Quatorze

318 30 4
                                    

Noah Urrea's point of view

"Prezado sr. Urrea, me chamo Isaac Flynn e sou estagiário da Wibersoft. Fiquei sabendo da novidade sobre seu cargo…”, comecei a ler mais uma das dezenas de e-mails de puxa-saquismo. Suspirei. Se eles tivessem todo o empenho que demandavam para me agradar ao fazer os designs… Era por situações como essa que eu estava em home office. Quem conseguia aturar tudo aquilo às nove da manhã?

Ignorei, começando a redigir as tarefas que os designers juniores precisavam desempenhar naquela manhã, até que o celular vibrou na mesa e meu queixo quase caiu ao ler o nome “Senhorita Deinert” que brilhou na tela. Sina não me ligava. Nunca. A não ser que algo estivesse monstruosamente fora do lugar, do tipo um de nós preso nas ferragens de um acidente.

— Noah? — ela choramingou e eu me coloquei de pé no mesmo instante, procurando as chaves do apartamento no meio da bagunça acumulada nas últimas semanas. Luzes de alerta piscavam na minha cabeça. Sua voz soava tão quebrada que meu coração acelerou.

— Sina? — chamei, assombrado.

— Deu tudo errado. — Soluçou. O choro agoniado quebrou meu coração e quis destruir qualquer coisa que tivesse causado aquela tristeza. Ao mesmo passo, também desejava abraçá-la tão forte que ficaríamos grudados. Para sempre, se fosse possível.

— O que aconteceu? Você está em casa? — perguntei, chutando um tênis errante do meu caminho enquanto me calçava.

Ela estava segura? Tentei repassar a lista de ex-namorados dela, pensando em algum potencial babaca, mas não obtive sucesso. Só conseguia me lembrar do cara gay, que era um pai de família. Me chutei por nunca ter prestado atenção o suficiente para saber se Sina estava envolvida com algum idiota.

Vizinhos? Alguém da família? Ela tinha dito que sua família era problemática. Será que algum dos primos super religiosos apareceu para lhe dar um sermão? Não importava. O que quer que fosse eu estava em estado de alerta.

— Estou. — Sina fungou, ficando em silêncio.

Ela não era do tipo que pedia ajuda, eu sabia daquilo. Mesmo em nosso relacionamento de antagonismo, eu a conhecia o suficiente para ter certeza de que era do tipo silenciosa. Até quando parecia triste, havia algo corajoso em sua postura, como se estivesse pronta para atravessar a fase difícil em silêncio. Não reclamava, não pedia ajuda. Eu a tinha visto irromper em espirros até ficar fraca e, ainda assim, não me deixou chegar perto o suficiente para cuidar dela.

Sina não pediria para que eu fosse em seu auxílio, mas não precisava, eu já estava do lado de fora do apartamento antes de lhe dizer:

— Estou a caminho, ok? — Desci as escadas de dois em dois degraus, ansioso demais para esperar pelo elevador. — Vai ficar tudo bem — prometi mesmo sem saber qual era o seu problema, pois não interessava o que a tinha chateado. Tudo que me importava, naquele momento, era que Sina ficaria bem.

— Obrigada — sussurrou baixinho e o telefone ficou mudo. O segurei em meu ouvido por alguns segundos, escutando o silêncio, tendo certeza de que ela tinha desligado.

O ônibus e o metrô demorariam muito mais do que eu podia aguentar. Saltei para a rua na frente de um táxi, que parou meio a contragosto, o motorista fazendo uma careta para mim, o louco que quase tinha sido atropelado, mas eu não tinha tempo. Era isso ou… Balancei a cabeça. Não queria sequer pensar em qualquer outra possibilidade.

— Oi, estou indo para Yorkville, no cruzamento da 62 — expliquei. — E estou indo o mais rápido que você puder — falei, colocando o bolo de notas de vinte em frente ao seu rosto. O homem, que antes parecia com raiva, sorriu para mim como se fôssemos velhos amigos.

Os Padrinhos | noartOnde histórias criam vida. Descubra agora