S02E19

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Cameron ficou olhando pelo corredor, tentando reconhecer Steffan. Ele já tinha ouvido falar que o cérebro reconhecia primeiro pessoas que amamos, mas ele não podia ter certeza disso, já que todos deviam reconhecer Steffan facilmente por causa de sua fama. Ainda assim, ele queria ser o primeiro a identificá-lo, até antes do irmão dele.

Corneille soltou um longo suspiro, tendo reconhecido sua mãe. Ele nem sabia como iria encará-la, não teve tempo para pensar sobre isso. Se ele sentia que tinha falhado como irmão, ele não sabia como sua mãe estava se sentindo, mas, de alguma forma, ele a culpava. Ela podia não ter perpetuado o crime, mas Corneille não conseguia ignorar a responsabilidade que a mãe tinha, não apenas por ser mãe e ter que cuidar da segurança do filho, mas também por levar Steffan para a agência praticamente toda semana.

-Seu irmão já saiu? -Foi a primeira pergunta dela.

-Ainda não, mas mãe-

-Oh, você é Cameron McMillian.

O ator britânico se assustou ao ouvir seu nome. Ele sabia que não era famoso o suficiente para ser reconhecido pelo nome, ainda mais pela mãe de Steffan. Ele só conseguiu concordar, chocado.

-Vocês se conhecem? -Corneille estranhou.

-Não, mas ele trabalhou com seu irmão. Aliás, cadê ele? Eu preciso falar com ele. -Ela parecia um pouco perdida, olhando para trás o tempo todo. -Ele tinha dito que ia negar tudo. Por que mudou de ideia? Eu achei que...

-VOCÊ SABIA O TEMPO TODO?! -Corneille sentiu seu estômago revirar. Aliás, ele nem entendia como ela tinha melhorado. Ela estava sem falar nada, passando mal várias vezes por causa do julgamento. Era só fingimento para chamar a atenção do Steffan? -Por que não fez nada?!

Ela se encolheu um pouco, sem esperar essa reação de seu filho mais velho.

-Você sabe como as crianças inventam coisas... -Ela tentou se explicar. -E eu tenho que voltar amanhã pra me explicar de qualquer jeito.

Corneille nem sabia como responder. Todas as peças pareciam se encaixar: Steffan tentou pedir ajuda pra ela, mas ela ignorou. Por isso ele tinha cortado relações com ela assim que fez 18 anos. Por isso ele sempre a olhava daquela forma.

-Eu preciso falar com ele para-

-Você precisa sair daqui. Rápido. Sabe que ele não quer te ver. Aliás, ninguém aqui quer ver você. -Era a primeira vez que ele falava assim com a sua mãe, mas, se ele quisesse qualquer tipo de relacionamento com seu irmão, ele tinha que começar cortando o mal pela raiz, e isso significava finalmente escolher o lado certo.

Cosette ficou quieta, assustada em receber o mesmo tratamento de Steffan, mas dessa vez vinha de Corneille. Ela admitiria facilmente que machucava menos. Steffan sempre tinha sido seu preferido, sua pequena estrela, que vestia e fazia exatamente o que ela queria. Ela tinha planejado o futuro dele desde que estava grávida, rezando para que dessa vez ela tivesse um filho bonito o suficiente para ser famoso. Ela até escolheu o pai dele a dedo: um peso morto para não brigar pela guarda dele, mas muito bonito. Ela não iria deixar que tudo desmoronasse depois de tanto esforço, depois de ter feito Steffan ser quem era, ela jamais iria simplesmente ser deixada para trás.

-Fale pra ele me ligar. -Ela respondeu com um sorriso falso. -Ou eu vou contar tudo amanhã. Até sobre o pai dele.

-Mãe!

Cameron tombou a cabeça. Ele achou que Steffan não tivesse pai. Apesar de ser tão famoso, ninguém sabia nada sobre o assunto. Além disso, ele ainda estava surpreso que os dois estivessem falando em inglês. Não parecia ser por causa de sua presença, mas sim que estavam acostumados a conversar dessa forma.

-Até amanhã. -Ela finalmente foi embora sem precisar que Corneille pedisse novamente.

-Que droga. Isso parece exatamente com o que chamam estar entre a cruz e a espada. -Corneille reclamou. -Se você tiver alguma ideia, eu aceito.

-Hm... talvez ela acorde sem voz amanhã... -Cameron não sabia como ajudar nesse caso, parecia uma relação complicada demais para ele, ou que ainda tinham informações que ele desconhecia, o que impedia que ele ajudasse.

-Bem que eu queria, mas ela tem uma garganta boa. -Ele era capaz de se lembrar dos gritos de sua mãe com o Steffan quando ele fazia qualquer coisa que ela não gostava.

Uma vez que ele nunca iria esquecer, já que tinha sido punido junto com Steffan, foi quando o levou para uma festa de aniversário escondido. Seu irmão tinha até mostrado fotos de festas de aniversário que tinha recortado de revistas, dizendo que era seu sonho poder ver como era de verdade. Corneille achou graça, ainda mais porque já tinha ido em tantas, mesmo tendo apenas 10 anos. Então, aproveitando que sua mãe foi no mercado, arrastou Steffan junto para a festa de um colega de sala.

A mãe foi na festa e tirou os dois de lá à força berrando com Steffan o tempo todo, a maior parte do que ela dizia eram gritos indecifráveis, mas ela também questionava se Steffan a odiava, ou o motivo de gostar de fazê-la sofrer. Corneille sentiu tanta vergonha, nem queria voltar para a escola na manhã seguinte. Além disso, foi forçado a escrever tudo que Steffan tinha comido, e quando escreveu alguma fritura, a mãe pegou Steffan no colo e o levou para o banheiro. Ele era muito pequeno para entender, achando que o irmão estava gritando porque tinha apanhado, mas, agora quando parava para pensar, ela tinha o feito vomitar tudo.

Sua punição foi bem menor, ficando proibido de andar de bicicleta por algumas semanas. Já Steffan... por alguns meses, ficava trancado no quarto toda vez que a mãe tinha que sair pra ir ao mercado para não poder fugir de novo.

Corneille parou de pensar no passado assim que viu o rosto do irmão. Seria impossível não ver: todos estavam olhando para ele.

Steffan caminhou até os dois, pensando que era estranho ver seu irmão ao lado de Cameron, ainda mais depois de tudo que ele tinha dito para Corneille.

Cameron não pensou duas vezes antes de abraçar seu ídolo:

-Você foi muito corajoso. Parabéns.

-Alguém me deu um empurrãozinho. -Ele brincou, mas estava mentalmente cansado. Tinha tomado todas as suas forças conseguir contar tudo, então ele só queria dormir pelo resto do dia e ignorar seu celular.

-Steffan. -Corneille o chamou.

Ele soltou Cameron e olhou para seu irmão, vendo que os olhos dele estavam vermelhos e inchados. Steffan teve que desviar seu olhar. Ele se sentia ridículo por ter tratado seu irmão mal sem que ele tivesse culpa nenhuma, mas antes de tudo isso acontecer, sempre parecia que todos eram seus inimigos, até que Cameron mostrasse que não era bem assim.

-Me desculpe. -Corneille não sabia o que dizer, mas tentou ouvir seu coração. -Eu não sabia. Eu não notei. Mas eu estou aqui. Quero poder ajudar como puder e, se você quiser, voltar a ser seu irmão.

-Podemos tentar isso. -Steffan não daria o braço a torcer completamente, mas estava feliz em tentar recomeçar. Ele sabia que seria um caminho longo, ele ainda tinha ressentimentos porque Corneille tinha sido tratado como uma criança comum, enquanto ele tinha que ser o pequeno ator que sua mãe queria, mas achava que conseguiriam ser irmãos que se falavam uma vez por semana e se viam algumas vezes no ano.

-E eu não vou tomar todo o crédito pelo que eu disse. Cameron ajudou bastante. Não sabia que tinha um colega de trabalho como ele. -Corneille colocou a mão em sua nuca, sem coragem de admitir que teria fugido se Cameron não tivesse o impedido.

-Colega de trabalho? -Steffan olhou para Cameron, pensando que já passava da hora de promovê-lo. -Somos namorados.

-São?

-Somos?!

Um Ato de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora