Dois

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Noah Urrea's point of view

— É muito estranho? — questionei quando Sina e Heyoon saíram de braços dados para mostrar o anel de noivado às senhorinhas que se acumulavam ao redor para novas felicitações. Sabina – ou seria Selina? – as acompanhou e pude, enfim, conversar com meu amigo.

— Firmar um compromisso na frente de uma família? — Debochou. Revirei os olhos, me servindo de outro copo do Blue Label que os garçons serviam como se fosse Coca-Cola, não uísque de primeira.

— Usar este anel. — Apontei.

— Não é só porque você é alérgico a relacionamentos que eles são ruins, Noah. — Lamar lembrou e eu dei de ombros. — Acha que estamos fazendo uma escolha ruim?

— Se existem duas pessoas que devem se casar, são vocês dois. — Declarei, vendo meu amigo sorrir para a transparência das minhas palavras. — E não, de jeito algum é uma escolha ruim. Estou feliz por você, irmão.

— Também estou feliz — Lamar respondeu com um sorriso que poderia quebrar suas bochechas. — Heyoon queria fazer isso por nossas famílias, uma despedida adequada, sabe? Mas estou animado em poder dar isso a ela. Por mais que não admita, sempre quis toda essa coisa de véu e grinalda. Parece bom.

— Quem é você e o que fez com meu melhor amigo? — Ri e ele me acompanhou, lançando um olhar apaixonado para a noiva. Heyoon Jeong tinha acontecido na vida de Lamar e ele nunca mais seria o mesmo.

— Eu sabia que queria casar com essa mulher desde a primeira vez que a vi.

Era verdade. Lamar não tinha sido exatamente do tipo pegador no ensino médio ou na faculdade, mas conhecer sua, agora, noiva tinha o transformado no maior apoiador da monogamia.

— Ah, eu sei. Se bem me lembro, morava com você quando a conheceu. Era Heyoon para cá e para lá, o tempo todo! — Revirei os olhos, apesar do sorriso nostálgico. — Se, naquela época, alguém me dissesse que hoje eu estaria no jardim dos Hidalgo, vendo você se comprometer, eu teria rido. Ainda mais ao lado da senhorita perfeitinha ali. — Inclinei a cabeça na direção da garota com um sorriso tão largo que eu quase podia acreditar que ela mesma tinha sido pedida em casamento. Seu sorriso me fez querer sorrir.

— Você tem que me prometer, Noah — Lamar começou em seu tom sério. — Você vai deixar Sina em paz. Precisamos daquela cabecinha pensante nisso tudo, além de sua total concentração. Se quer ajudar, precisa não encrencar com nossa madrinha.

— Ela é quem encrenca comigo. — Tentei me defender, embora meu sorriso não tenha acrescentado nada em meu benefício.

— Ela também vai receber uma conversa como essa de Heyoon. — Meu amigo brincou, fazendo-me revirar os olhos mais uma vez. Claro que iria. — Se quiser arrumar encrenca, por favor, arrume com Sabina.

— Não sei qual é a sua fixação comigo e com Seli… Sabina. Nós só somos perfeitos amigos.

— Vocês desapareceram na hora do brinde e, depois, ela voltou toda satisfeita de dentro da casa. — Meu sorriso aumentou com a lembrança. Lamar, é claro, percebeu e me deu um olhar feio, mesmo que não estivesse realmente me condenando. — Qual é? É a casa dos meus sogros.

— Se eu bem conheço a história toda, a cama dos seus “praticamente sogros” — fiz aspas com a mão — já te conheceu também — rebati. Foi a vez do meu amigo revirar os olhos, seu próprio sorriso devasso aparecendo. Cristo, eu amava aquele cara.

— O ponto é: se comporte com a Sina, ok?

— Eu sempre me comporto — falei, deixando meu olhar vagar de volta para o tópico da conversa.

Que Sina Deinert era linda, era inegável. Cabelos  loiros e ondulados até os ombros, pele clara e notavelmente macia, magra (apesar das curvas no lugar), um par de olhos verdes arrebatadores e uma língua afiada. A mulher me odiava desde a primeira vez que nos vimos e eu tinha seguido sua deixa para irritá-la ainda mais, sempre me divertindo com a constante aversão a minha presença. Sina não era uma mulher que deixava barato.

Claro que eu me divertia arrancando suspiros irritados dela e fazendo suas bochechas ficarem vermelhas. Apesar disso, eu tinha que admitir: ela tinha fibra, o que eu admirava. Não conhecia sua história, sequer tínhamos mantido uma conversa civilizada o suficiente para isso acontecer, mas eu sabia que não tinha tido muitos privilégios ao longo da vida e se hoje era uma pessoa de sucesso, tudo era mérito seu.

Ainda assim, ela me odiava.

— Vai ser um puta trabalho. — Lamar me tirou daquela linha de pensamentos. — Esse casamento tem que acontecer em cerca de um mês e eu ainda por cima acabei de aceitar Hamptons.

— Você sempre pode voltar atrás — destaquei e ele suspirou.

— Não posso. Além de chatear Fernando e Ale, sei que, no fundo, Heyoon está animada com a ideia, por mais que isso a deixe em surto.

— Você não está sozinho — lembrei. — Eu não estava brincando quando falei sobre a força-tarefa de casamento. Sou designer, de games, mas ainda assim um designer. Sei tudo sobre combinações de cores, padrões e todas essas porcarias. Se precisar que eu combine cores de guardanapo, posso combinar. Se precisar que eu dirija um carro para a lua de mel, vou dirigir. É só falar.

Lamar coçou os cabelos, parecendo meio sem jeito.

— Somos como irmãos, cara, eu sou seu padrinho. Vou fazer tudo para que tenham a cerimônia dos sonhos e eu possa comer todas as primas de Heyoon na recepção — brinquei e ele riu, um pouco do embaraço desaparecendo. — Além disso, você mesmo sabe: nós temos a senhorita pensante do nosso lado. Aquela mulher tem tudo numa agenda e está tão disposta quanto eu a ajudar.

— Obrigada, Noah — sussurrou e me puxou para um abraço lateral. — Vou sentir sua falta nessa viagem, irmão.

Não queria pensar naquilo. Lamar e eu éramos amigos desde o final do ensino médio. Salvo as férias em que ele voltava para Hanover com o intuito de passar um tempo ao lado dos pais, nós tínhamos ficado praticamente todos os dias juntos. Tinha sido ele a me ajudar quando resolvi cortar laços financeiros com meu pai na época da faculdade. Foi Lamar que segurou as pontas com as contas do apartamento que dividíamos e, mais tarde, me arrumou uma entrevista de estágio na Wibersoft, empresa de games em que eu estava até então.

Tínhamos muito em comum, por mais que não parecesse, uma vez que onde Lamar era centrado e ajuizado, eu era… Eu. Mesmo assim, nossa amizade era sólida. E agora, pela primeira vez desde que nos conhecemos, ele viajaria por meses.

Eu estava obviamente feliz pra caralho por ele. Apesar da personalidade responsável e do diploma chato de contador na parede, seu sonho sempre tinha sido desbravar o mundo. Com Heyoon, a aspiração estava completa. Isso não significava que eu não fosse sentir saudades dele e do péssimo gosto para cervejas.

— Não vai sentir minha falta, acredite em mim. Você vai estar traçando sua futura esposa em três continentes diferentes, não vai nem lembrar que eu existo — garanti e ele revirou os olhos, já conhecendo meus péssimos modos.

— Vai dar certo — Lamar comentou, muito mais para convencer a si mesmo do que a mim, quando nos separamos do abraço. — Vai ser corrido, mas vai dar certo. E em breve, vou estar traçando minha esposa nas praias mais lindas do mundo — brincou.

— Ei, falando em viajar, eu também tenho uma novidade.

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