Cinco

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Sina Deinert's point of view

A primeira complicação nos preparativos da cerimônia apareceu naquela manhã. Quer dizer, não era exatamente uma coisa do casamento, mas Heyoon e Lamar tinham recebido uma ligação da agência de viagens. Os dois tinham que repassar um protocolo, algo envolvendo um dos países que eles visitariam. Não consegui entender direito, pois minha amiga quase gritava pelo telefone.

Por isso, eu estava a caminho do apartamento de Noah, uma vez que nós dois seríamos os responsáveis por conversar com o padre Charles. No começo, pensei em negar. Era mais fácil ir direto para Long Island. No entanto, quando Heyoon voltou a falar numa rapidez assustadora, decidi que não seria a maluca a contrariá-la e segui para Lenox em busca do idiota, atravessando o bairro cheio de carros de luxo.

O aluguel naquela região era caro, mesmo estando só a algumas quadras de onde eu morava. Tinha total consciência de que o metro quadrado ali custava um rim, muito diferente dos velhos prédios que cercavam o meu. Olhando para Noah e suas camisas simples de flanela, não dava para saber que se encaixava entre os ricaços. A postura relaxada e as piadinhas idiotas não mostravam a boa condição financeira em que vivia.

Força-tarefa do casamento, força-tarefa do casamento, força-tarefa do casamento, repeti meu mantra enquanto estacionava em frente ao endereço que Heyoon tinha me dado, jurando para mim mesma que não iria lançar o carro no rio East quando Noah soltasse o primeiro comentário desnecessário.

— Eles estão surtando, não estão? — Foi a primeira coisa que perguntou ao se sentar no banco do carona. Fiquei surpresa por não ser uma piadinha.

— Estão. Posso jurar que Heyoon cogitou cancelar não só o casamento, mas também a viagem.

Noah bufou, prendendo o cinto.

— Ela é muito dramática sobre tudo — comentou. Dei um olhar zangado em sua direção, saindo da frente do prédio meio vintage onde morava. Eu nunca tinha estado ali, apesar de ele já ter ido ao meu apartamento algumas vezes, e, por isso, o lugar não me parecia familiar. — Qual é, vai me dizer que não acha exagerado?

— É uma pressão muito grande. Eles estão indo viajar mundo afora e, antes disso, uma festa de casamento. É muito para duas pessoas — retruquei, me concentrando no trânsito caótico da cidade.

— Eles não estão sozinhos nessa — respondeu e eu encolhi os ombros. Era exatamente o que eu pensava, mas não ousaria dizer em voz alta. Nunca seria a idiota a concordar com Noah Urrea indo contra Heyoon. — Aliás, você não deveria estar no seu trabalho de verdade?

Pude ouvir uma pitada de diversão depois de alguns segundos de silêncio. Revirei os olhos.

— Quando se tem um emprego de verdade, você pode fazer coisas como horário de almoço ou tirar dias de folga. — Para minha surpresa, Noah riu. Em resposta, trinquei os dentes. A quase santa equipe do jornal MetroNews1 não era motivo de piadas. Trabalhávamos muito, principalmente agora, quando estávamos prestes a passar por uma fusão. — E você? Por que não está em seu emprego de mentira?

— Estou de home office há algumas semanas. — Deu de ombros, olhando pela janela, parecendo se esquivar do assunto, o que era, no mínimo, estranho. Ele não queria comentar sobre seu trabalho super chique? — Está tirando férias para um casamento que nem é seu?

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