Vinte e dois

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Noah Urrea's point of view

— Seu cabelo me faz ter vontade de fazer carinho nele. — Uma Sina bastante bêbada engatinhou até se deitar no meu peito. Seus dedos começaram a percorrer meus fios e eu fechei os olhos com o carinho despretensioso. Travei o maxilar para não ronronar como a porra de um gato. — Ou andar o tempo todo com um pente.

— Muito engraçadinha — falei, pressionando o nariz contra os cabelos dela, sentindo o aroma de baunilha e flores no qual estava viciado. — Meu cabelo está sempre arrumado — contestei, abraçando a cintura dela enquanto Sina pressionava o rosto contra o lugar em que meu coração batia constrangedoramente rápido.

— Temos conceitos diferentes de arrumado — resmungou, fechando os olhos, pronta para dormir. Vê-la tão tranquila, usando minha camisa e enrolada em meu colo me fez aquecer por dentro, mas eu estava preocupado com a possibilidade de uma desidratação. Tudo que eu menos queria era que passasse mal.

— Você quer mais… — comecei a perguntar, me movendo para pegar outra garrafa de água, que repousava na mesinha ao lado da cama. Ela me parou antes disso.

— Shh, estou dormindo. Já tomei água o suficiente — reclamou, agarrando um punhado da minha camisa. Ri baixinho.

— Você vai dormir? E sua lista? Até agora, tínhamos ficado bem acordados — caçoei, lembrando-me dos quatro itens que Sina tinha me falado.

— Já estou dormindo… — garantiu.

Aos poucos, sua respiração se tornou mais tranquila. O aperto de seus dedos contra a minha camisa, porém, nunca diminuía. Inspirei fundo, sentindo seu cheiro e permitindo-me relaxar, gostando da proximidade.

Suas palavras rodaram em minha cabeça. “Não estou aqui só pelo sexo?”, ao falar isso sua voz era frágil, atônita. Brinquei com as mechas do seu cabelo. Ela já dormia, os lábios levemente entreabertos na expressão mais fofa de todas.

— Também é fácil gostar de você, Sina — sussurrei, sabendo que ela não me escutaria. Eu era covarde demais para admitir quando estivesse acordada.

Eu podia ter coragem para muitas coisas. Tinha saído de casa sem ter como me sustentar, cortado laços com o único parente que ainda estava vivo. Decidi ganhar a vida em Nova York e uma série de outras conquistas que eu fiz ao longo dos anos sem sequer olhar para trás.

Mas quando se tratava de falar para a mulher adorável em meus braços o quanto eu a queria por perto, de que o que eu sentia ia muito além do que só sexo, eu era um covarde.

Fechei os olhos, suspirando e deixando o sono chegar, com sonhos de baunilha e flores.

[•••]

Quando acordei, soube que era cedo demais, porque o sol não estava entrando pelo lado certo da janela. Gemi, ouvindo o som estridente. Não podia ser um alarme. Olhei ao redor e notei o celular vibrando à minha esquerda. O calor do corpo delicado ao meu lado me fez arregalar os olhos e ficar em alerta de imediato. Sina acordaria com aquilo.

Puxei o celular da mesinha e atendi aos sussurros.

— Alô? — perguntei, saindo da cama bem devagar enquanto ela continuava a dormir tranquila, todo o cobertor da cama enrolado ao redor de si mesma. Sorri. Passaria mais dezenas de noites sem um cobertor apenas para ter aquela visão.

— Noah? — A voz de Heyoon questionou sobressaltada. Franzi o cenho. Quem mais seria? — Por que está com o celular da Sina?

Arregalei os olhos e afastei o aparelho da orelha por um segundo. Não era meu smartphone superpotente e arrojado. Era o da mulher deitada na minha cama. Fiquei boquiaberto por alguns segundos, sem saber como respondê-la.

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