S01E01

54 6 0
                                    

Aquele tinha que ser o melhor dia da vida dele. Era melhor do que o seu primeiro trabalho, ou melhor do que ir pra cama depois de dar um match com o homem mais compatível. Talvez ele estivesse tão animado que teria um treco antes de chegar ao prédio coorporativo da Wonder Sis. Seria sua primeira vez atuando numa série que seria distribuída pelos meios tradicionais. Bom, o que tinha se tornado tradicional atualmente: plataformas de streaming. Até então, ele só tinha feito papéis menores, de coadjuvante ou extra em filmes que só eram exibidos em festivais, mas todos sabiam que apenas atores desconhecidos ou em decadência trabalhavam nesse tipo de filme. E não era apenas questão de finalmente sair de filmes artísticos para uma série, mas ele finalmente teria o papel principal.

Talvez seu coração realmente não aguentasse. Ele não parava de imaginar quais atores fariam os demais personagens. Se fossem pessoas conhecidas, talvez ele conseguisse criar contatos e oportunidades apenas por contracenar com pessoas mais famosas. Era sua oportunidade de parar de vender desenhos digitais para tarados na internet e começar a se sustentar da atuação, seu verdadeiro sonho.

-É aqui? -O taxista perguntou, parando na frente do grande prédio espelhado, onde uma escultura de um W decorava a entrada. Esse W de Wonder Sis era feito com a capa metálica que usavam para guardar filmes antigamente, apenas reciclados. Ele já tinha pesquisado tanto, e visto tantas fotos desse prédio, que já se sentia em casa, mesmo sendo sua primeira vez ali.

-Isso mesmo! -Ele pagou o motorista e desceu. Aquele era o início de seu futuro como um ator famoso, tudo que ele sempre tinha sonhado.

Ele parou de frente para a porta automática, que abriu assim que detectou sua presença. Antes de entrar, ele respirou fundo, tendo a certeza de que entraria usando o pé direito.

A recepção era linda: o piso branco era tão bem polido, que quase se tornava um espelho; o teto era alto, com um grande lustre em formato de W, e também dava para ver os balcões de alguns andares superiores. Além disso, havia uma recepção com um balcão espelhado, topo de mármore, e, do lado direito, sofás e poltronas azuis que mais pareciam uma obra de arte, com formatos assimétricos.

Ele se aproximou da recepção, onde três mulheres vestidas iguais (de terno e um lenço azul de enfeite no pescoço) estavam trabalhando.

-Posso ajudar? -Uma delas perguntou, a que estava mais próxima dele.

-Sim, eu sou Cameron McMillian, tenho uma leitura de script agendada para hoje. -Ele já tinha feito leituras de script antes, mas essa seria sua primeira vez num lugar tão lindo como aquele. Já teve que ler até na casa dos diretores, então era um grande avanço ter uma sala destinada a isso.

-Pode me emprestar algum documento seu?

Ele a estendeu sua identidade, ainda impressionado com o local, olhando para todos os lados.

-Se quiser se sentar enquanto eu faço seu cadastro, fique à vontade.

Cameron concordou, indo até uma das poltronas azuis. Ele tinha que admitir que eram bonitas, mas nada confortáveis. Mas o que ele poderia reclamar sobre conforto morando numa kitnet, usando seu sofá como cama?

Na mesa de centro, havia revistas sobre televisão. Ele pegou a primeira, sendo chamado pela imagem da capa. Estavam falando sobre um filme novo que saiu na semana passada: Revelação, a Vida é um Risco. Cameron já tinha assistido no cinema, a atriz principal era Whitney Jackson, e ela passava o filme inteiro sendo perseguida por um assassino de aluguel, interpretado por Steffan Leblanc.

Ele era apaixonado por aquele homem, até tinha um pôster dele na parede de sua kitnet. Consumia todos os filmes que ele participava, maratonava todas as séries mesmo que ele tivesse a menor participação, e respirava suas entrevistas, tudo como se sua vida dependesse de ser seu fã. Até sonhos eróticos com ele Cameron já teve, inclusive com certa frequência.

Um Ato de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora