Trinta

352 27 1
                                    

Sina Deinert's point of view

Noah me encarou como se tivesse visto um fantasma e imediatamente me arrependi daquele ato impensado. Por que eu tinha que ser tão idiota? Sabia que era uma péssima ideia falar para meu chefe que eu me achava a melhor para assumir o cargo de meteorologista na TV, uma vez que entendia de ciência, e pedir o cargo. Fora uma péssima ideia comprar uma passagem, alugar um quarto em um hotel e não contar para ninguém. Naquele momento, porém, parada em frente à sua porta enquanto Noah me olhava desnorteado parecia a pior de todas. Ele tinha fugido de mim, atravessado o oceano para isso.

Por que eu estava ali, afinal?

— Sina! — constatou, olhando-me admirado. — Sina, você está aqui. Meu Deus, está mesmo aqui. Sina, Sina, Sina… Você está aqui! — começou a repetir. Segundos depois, segurou meu rosto, apertando minhas bochechas, os olhos dele se iluminando. — Sina! — Em um segundo, eu estava no chão e, no outro, em seus braços enquanto era rodopiada.

O movimento me deixou sem fôlego, não só porque ele me apertava tão firme que minhas costelas doíam, mas pelo simples fato de que seus braços estavam ao meu redor da mesma forma que eu passara noites e mais noites tristes pensando. Noah estava ali, inspirando o cheiro do meu pescoço e afagando minhas costas.

Foi impossível não perceber as bolsas ao redor dos olhos dele, os sulcos nas bochechas, a barba por fazer, o que não era do seu feitio, ou como até mesmo os braços pareciam mais magros. Meu coração se apertou.

Mas não podia ser assim. Tínhamos muito o que conversar.

— Preciso falar com você — eu disse assim que me soltou na sala do apartamento vazio. Noah estava há semanas morando em Liverpool, mas parecia ter recém-chegado, pois havia caixas espalhadas para cada lado do espaço, todas ainda lacradas, além de nenhuma decoração. Tudo era estéril e impessoal.

— Também preciso. Na verdade, estava indo falar com você.

Franzi o cenho.

— Heyoon contou que eu estava vindo, não é? Olha, sei o que parece, mas…

Sabia que minha amiga ia dar com a língua nos dentes. Sua expressão curiosa quando pedi o endereço não negava. Aquela baixinha…

— Ela não contou. — Deu de ombros, cortando minha linha de pensamentos. Eu o encarei, curiosa. — Eu estava indo conversar com você.

Certo, então quem tinha contado? Sabina? Duvidava muito. Ela não queria saber de Noah nem pintado de ouro. David prometeu não falar nada, afinal de contas, aquela não era uma expedição para confessar meus sentimentos. Não conseguia pensar em mais ninguém.

A não ser que…

— Como assim? — Pisquei. — Indo para Nova York? — balbuciei e Noah riu livremente.

— Em qualquer lugar do mundo — garantiu, os olhos cheios de um brilho desconhecido. Era como se ele estivesse vendo um milagre acontecer na sua frente. Lágrimas idiotas se formaram no canto dos meus olhos. — Não chore, por favor. Não suporto te ver chorar. Não quero mais ser o motivo das suas lágrimas — pediu, tocando meu rosto outra vez. Balancei a cabeça.

— Não, não — neguei, limpando os olhos. Respirei fundo. Precisava falar. — Você mentiu para mim, escondeu coisas e eu… ainda estou com raiva, com tanta raiva que poderia te dar um soco na cara — admiti e Noah se encolheu.

Eu me sentia fraca, no entanto. Aquela raiva não era o suficiente.

— Mas eu entendi — completei. — Também não consegui parar de pensar em você. De repente, seu rosto estava em todos os meus pensamentos, apagando tudo. Esqueci de coisas básicas como trabalho e… Comer. Você estava falando a verdade, Noah: é possível pensar tanto em alguém que isso te consome. Estava me consumindo.

Os Padrinhos | noartOnde histórias criam vida. Descubra agora