S02E07

12 4 0
                                    

Cameron estava ansioso, parecia que Steffan iria contar algo extremamente sério, um segredo que ele nunca devia ter contado antes. Se aquele fosse o caso, só podia significar que eles iriam começar a namorar em breve. Era isso que ele achava, que se a confiança estava nesse nível, só podia ter uma explicação. E ele nem sabia por onde começar se fossem namorar sério. Será que poderiam ser vistos em público? Será que iriam conhecer as famílias um do outro, e talvez até iriam juntos para premiações?

Ele encarou Steffan com atenção, esperando que o ator selecionasse as palavras:

-Eu recebi uma intimação.

-Intimação? Como assim? -Cameron raramente ouvia aquela palavra, mas sempre a associava a questões de pensão alimentícia, mas aquele não poderia ser o caso. Ele achava que Steffan não tinha filho algum, se tivesse, era totalmente desconhecido. -Você tem filhos?

-O quê? -Steffan fez uma expressão de nojo. Ele tinha esperanças de acabar com o nome Leblanc quando morresse, mas sabia que seu pai não tinha ajudado ao fazer tantos filhos, e, no caso de Corneille, ele tinha o sobrenome do pai dele, que Steffan nem era capaz de lembrar qual era. De qualquer forma, ele não queria ter filhos de jeito nenhum. -Não. É sobre aquela foto.

-Ah... realmente parecia com você... -Cameron voltou a se deitar, achando que o assunto nem era tão importante assim, se fosse apenas para falar que a foto não era dele. Era claro que ele tinha ficado com a pulga atrás da orelha durante a première, mas nem tinha mais pensado no assunto desde então. -Mas não adianta só falar que não é você e só? Vai ter que ir num julgamento pra isso?

Steffan apenas concordou.

-Que saco. Vai ser que nem na televisão? Sabe? Que nem naquela série que você participou que todo episódio acaba com um julgamento?

-Deve ter alguma semelhança com a realidade, com certeza.

-Que legal. Quer dizer... deve ser estranho ter que ficar na frente de um monte de gente. Eu odeio falar em público. E ainda mais se for na frente de um pedófilo. -Cameron fingiu que ia vomitar, mas parou quando notou que Steffan ainda estava sério. Era verdade que ele tinha duvidado do que o ator disse sobre a foto, principalmente depois do que aconteceu na première. Ele não sabia se deveria perguntar. Como poderia? Era algo tão pessoal e tão horrível. -Steffan...?

-Hm? -Ele finalmente encarou Cameron, tendo perdido toda a coragem que tinha momentos atrás para contar tudo.

-E se fosse você na foto? O que você faria?

Steffan estranhou a pergunta, mas resolveu usar dessa suposição para pensar um pouco. O que ele poderia fazer? Se dissesse toda a verdade, provavelmente estaria enterrando sua carreira, além das implicações que teria com a sua mãe. Por mais que não gostasse dela, não desejava que ela fosse presa. Além disso, não parecia que o seu testemunho iria ajudar em algo, já que havia outras vítimas. Se ele deixasse a responsabilidade de prender aquele homem sobre elas, tudo terminaria bem, com certeza, sem que seu nome ficasse associado com esse escândalo. E, mesmo se ignorasse tudo isso, ele sabia que era incapaz de apontar para aquele homem e dizer toda a verdade. Aquilo seria alimentar uma chama que ele tentava deixar apagada todos os dias. E de que serviria? Era passado. Mesmo que o homem fosse preso e assassinado na cadeia, nada iria mudar. Todos os traumas e pesadelos continuariam lá.

-Steffan...? -Cameron o chamou de volta para a realidade.

-Eu não sei. Se fosse como você disse, já faz tanto tempo, talvez ninguém se lembre disso. Talvez o crime até tenha prescrito?

Cameron não gostou da resposta. Ele achou que era uma resposta totalmente oposta ao que ele esperava, e cada vez mais parecia que a foto era de Steffan.

-O certo não seria ir até a polícia?

-Provavelmente. -Steffan se deitou, sentindo que aquela conversa o traria dor de cabeça se não cortasse o assunto pela raiz. -O que você faria? -Ele deixou sua curiosidade falar mais alto.

-O que eu faria?! Eu iria destruir a vida de um homem assim! Como alguém pode simplesmente pensar em crianças dessa forma?! Ele é um nojento! Mesmo se eu fosse uma vítima dele, ia lutar e talvez até juntar mais vítimas para que ele seja preso para sempre! Eu nunca ia querer chegar perto de alguém assim, nem na mesma sala!

Steffan sabia que não sentia essa raiva há muitos anos. Depois de tanto tempo, só sobraram as lembranças e a impotência que ele sentia por nunca ter feito nada a respeito.

-Sem querer estourar sua bolha, você apertou a mão dele.

-Como-

Cameron parou de falar, finalmente terminando de conectar os pontos.

-Era o Diretor Cameron, né? Como sabe disso? -Se bem que ele já imaginava a resposta.

-Na intimação informam quais são as partes envolvidas. -Era verdade, mas não era por isso que Steffan sabia.

-Nossa... então eu não tenho um bom sensor pra essas coisas...

***

Enquanto isso, Corneille estava no hospital com a sua mãe. Era a segunda vez essa semana que ela simplesmente desmaiava sem motivo aparente, mas ele sabia que devia ser ansiedade por causa de Steffan.

Desde a viagem pra Inglaterra, sua mãe não parecia ela mesma, ela mal tinha trocado uma palavra com ele enquanto voltavam. Ele só conseguia falar com ela quando acabavam assim, no hospital, e apenas por ser o contato de emergência dela.

Ele estava sentado na recepção, mandando mensagem para sua noiva, contando o que estava acontecendo, mas, para ser sincero, ele achava que as coisas só melhorariam depois desse julgamento, então imaginava se era melhor mudar a data do casamento para depois de tudo isso. Ele não queria ter que fazer isso, principalmente quando sabia que sua mãe podia decidir não aparecer no casamento de uma hora pra outra.

-Monsieur Corneille Lavigne?

Ele se levantou, vendo o médico.

-Malgré l'hypertension artérielle, elle semble aller bien. Elle peut rentrer chez elle maintenant. (Apesar da pressão alta, ela está bem. Ela já pode ir pra casa.) -O médico disse.

-Merci. -Corneille estava aliviado que não era nenhum problema de saúde sério, mas sabia que, quando o assunto era Steffan, sua mãe poderia surtar até acabar num sanatório ou morrer.

Depois de falar com o médico, ele entrou no quarto onde Cosette estava. Ela estava estranhamente quieta, olhando para o nada.

-Mãe, disseram que já pode ir pra casa. -Corneille começou a arrumar as coisas da mãe, pegando o celular dela e colocando na bolsa, mas ela continuou parada. -Mãe. Mãe!

Ela finalmente se virou, olhando para Corneille.

-Vamos. Vou te deixar na sua casa.

Ela concordou, finalmente levantando, seus movimentos ainda lentos. O filho queria acreditar que era culpa do medicamento, mas achava que ela estava nessa situação há algum tempo.

-Mãe, se continuar assim, não é melhor começar a tomar remédio pra ansiedade? Ou talvez ver um psicólogo?

-Eu estraguei tudo... -Foi tudo o que ela disse. Em algum lugar, bem no fundo, ela torcia para que Steffan tivesse esquecido tudo, mas, depois da conversa que tiveram, era óbvio que ele lembrava e, não apenas isso, também a culpava pelo que tinha acontecido.

-Mãe, é impossível ter estragado tudo, sempre pode pedir desculpas e tentar recomeçar. -Corneille queria acreditar naquilo, mas seu irmão (se é que ele ainda tinha o direito de chamá-lo assim) estava determinado em afastar sua mãe. -Por que não dá um tempo pra ele? Assim as coisas se acalmam um pouco. Você sempre correu atrás dele nesses anos, não é melhor esperar que ele te procure dessa vez?

Cosette não respondeu, pensando que seu filho mais novo jamais iria procurá-la. Ele não tinha motivos pra isso, e tinha sido persistente durante esses nove anos.

Corneille suspirou. Ele queria que sua família pudesse voltar ao normal ou, pelo menos, poder ficar longe de toda essa história.

Um Ato de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora