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Steffan descia de seu voo para a Inglaterra. Ele tinha algumas participações especiais numa série de investigação, mas, antes disso, tinha que se encontrar com sua mãe. Ele sentia seu estômago embrulhar. Era impossível se sentir normal quando tinha que passar tempo ao lado de sua mãe.

-Elle est à l'hôtel. (Ela está no hotel.) -O agente alertou.

Steffan assentiu. Quanto mais rápido resolvessem isso, mais rápido seria voltar ao seu dia a dia. Ele torcia para que os advogados fizessem tudo por ele, que ele nem precisasse se pronunciar.

Antes de descer do carro na frente do hotel, ele observou seu celular, mas Cameron não tinha enviado nenhuma mensagem. Talvez aquele fosse o ponto final deles? Steffan não sabia dizer, mas adoraria mandar uma mensagem dizendo que não estava bem, que sua carreira parecia pendurada num fio de teia de aranha, que a qualquer momento tudo iria desabar. Mas ele não poderia contar aquilo pra ninguém, ele nem era capaz de dizer a Ayla.

Eles estavam usando uma sala de reuniões do hotel, mas quando se aproximou da porta, notou Corneille em pé do lado de fora.

-Steffan. -Corneille ofereceu sua mão para que seu meio-irmão apertasse. -Como tem passado?

-Bem. -Steffan respondeu, recusando a mão que Corneille respondia. -O que está fazendo aqui?

-Não me deixaram entrar, mas eu vim com a nossa mãe. Ela não está bem, a pressão dela ficou alta depois de receber a intimação. Pegue leve com ela.

Steffan balançou os ombros:

-Se quer tanto cuidar dela, pode entrar.

Assim que os dois entraram na sala, Cosette se animou:

-Filho, eu estava com saudade!

-Vamos resolver isso logo, porque eu tenho compromisso mais tarde. -Steffan avisou enquanto se sentava.

Além dos três parentes, havia mais cinco advogados na sala de reunião.

-Então, vamos tentar ser breves. Pela informação que temos acesso, a única prova que liga o Senhor Leblanc ao julgamento seria a foto que está circulando. O juiz provavelmente irá perguntar separadamente aos dois quando a foto foi tirada, o local, quem estava presente. Acho importante que deem respostas semelhantes. Se puderem contar exatamente o que se lembram, podemos-

-Isso não será necessário. -Steffan interrompeu o advogado. -Não sou eu na foto. Nós vamos apenas dizer isso.

-Filho... talvez não se lembre, mas-

-Cale a boca. -Ele ergueu a voz. -Não sou eu na foto. Quem disser o contrário, está enganado.

-Certo. Provavelmente irão perguntar o que fazia nessa época. -O advogado continuou.

***

Cameron já tinha imaginado diversas possibilidades antes de chegar no bar, mas seria impossível adivinhar. Pela primeira vez na vida, ele não queria uma declaração de amor.

Mas, e se fosse? O que ele poderia responder? Que estava ocupado demais sendo o "cachorrinho" de Steffan, e não tinha tempo para um relacionamento sério? Mas aquilo não era uma desculpa aceitável. Ele sabia que com Steffan era apenas uma brincadeira passageira, mas não queria deixá-lo para a próxima pessoa enquanto ainda tivesse tempo.

-Cameron! -Charles o chamou.

Cameron forçou um sorriso, sentando-se de frente para o outro ator.

-Como tem passado? -Charles perguntou.

-Bem, e você?

-Bem também. Nunca estive melhor. Obrigado por ter vindo.

-Tudo bem. -Cameron encolheu os ombros. -Aconteceu alguma coisa?

-Na verdade, sim. Acho que você vai gostar. -Ele sorriu, ansioso, tirando um papel de dentro de sua pasta, estendendo para Cameron.

O ator olhou desconfiadamente, sem nem querer imaginar que fosse outro contrato de confidencialidade, mas ele sabia que era impossível. Tudo o lembrava Steffan, era apenas isso. Ele tentou varrer esses pensamentos para longe, vendo que se tratava de um contrato para uma série. Não demorou muito para ele notar que era para a segunda temporada de Black Butler.

-Mentira! -Cameron se animou.

-Verdade! Vamos ser colegas de trabalho! Cuide bem de mim!

-Quem você vai ser?!

-Claude Faustus, parece que vou me vestir tão bem quanto o Steffan. Até vamos brigar um pouco um com o outro. Mas eu vou te tratar bem, pode ficar tranquilo.

-Bobo. Vai ser muito divertido com você lá também!

-Espero que Steffan me trate bem. Eu estou um pouco ansioso de saber que tenho que trabalhar com ele.

-Não se preocupe, ele é grosso com todo mundo. -Cameron suspirou. -Não pega leve com ninguém. Mas sei que você vai se sair melhor ainda do que eu me saí. Eu tive que ficar refazendo a mesma cena mil vezes, achei que ele ia me bater.

-Eu assisti o anime, acho que levo um soco dele na barriga.

-Jura? Quero ver isso!

Cameron estava aliviado. O set ficaria bem mais tranquilo agora que ele tinha com quem conversar. Aquela tinha sido a melhor notícia que poderia receber.

***

-Steffan, espere! -Cosette segurou o filho pelo braço no corredor vazio. -Por que não conversamos sobre isso?

-Você quer conversar sobre isso agora? Agora?! Você está pelo menos vinte anos atrasada.

-Se eu soubesse-

-Poupe a sua voz. Volte para a França e faça como eu te pedi. Se falar algo diferente, eu vou te processar, entendeu? Não se esqueça de que ainda me deve milhões de euros, não me faça pedir por esse dinheiro de volta.

-Não a ameace com dinheiro. -Corneille se posicionou entre os dois, mas nem precisava, já que sua mãe tinha saído correndo em prantos. -Por que precisar tratar nossa mãe assim? Ela faz de tudo pra chamar sua atenção. Ela te tornou o que é hoje. Custa demais vê-la vez ou outra?

-Eu não tenho mãe. Se você ainda tem, cuide você dela. -Steffan arrumou a manga de seu casaco.

-Vocês dois não têm jeito. Tanto faz. Ah, aqui. -Corneille estendeu um envelope para Steffan.

-O que é isso?

-Abra.

Steffan abriu relutantemente, encontrando um convite de casamento em seu nome.

-Achei que seria uma boa oportunidade para conhecer seu sobrinho e sua cunhada. Vamos passar um tempo em família. Eu sinto sua falta.

Steffan estendeu o convite de volta.

-Ora, não faça isso. Estou abrindo meu coração aqui, Steffan. Somos adultos. Podemos deixar tudo que aconteceu pra trás.

Steffan rasgou o convite, deixando os pedaços caírem no chão:

-Eu não tenho família nenhuma.

-Steffan, só porque você é rico e famoso agora, acha que pode pisar em todo mundo?

Steffan balançou os ombros. Na verdade, era mais fácil se Corneille o visse como o rico e famoso que deixou o dinheiro subir pra cabeça. Era verdade que era apenas sua mãe que ele odiava, mas não podia ficar ao lado de ninguém que estivesse do lado dela, não importava se era seu irmão ou não.

-Eu vou estar esperando caso mude de ideia.

Um Ato de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora