaram vidrado em Enid, ela estava toda molhada.

— Wandinha — alisou meu rosto.

— suas atitudes não condizem com o que vc veio fazer aqui? — o jeito que ela me olhava me causava um conforto enorme.

— me fala então, o que eu vim fazer aqui?

— me ajudar a lavar meus ferimentos, que vc disse que não posso fazer sozinha.

— e eu não fiz?

— fez.

— então... — chegou perto, tão perto, muito perto.

— então? — senti seu corpo encostar ao meu.

Suas mãos foram em meus rostos levemente.

— Enid... — eu disse com ela aproximando seu rosto ao meu.

— é rápido.

— não tô falando disso.

— então? — deu um sorriso com sua boca prestes a colar na minha.

— sua mão está no meu machucado — tirei sua mão lentamente da minha barriga.

Ela pegou minha mão e pôs em sua cintura, sem afastar seu rosto do meu.

Eu não sabia como reagir ao que estava prestes a acontecer, eu não sabia se Enid iria me beijar, ou estava apenas me testando, e provocando.

— Enid!

— que? — falou baixinho.

— se for me beijar me beija logo — falei com a água caindo sobre nós duas.

— estou esperando a hora certa.

— hoje em dia não existe mais hora certa, ou beija, ou beija, têm duas escolhas.

— e as duas são te beijar? — sorriu.

— vc tá querendo, tanto quanto eu.

— será mesmo Wandinha? — olhou nos meus olhos.

Soltei de sua cintura e me afastei, puxei a toalha, ela me olhou e revirou os olhos.
Enid me empurrou na parede.

— eu já estou toda quebrada, arranhada, e vc ainda faz isso.

— não vira as costas pra mim Wandinha Addams! — deu um selinho em minha boca.

— vc fica enrolando, ja faz tempo que tá querendo fazer isso, e não faz, cansa a alma e a cabeça da gente.

— tem que saber esperar — mordeu minha boca lentamente.

Me fez fechar os olhos.

— mas o beijo só vai sair quando realmente for a hora certa.

— isso é tortura.

— em grande parte somos amigas, isso pode arruinar nossa amizade.

— só vai arruinar se vc deixar.

— eu vou tomar banho agora, depois a gente se vê no quarto.

Me beijou no canto da boca e abriu a porta, eu me enrolei na toalha e sai.

Enid me deixou confusa, com querer diferente, primeira vez na vida que duvido da minha sexualidade, e se eu não gosto de homens e mulheres e sim só de mulheres? Aí que saco Enid.

Me troquei, pus um shorts curto de dormir e me deitei na cama, ela saiu, não falou comigo, apenas se deitou e logo dormiu, fiz o mesmo, em menos de uma hora eu capotei.

No dia seguinte...

Demorei levantar, a diretora suspendeu as duas primeiras aulas, para descansarmos, ela sabia do acontecido na madrugada. Quando levantei Enid já não estava mais, a cama arrumada, a cortina não estava mais ali, o cheiro de seu perfume percorria o quarto todo. Me arrumei, deixei meu cabelo feito um coque alto, com umas mechas soltas na frente, vesti outro estilo de roupa, mas não sai do preto, são as roupas que mãozinha escolheu pra mim, com Enid.

Escovei meus dentes, e fui tomar café, tomei e voltei pro quarto, me sentei na cama, e olhei meu machucado, refis os curativos, e fui caminhar pela escola, eu iria ver Eugene, e suas abelhas, nossas abelhas.

E eu fui.
Cheguei, entrei e vi ele mexendo com as caixas, trocando elas de lugar novamente.

— oi Eugene — disse num suspiro, e colocando meu capacete de proteção.

— oi Wandinha — não era Eugene, era Enid.

— vim ver Eugene, onde ele tá?

— hoje é aniversário das mães dele.

— vou me lembrar de dar parabéns depois — fui arrumando os potes de mel.

— dormiu bem?

— sim.

Ela ficou ao meu lado e foi pondo o rótulo nos potes.

— sobre ontem...foi mal, eu agi pela emoção, eu não sei o que tá acontecendo comigo.

— não Enid, vc sabe muito bem o que tá acontecendo, só tá tentando esconder e isso vai te afetar.

— então me diz o que tá acontecendo comigo! — me olhou.

— vc gosta de meninos e de meninas, e tá com um crush em mim, é isso.

— poisé Wandinha, vc tá completamente errada.

— estou? — sorri.

— ótimo vc sorriu — suspirou — olha Wandinha, o que eu tive com o Ajax, só foi pra ter certeza do que eu queria e do que eu sou, entende?

— e pq ficou tão abalada quando se separaram.

— não fiquei tão abalada, eu gostava da companhia dele, mas tenho que disfarcar né, imagina só, terminar um relacionamento e agir normalmente.

— muitos fazem isso.

— esse é o problema Wandinha, eu não sou todos, e vc também não é.

— eu sei o que eu sou, e o que eu quero pra vida.

— e o que vc é?

— sou a tal bissexual.

— que bom pra vc Wandinha, eu não sou! — me entregou os rótulos e saiu.

Engoli saliva e deixei eles em cima da mesa.

— as vezes vc não sabe se é isso realmente, tem que ter tempo.

— eu tenho certeza da minha sexualidade, e vc me causa gay panic.

— estamos quites!

— isso é injusto, eu tento me controlar e vc não colabora.

— eu não faço nada.

— seu jeito tosco de ser me deixa perdidinha! — tirou o capacete.

Tirei o meu.

Depois das férias - wenclair +18 CONCLUÍDO ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora