S03E02

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Cameron esperou e esperou mais um pouco, mas a proposta da nova temporada não chegava para ele. Determinado que tinha apenas perdido a entrega, até passou alguns dias na sua kitnet, mas não recebeu nada: nenhuma carta, nenhum email, nenhuma ligação. Absolutamente nada.

Cameron tentava não pensar no pior, mas começava a pensar que talvez a série fosse cancelada, por isso ainda não tivesse saído em nenhum site sobre o assunto, por mais que os fãs estivessem implorando por mais uma temporada. Até ele estava animado, tendo começado a ler os mangás, essa parecia ser a parte mais divertida.

E nem era só isso que o incomodava: ele nem conseguia mais dormir direito em seu sofá-cama. Ele esperava que fosse por causa da qualidade, não porque Steffan não estava do seu lado. De certa forma, ele até estava se Cameron considerasse os pôsteres que ainda tinha do francês. Talvez fosse hora de tirar aquilo das paredes (mesmo que ainda não estivesse pronto para jogar fora).

Ele tentava controlar sua ansiedade, mas era difícil ficar longe do namorado, mesmo que fosse apenas uma semana. Steffan sabia se fazer presente quando estava do seu lado, mas, à distância, ele demorava horas para responder mensagens e quase nunca atendia ligações.

Cameron sabia que era um problema que o ator francês sempre teve, mas achou que iria melhorar quando estivessem namorando de fato. Ele odiava isso, parecia que a distância o deixava inseguro, mas ele queria ter um relacionamento mais forte e estável, acreditar que Steffan tinha mudado e que os casos com outros homens aleatórios tinham ficado no passado. Ele nem tinha motivo para desconfiar, já que mesmo antes de namorarem de fato, eles tinham sido exclusivos sem problema nenhum, mas era difícil confiar tendo um namorado tão bonito e famoso.

Cameron suspirou, olhando para o teto, pensando que talvez Steffan não fosse o único que precisava de terapia. Ele não poderia sugerir terapia de casal, mas talvez devesse ir atrás de um terapeuta individual, mesmo que fosse difícil desabafar sem poder dizer quem estava namorando.

***

Steffan também se sentia um pouco ansioso, mas o motivo não era ciúmes ou algo do tipo. Por causa da demora para enviarem o contrato para Cameron, ele resolveu mexer alguns pauzinhos, descobrindo que ele não estaria no elenco da próxima temporada.

Conhecendo seu namorado, aquela não era uma notícia que ele aceitaria facilmente. Além disso, era melhor contar aquilo pessoalmente, ao invés de mandar uma mensagem ou fazer uma ligação.

Steffan até pensou em fazer "birra" e dizer que apenas iria assinar o contrato se Cameron fosse chamado também, sabendo que tinha esse poder, mas parecia errado fazer isso pelas costas dele.

Steffan começava a se surpreender com o quanto pensava sobre Cameron antes de agir: se sua decisão iria afetá-lo negativamente; o que ele iria preferir; tentar se colocar no lugar dele. Para o francês, aquilo era novidade. Ele nunca tinha se preocupado dessa forma com alguém até então. Seria mais simples apenas levar em consideração o que ele queria, como fazia antes.

Steffan odiava concordar com seu psicólogo, mas estava tentando ser mais aberto a novas experiências e sentimentos, mesmo que acabasse vulnerável no final.

Se tudo ocorresse como ele esperava, veria Cameron em alguns dias, então poderia dizer tudo que estava pensando. Até lá, tinha Ayla para fazer companhia.

Como sempre, ela tinha escolhido um bar para tentar se divertir um pouco com o amigo. A cantora não se envergonhava em confessar que conhecia ao menos um bar em cada cidade que frequentava, tendo selecionado apenas os que eram menos conhecidos, onde poderia beber sem se preocupar com fotos sendo tiradas. Porém, quando o assunto era Los Angeles, era cada vez mais difícil encontrar um bar assim. Toda vez que encontrava, alguém postava na internet sobre o local, numa daquelas contas voltadas para descobrir estabelecimentos underground, então tinha que mudar o tempo todo.

-Eu vou começar a cobrar se você falar sobre Cameron mais uma vez. -Ayla resmungou. -Eu achava que você era pior quando não conseguia ver um homem passando na sua frente que já queria dar em cima, mas estava errada. Você é mil vezes pior quando está apaixonado.

-Eu não estou apaixonado.

-Tudo bem, eu também estou passando pelos cinco estágios do luto depois de ter perdido meu companheiro de festas. -Ela fingiu que estava chorando. -Logo você chega na aceitação.

-Ok, eu não vou falar nem pensar nele pelo resto do dia. Vai ser simples, era o que eu fazia até alguns meses atrás.

Ayla riu, mas resolveu que seria engraçado ver o amigo tentando não falar sobre o namorado dele.

-Está bem. Como eu estava dizendo antes de você desenterrar um caminhão sobre seu relacionamento, eu mudei de produtor, acho que dessa vez eu quero tentar algo mais dramático, sobre perdas e fim de relacionamentos. Sair dessa vibe de amor romântico que adolescentes acreditam. Bom, adolescentes e você. -Ela não conseguia se impedir de caçoar dele. -Se bem que aceito já que é o seu primeiro amor.

-Não é o meu primeiro-

Steffan parou de falar, assustado em pensar que seu primeiro amor estava acontecendo aos 28 anos de idade. Ele sempre tinha acreditado ser mais precoce que o comum, mas parecia que estava enganado. Por mais que tivesse começado a trabalhar muito cedo, não tinha experiência nenhuma em lidar com seus sentimentos, mesmo os positivos.

-Ok, talvez seja o primeiro.

-Viu? Já estava pensando nele, né? Eu deveria ter apostado.

-Não. Eu estava pensando que é melhor mesmo mudar um pouco seu estilo se não quiser ficar desempregada cedo.

-Tudo bem, eu tenho um amigo rico que pode me bancar se alguma coisa acontecer.

Steffan apontou para si mesmo, como se perguntasse se ela estava falando dele.

-Acertou. -Ela apontou para o copo na frente do amigo. -Não está bebendo mais?

-Estou diminuindo um pouco, porque o... -Steffan se impediu de falar. -Porque faz mal pra saúde.

-Aham, e todos sabem o quanto você é preocupado com a sua saúde. Se for ficar todo certinho, é melhor eu arranjar outro amigo?

-Eu não mudei tanto assim. -Steffan resolveu virar o copo de whisky. -Viu?

-Agora está falando a minha língua. Vamos nos divertir!

Um Ato de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora