Capitulo 3

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Maitê

Eu me sentia triste com alguns casos da clínica, a maioria que estava aqui era a descaso familiar, onde a família não queria saber deles e por isso os largavam sob nossa responsabilidade, Leon era o caso oposto, sofria de esquizofrenia e a doença só se manifestou quando perdeu sua mãe pro câncer, sua tia foi a única que sobrou mais ainda sim o trouxe pra clínica para tratamento mais fazia questão de ligar todos os dias e perguntar se poderia levá-lo pra casa.

Estava sentada em sua cama com as pernas dobradas entre elas e ele estava a minha frente olhando para mãos com culpa

Maitê: Quer me contar oque aconteceu ?

Leon: Não sei dizer .. estava tomando café e do nada as vozes começaram, me mandaram ir atrás dela, eu tentei não ir, mais elas falaram mais alto e então eu fui.

Maitê: Mandaram você bater nela ?

Leon: Ela estava me espionando e rindo, fiquei nervoso, não fiz por mal

Apoiei minha mão em sua bochecha e acariciei, Leon tinha apenas 17 anos, era novo demais e isso me partia

Leon: Pode fazer elas se calarem ? As vozes ?

Maitê: Vou tentar ..

Estiquei pra ele um copinho com alguns comprimidos

Leon: Vai me ajudar ?

Assenti e ele virou o mesmo e tomou um gole d'água, um pigarreio chamou minha atenção quando vi Henrique parado na porta encarando nós dois, fala sério, esse homem estava em todos os lugares ?!
Me levantei da cama e o encarei pronta pra xingar até ele apontar pra Leon e eu notar seu distintivo pendurado no pescoço, Leon encarou Henrique com medo e não era pra menos, o homem estava com o semblante fechado e com um distintivo maior que eu

Maitê: Podemos conversar ?

Ele ergueu uma sobrancelha e vi ele analisar as opções mais não dei tempo demais pra pensar, agarrei seu braço e o puxei pra fora do quarto o encarando

Maitê: Oque faz aqui ?

Henrique: Trabalhando e você ?

O olhei com desdém quando ele me encarou novamente parecendo só notar agora o jaleco

Henrique: É médica ?

Maitê: Sou enfermeira

Henrique: Não tem cara ! Tá mais pra paciente

Sabia que ele estava devolvendo a provocação da noite em que nos conhecemos

Henrique: Vim pegar o depoimento dele, ele foi acusado de agressão

Maitê: Olha, ele está assustado, tá sendo novo pra ele assimilar tudo isso, não assuste mais ele por favor

Henrique: Por favor ?! Você conhece essa palavra ?

Bufei o vendo sorrir

Maitê: Leon tem apenas 17 anos Henrique, ele é uma criança, descobriu que sofria de esquizofrenia depois que a mãe morreu a três meses atrás, ele está na clínica desde então, a tia liga todos os dias pedindo pra deixar ele ir pra casa, pra ir se adaptando e então deixamos e tudo desandou

Henrique: Devo culpar quem então ?

Maitê: Ele tem uma perturbação mental, ouve vozes, tem alucinações e está desenvolvendo depressão, você entrar lá não vai ajudar ele em nada, eu posso responder oque quiser, só o deixe quieto por favor

Ao contrário do imaginei Henrique apenas acenou concordando e então sai andando sentindo sua presença atrás de mim, Henrique era bonito e por isso chamava a atenção só não das funcionárias da clínica como das pacientes também.
Entramos na minha sala e logo o vi puxar o porta retrato com a foto de Ada e o colocar no lugar em seguida, me sentei e ele se sentou a minha frente quando começou a fazer perguntas e eu a responder. Em torno de quase meia hora depois ele se levantou e ajeitou a roupa me encarando

Henrique: Obrigado pelos esclarecimentos

Eu apenas assenti quando vi se retirar e automaticamente o segui, havia dois homens na recepção com farda e eles eram realmente bonitos, não tanto quanto Henrique mais o suficiente pra chamar a atenção.

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Estava terminando meu expediente quando meu telefone tocou e vi o nome do meu pai na tela

Maitê: Pai ?

Phill: May, temos um pequeno problema

Maitê: Que tipo de problema ?

Phill: Sua mãe está na delegacia

Afastei o telefone do ouvido encarando o aparelho como se meu pai tivesse enlouquecido

Maitê: Oque ?

Phill: Ela brigou com um policial que queria multar ela, foi presa por desacato

Maitê: Minha mãe tem quantos anos ? Dois ? Estou a caminho

Desliguei o telefone e segui em direção a delegacia, quando cheguei minha mãe já estava na porta com cara de quem não havia feito nada

Maitê: Mãe ..,

Linda: Eu sou inocente

Maitê: É sério isso ?

Linda: Sim

Neguei com a cabeça e me aproximei dela a abraçando

Henrique: Fala sério, quatro vezes em dois dias, quais as chances disso acontecer ?!

Me virei vendo Henrique parado a poucos metros de nós com os braços cruzados

Linda: Se conhecem ?

Não respondemos embora estivéssemos um encarando ao outro, um carro prata parou na nossa frente e minha mãe caminhou até Henrique dando dois tapinhas em seu braço

Linda: Sou Linda, mãe da May, a propósito ela está sem carro e precisa ir pra casa porque está no horário de pegar Ada, você poderia levar ela ? Estou confiando minha filha a você

E assim do nada ela e  meu pai entraram no carro e saíram

Maitê: Inacreditável

Henrique: Eu quem o diga, virei babá agora e não estou sabendo

O olhei incrédula

Maitê: Qual o seu problema comigo em ?

Henrique: Fora que onde quer que eu vire você está lá ? Vamos, vou te levar

Maitê: Não se preocupe Ogro, eu pego um táxi

Henrique: Sabia que eu posso te prender por desacato ?

Maitê: E porque ainda não prendeu ?

Ficamos nos encarando em uma linha de desafio até ele bufar e apontar pra uma Range Rover preta do outro lado da rua

Henrique: Vamos logo ! Não sou do tipo que não faz oque uma senhora pede com tanto carinho igual sua mãe

Seu tom era de puro deboche e eu estava pronta pra revidar quando meu celular apitou e o tirei da bolsa vendo o nome de Lindsey na tela e uma mensagem "Ada já chegou da escola" e eu sabia que estava atrasada e mesmo sem ter vontade alguma, o segui e entrei no carro, essa era uma péssima ideia meu subconsciente me alertava !

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