S02E22

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Era óbvio que Sebastian não queria que todos ficassem sabendo de sua vida íntima. Era pior ainda que o assunto surgisse logo depois do julgamento. Com certeza diriam que ele só gostava de homens porque foi abusado quando criança. Ele sabia que um dia essa história acabaria vindo a público, só não esperava que fosse assim, com sua mãe dizendo tudo.

-Não contou pra ele? Não deve ter contado pra ninguém, né? Você sempre gostou de esconder sua vida pessoal. Como vai fazer quando todos souberem? Vai dizer que é mentira ou vai se assumir? Imagino como as suas fãs irão reagir. Acha que vão ficar decepcionadas? -A mãe riu um pouco, notando que o silêncio de Steffan só podia significar que ele estava sendo afetado pelo assunto. -Aposto que alguns homens com quem já teve relacionamento vão se aproveitar do momento para dar entrevistas e contar tudo. Na verdade, alguns já falam... só que ninguém acredita.

Steffan suspirou. Quando esse era o assunto, ele preferia ficar quieto. Ele acreditava que sua vida pessoal não tinha nada a ver com seus fãs, mas sabia que alguns fãs sentiam que tinham direito sobre sua vida e decisões, e esses sim iriam se doer com essa notícia.

-Até dizem que tem problemas com "você-sabe-o-que". Sei que nenhum homem quer pedir ajuda pra mãe sobre o assunto, mas eu conheço um médico muito bom que cuida disso.

-Pare com isso. -Steffan não podia deixar que ela "ganhasse" dele apenas porque tinha todas essas informações dele. Ele também sabia o pior sobre sua mãe, mas não tinha interesse algum em usar nada daquilo contra ela. -Você sabe que falar isso apenas vai nos distanciar mais ainda, mas tome a decisão que quiser.

A mãe estranhou que essa fosse a resposta. Antigamente, ele chorava e implorava para que ela não dissesse nada sobre ele em entrevistas.

-Então não se importa mais com sua reputação?

Ele deu de ombros. Sempre dava para consertar uma reputação ruim. Mesmo atores que faziam os atos mais absurdos e até cometiam crimes, ainda assim eram perdoados. Poucos fãs continuavam a carregar rancor pelo resto da carreira dos atores.

-Não vai me perguntar o que eu quero para não dizer nada? -A mãe finalmente chegou onde ela queria. -Se prometer que vai me dar uma hora do seu tempo uma vez por semana, posso ficar calada.

-Eu preferia ser enforcado em praça pública, mas agradeço pela oferta. -Steffan respirou fundo. Nada do que sua mãe diria importava. Mesmo se ela falasse sobre seu pai ou sua orientação sexual, o que realmente importava era que ele sabia que tinha em quem confiar: Ayla, aparentemente Corneille e, acima de tudo havia Cameron. Se ele tivesse apoio, conseguiria seguir em frente.

-Madame Leblanc? -Um funcionário a chamou para a audiência.

A mãe se levantou sem dizer mais nada. Ela também estava cansada daquela atitude de Steffan. Se ele fosse alguns anos mais novo, ela resolveria esse assunto facilmente com algumas ameaças e talvez algumas palmadas.

Bob assistia em sua televisão o julgamento. O mundo todo parecia ter parado para ver a resolução daquele caso, então os canais estavam oferecendo tradução simultânea, além de comentários sobre os procedimentos.

-Nessa etapa, estão chamando as pessoas que assinaram os contratos pelos atores mirins. Na maioria dos casos, foram as mães. Acabamos de ouvir duas mães, e agora é a vez de Cosette Leblanc, o momento mais aguardado do dia, depois da sentença, é claro. O que podemos esperar desse depoimento?

-É difícil dizer. A mãe de Steffan costumava ser bem ativa e aparecer em diversos programas ao lado do filho, fez até algumas participações solo. De uns tempos pra cá, ela parece ter caído no esquecimento, não apenas da mídia, mas de seu filho também. Temos várias notícias de que os dois não se dão bem. É esperar para ver. Olha, ela está jurando dizer a verdade.

-Coitado do Steffan. -Fred comentou, sentando ao lado de Bob, que se surpreendeu. Sinceramente, ele achava que Fred ainda estivesse tomando banho. -Ontem já foi um dia difícil, mas hoje ainda estão focados nele mesmo indiretamente.

-Ele deve estar acostumado com a atenção. -Bob não conseguia imaginar o colega de trabalho sofrendo com comentários alheios, mas era difícil saber da vida pessoal de alguém tão fechado.

-É, mas... você tem notícias dele?

-Não.

-Achei que fossem amigos. Não mandou nenhuma mensagem?

-Não, e ele nunca responde mesmo. -Bob sabia que não adiantava tentar falar com Steffan.

-Será que ele está sozinho num momento desses? -Fred torcia para que a resposta fosse negativa.

-Talvez Ayla esteja lá. -Bob concluiu, puxando Fred para mais perto dele.

-Será que Cameron está? Os dois parecem se dar bem...

-Bem? Cameron deve ser masoquista por continuar a perseguir Steffan. Bom, não sei se é mais masoquista que você.

-Ei!

Steffan esperava ansiosamente. Ele preferia saber o que estava acontecendo lá dentro. Se sua mãe estivesse fazendo sua caveira, ele preferia estar preparado, por mais que nunca conseguisse se preparar para o que ela fazia.

Em sua mente, várias possibilidades. Era como ser o gato de Schrödinger: ele estava dentro da caixa, e quando a porta do julgamento fosse aberta, finalmente saberia se sua carreira estava viva ou morta. Até lá, as duas possibilidades eram igualmente prováveis. Se bem que, conhecendo sua mãe, ele sabia que era mais possível que ela seguisse com a ameaça que tinha feito.

Antigamente, ela já tinha jogado brinquedos fora e rasgado livros depois de ameaçar que faria isso. Ele não podia dizer que conhecia sua mãe completamente, mas ela não era do tipo de jogar palavras ao vento. Ela pesava suas palavras, sabia exatamente o que dizia e, quando fazia ameaças, estava pronta para levar a história a cabo. Quando criança, era normal extrapolar regras e testar até onde os pais estavam dispostos a ceder, mas Steffan tinha aprendido muito cedo que sua mãe não cedia em nada, que suas regras não era flexíveis, e que a forma mais fácil de conviver com ela era concordar com tudo sem reclamar.

Talvez ele devesse ter feito isso: concordado em falar com ela uma vez por semana para salvar sua pele. No final, ele não se preocupava em voltar atrás com sua palavra. Ela ficaria brava, mas não teria o que fazer além de continuar com a perseguição.

Ele suspirou, sentindo seu coração apertado. A sua preocupação não deveria ser apenas sua mãe. Ele tinha contado tudo sobre seu passado, e não sabia como reagir caso aquele homem continuasse a viver em liberdade. Talvez virasse apenas uma bola de neve, e até acusassem Steffan de ter mentido. Ele precisava que o julgamento fosse em seu favor, principalmente se sua mãe fizesse um espetáculo, aquela era a única forma de salvar sua carreira.

-Le juge commencera à lire la sentence. (O juiz vai iniciar a leitura da sentença.)

Um Ato de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora