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-Tem certeza que não quer vir junto? -Steffan perguntou para Cameron. Os dois estavam dentro do carro. O motorista aguardava pacientemente, mesmo sabendo que o voo de Steffan sairia em breve.

-Sim. Eu estou com saudades da minha kitnet. -Cameron forçou um sorriso.

-Está bem. Quando se cansar, pode voltar para Los Angeles. Eu te encontro lá.

-Pode deixar. -Cameron abriu a porta do carro. -Mande um abraço para Corneille. Boa viagem.

Steffan franziu a testa quando Cameron bateu a porta do carro. Ele tinha achado que ele estava estranho o dia todo. Primeiro, estava muito animado de manhã, mas foi ficando estranho durante o resto do dia.

-Devemos partir?

-Sim. -Não adiantava pensar muito no assunto. Talvez fosse apenas cansaço.

Cameron respirou fundo, abrindo a porta da kitnet que não visitava há meses, finalmente estando sozinho. Assim que entrava, ele ainda tinha um pôster enorme de Steffan na lateral da sua geladeira.

Ele não conseguiu impedir as lágrimas de começarem a rolar. Era como se ele tivesse passado o dia inteiro ouvindo aqueles comentários cruéis:

"Steffan merece melhor que isso." "Outro ator de quinta tentando escalar Steffan para ter sucesso." "Tudo bem gostar de homens, mas que sejam bonitos pelo menos." "Ele não é bom ator nem é bonito. O que o Steffan viu nele??" "Não dou nem dois meses pro término." "Quem ele pensa que é? Steffan está fora do nível dele!"

-É verdade... Eles estão certos... -Cameron se encostou na porta e foi deslizando até o chão. -Eu sou só um desempregado... Steffan merecia muito mais...

***

Assim que Steffan colocou os pés no aeroporto, sentiu algo em sua perna, olhando para baixo, vendo seu sobrinho abraçado a ele.

-Bem-vindo de volta. -Corneille cumprimentou. -Cadê o Cameron?

-Ele quis ficar. Fazia tempo que ele não ficava em Nova York.

-Problemas no paraíso? -Corneille brincou, pegando seu filho no colo.

-Ele só quer descansar. Ninguém me aguenta todo dia por tanto tempo. -Steffan riu, mas estava preocupado que tivesse exagerado em suas brincadeiras com o amigo de Cameron, por mais que Albert tenha entendido, talvez seu namorado tivesse achado exagero.

-Dizem que a distância faz o amor crescer.

-Se fosse verdade, eu estaria morrendo de saudades da nossa mãe. -Steffan olhou para seu sobrinho. -Ça va? (Tudo bem?)

-Très bien! Oncle, m'as-tu apporté un cadeau? (Muito bem! Tio, você me trouxe um presente?)

Corneille riu, e Steffan fez o mesmo, sem nem ter pensado em trazer um agrado ao menino.

No caminho para a casa do irmão, ele começou a contar tudo o que tinha acontecido com a mãe deles:

-Eu recebi uma ligação da polícia do nada. -Ele resolveu falar em inglês enquanto seu filho ficava vendo vídeos no tablet para que ele não entendesse. -Disseram que a acharam andando sem rumo, chamando por você. Por sorte, ela conseguiu se identificar.

-E então?

-Ela ficou no hospital alguns dias, disseram que deve ser demência ou Alzheimer e a mandaram de volta. Não tive o que fazer além de deixá-la ficar lá em casa, mas ela não está bem. Não me reconhece, fica chamando meu filho de Steffan... eu acho que é melhor que ela more num lugar especializado nisso. O que você acha?

-Eu não vou discordar. Mas ainda acho que ela está fingindo. -Steffan resmungou. Era difícil acreditar em qualquer coisa que sua mãe dizia.

-Então ela é uma atriz melhor que você. Por mais que eu não confie nela, coloco a mão no fogo sobre esse assunto.

-Só vou acreditar vendo.

***

Cameron acordou com o barulho de seu celular. Ele tinha acabado por dormir depois de tanto chorar. A tela indicava que era Bert quem estava ligando:

-Oi, Bert.

-Está sozinho?

-Sim. Steffan foi pra França resolver o assunto da mãe dele. Por quê?

-Ótimo. Pode me contar tudo agora. Eu te conheço. Nunca te vi tão murcho desse jeito. O que aconteceu?

Cameron até poderia conseguir enganar Steffan, mas Bert era muito mais observador.

-Então você notou...?

-Claro. Você é um excelente ator, mas, nessas horas, não consegue esconder seus sentimentos.

-É só que... as pessoas estão sendo super cruéis nos comentários da foto. Eu sei que eu não deveria me importar, que eu deveria ficar feliz por ter Steffan ao meu lado, mas... é difícil quando as pessoas ficam falando mal de mim.

-Ah, Camcam... Eu imagino. Se quiser passar sua senha do Insta, eu oculto TODOS os comentários maldosos, prometo. Coloco até um filtro pra algumas palavras. O que acha?

-Não, eu tenho que aprender a viver com isso. Mas é difícil não imaginar que Steffan estaria melhor com uma pessoa famosa como ele.

-Eu não estou ouvindo isso. Eu prefiro acreditar que tive uma alucinação agora. -Bert deu uma bronca no amigo. -Você vivia choramingando que esse era o homem dos seus sonhos, e agora vai abrir mão dele por causa de comentários de gente que não tem coisa melhor pra fazer? Pessoas felizes e ocupadas não têm tempo para ficarem escrevendo comentários ruins. Você deveria viver sua melhor vida ao lado de Steffan, isso sim.

-Eu sei, eu sei disso tudo, mas ainda dói pensar no que dizem de mim.

-Por que não fala isso pro seu namorado?

-Ele vai falar que é besteira. -Cameron sabia que Steffan daria o mesmo conselho que seu amigo tinha acabado de dar.

-Não senhor. Primeiro que se quiser fazer esse relacionamento funcionar, precisa ser honesto com ele. E ele é um dos atores mais famosos do mundo. As pessoas falam mal dele TODO SANTO DIA. Não tem uma foto que ele poste, um filme que ele faça, nadinha... tudo rende uma matéria numa revista, vídeos de mais de 3 horas avaliando todas as reações dele, etc. Se alguém é profissional em conviver com a opinião dos outros, é o seu namorado.

Cameron não tinha pensado nisso. Era verdade que Steffan tinha ficado tranquilo enquanto lia os comentários, o que devia ser uma habilidade adquirida.

-Bert, você é um gênio.

-Eu sei disso. Não fique pra baixo com o que as pessoas que nem te conhecem falam. Eu estou aqui pro que você precisar.


Um Ato de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora