Vinte e oito

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Sina Deinert's point of view

Quatro semanas depois…

— Estou atrasada? — perguntei. Sabina me olhou por cima dos óculos escuros vintage, um sorrisinho irônico brincando em seus lábios. — A pergunta certa é: estou muito atrasada? — Me encolhi e ela riu. Pelo que eu sabia, aquele lugar só segurava mesas por quinze minutos de tão cheia que era a lista de espera.

— Não, conheço o dono desse restaurante. Não seríamos expulsas — me garantiu enquanto eu me sentava em frente à cadeira dela, que provavelmente custava mais do que qualquer móvel da minha casa. — E se fôssemos, eu faria um escândalo memorável.

— Desculpa. Desde que voltei para a redação, as coisas estão uma loucura. Estou com duas grandes reportagens para fazer e o site precisa ser abastecido todo dia — justifiquei e a morena me observou com curiosidade.

Fora uma grata surpresa descobrir como era bom sair com Sabina. Ela sempre parecia atenta para qualquer coisa que eu falava, tinha um bom humor contagiante e sua influência no mundo cosmopolita de Nova York era, no mínimo, instigante.

Acabamos combinando de fazer alguma atividade juntas, pelo menos, uma vez por semana. No começo, pensei que aquilo tinha sido apenas fruto da boa vontade dela, algo dito da boca pra fora enquanto eu chorava como um bebê. Mas, ao aparecer naquela manhã de sábado, quando eu estava na fossa em meu sofá, percebi que falava muito sério.

Sabina me arrastou para uma sessão de bronzeamento, uma aula experimental de yoga e uma loja recém-inaugurada da Gucci. Não era exatamente meu tipo de programa favorito, porém sua companhia irreverente me fazia ir para qualquer lugar. Até mesmo a um restaurante cuja temática era ouro. Ouro de verdade.

— Eu li a última matéria do site, você tem talento — elogiou no mesmo instante em que o garçom colocou os cardápios à nossa frente. Tentei não arregalar os olhos diante dos preços. Isso sempre fazia Sabina querer usar o cartão ilimitado comigo.

— Obrigada — respondi com um sorriso emocionado. — Tem trocado mensagens com Kevin? — perguntei. Suas bochechas ficaram tão rosadas quanto o conjuntinho de saia e blusa que usava.

— Sim, estamos especialistas na arte do sexting. — Ela riu e eu cobri a boca, evitando uma gargalhada.

Desde o casamento, os dois estavam se falando todos os dias. Pelo pouco que eu sabia, tinham acontecido alguns beijos antes de ele viajar de volta para casa.

— E você? Como está? — questionou mordiscando um pãozinho que estava em cima da mesa.

— Bem — respondi por impulso. Sabina ergueu uma daquelas sobrancelhas perfeitas para mim.

Não estava mentindo. Quer dizer, não estava mentindo muito.

Tinha começado a lidar bem com a saudade que sentia de Heyoon e Lamar. Fazer terapia também estava ajudando. A doutora Strauss trabalhava comigo uma verdade absoluta: ninguém estava, sistematicamente, me abandonando. As pessoas estavam apenas seguindo suas vidas, evoluindo como eu mesma. E quando nos encontrássemos novamente, seríamos pessoas diferentes. O amor, porém, permaneceria o mesmo.

Eu recebia mensagens, fotos, chamadas de vídeo e atualizações diárias dos meus amigos. Havia saudade, mas tinha muito mais orgulho e felicidade pelos dois.

No entanto, uma dor ainda escalava em meu coração, subindo um degrau diferente a cada dia. Não estava experimentando negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Bem, talvez bastante depressão, mas com certeza, nenhuma aceitação.

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