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O homem estava sentado no restaurante, apenas com um copo d'água em sua frente. Ele conferiu seu relógio novamente, mas estava certo: ela tinha atrasado mais de duas horas. Ele já tinha almoçado, pedido sobremesa, além de enfrentar o olhar de todos os funcionários que pareciam implorar para que ele desocupasse a mesa, afinal, tudo naquele restaurante funcionava à base de reservas. Ele já se preparava para ir embora quando ela apareceu:

-Que restaurante lindo! -Cosette se sentou, observando o lugar. -Vou tirar uma foto e postar no Instagram.

-Pourquoi es-tu si en retard?! (Por que você está tão atrasada?!) -O homem protestou.

-Em inglês, eu já avisei. Estava ouvindo um podcast. Sobre seu irmão. Eu tentei falar com ele, mas ele não me atende de jeito nenhum. Estou pensando em ir para os EUA tentar de novo, mas não sei muito da agenda dele.

-Se ele quisesse te ver, ele viria, né? -Corneille respondeu. Ele não entendia qual era o fascínio de sua mãe com seu irmão mais novo. Os dois nunca se deram bem, a vida toda, mas ela continuava a insistir.

-Ele está ocupado, você sabe disso. -Ela sentiu seu celular vibrando, tirando do bolso para ver notificação do fã clube. A publicação dizia ter visto Steffan no aeroporto de Los Angeles. -Olha essa foto, ele vai pegar um voo? Será que vem pra Europa? Ou será que está chegando lá?

-Mãe... eu te chamei pra te entregar isso. -Ele estendeu o convite. Era o convite de seu casamento. Ele já namorava há cinco anos, tinha noivado há dois anos, até já moravam juntos e tinham um filho. Finalmente era hora de dizer sim numa igreja.

-Você chamou seu irmão?

Corneille se segurou para não suspirar. Ele já tinha brigado com a mãe inúmeras vezes por causa desse favoritismo, não que parecesse importar. Por um lado, ele até entendia, já que Steffan era apenas seu meio-irmão, e o pai dele nunca esteve em cena, diferente do pai de Corneille. Talvez sua mãe apenas sentisse que era a única pessoa na vida do filho mais novo.

-Ainda não. Eu quis te convidar primeiro, vou mandar os outros pelo correio.

-Será que ele vai vir?

-Ele não veio ver o nascimento do primeiro sobrinho, e eu avisei com meses de antecedência. Meu filho tem quase dois anos e ainda não conheceu o tio, só por foto.

-Ele tem andado muito ocupado mesmo. -A mãe abriu o cardápio. -Ah, ele gostava tanto de almôndegas. Sempre pedia, lembra?

***

Steffan estava sentado em sua banheira, deixando a água cair em suas costas. Alguns dias eram fáceis, mas aquele parecia o pior de todos.

Não era como se um dia se passasse sem que ele se lembrasse do que passou, era como uma tatuagem, uma marca eterna da qual ele jamais poderia se livrar por mais que tentasse, mas, alguns dias, era fácil conviver com isso, deixar no fundo de sua mente e fingir que nada aconteceu.

"Tu rêvais. Arrêtez d'inventer des choses. Ils ont juste pris des photos de toi. Personne ne t'a touché."

Ele bateu algumas vezes a cabeça contra a parede.

-Pare de pensar nisso, droga!

Seu celular começou a tocar, e ele se levantou para ver quem era. Estranhamente, seu irmão o ligava. Os dois nunca se falavam, então ele imaginava se havia algo de errado. Seu coração disparou quando ele imaginou que poderia ter acontecido um acidente com sua mãe.

-Corneille? -Steffan perguntou.

-Não, filho. Sou eu. Por que não está me-

Steffan desligou a ligação, jogando o celular contra a parede. Ele não queria ouvir aquela voz, não naquele dia.

Um Ato de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora