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Sinceramente, odeio viver em cidade pequena. Podem até falar que é legal porque é mais segura e blá blá blá, mas é uma porcaria! Caramba, aqui não tem nada de interessante. Claro que tem a parte boa, mas não compensa o suficiente.

Pra completar minha vida de merda, terminei o ensino médio e nessa cidade sequer tem universidade, minha família também diz que estudar demais é perca de tempo, então agora fiquei encarregada da contabilidade da serraria do meu pai. Ele herdou do meu avô e vive dizendo que serei a próxima herdeira, inclusive, usa isso como justificativa para não me deixar estudar em outra cidade.

- Boa tarde, eu gostaria de encomendar uma porta para minha casa e...

- Encomendas não são comigo. Fale com ele. - Apontei para o idiota do outro lado arrumando os últimos fios de cabelo que ele tem. O Maru é legal, mas não gosto nem devo fazer amizade com os contratados pelo meu pai.

- Devia ser mais dócil, se perdermos clientes seu pai vai ficar furioso. - Maru veio até mim após terminar de atender o cliente que já estava longe a essa altura.

- Não tô de bom humor hoje e as pessoas já deviam saber que as encomendas não são comigo, que porcaria.

- Se está tão irritada, então me deixa ficar no balcão.

- Nunca, eu que não vou ficar nesse seu banco empoeirado acabando com o resto da minha coluna.

- Você que sabe. - Deu de ombros. - Tenho trabalho à fazer, boa sorte aí.

Alguns minutos se passaram e outra pessoa veio me incomodar. Será que vou ter que segurar uma placa dizendo "Não faço encomendas!"?

- Boa tarde, eu gostaria de...

- Encomendas não são comigo, fale com ele.

- Não quero encomendar nada. - A fala me fez retirar os olhos do caderno e ver de quem se tratava.

Que cabelo mais lindo, eu não sabia que alguém nesse fim de mundo tinha bom gosto. Tô toda desarrumada, que vacilo!

- O que deseja...? - Expresso dúvida e ele se apresenta:

- Anasui, pode me chamar de Anasui.

- Certo. Então, se não vai encomendar nada, o que quer num lugar como esse?

- Um emprego.

- Entendi. Nesse caso, pode esperar um pouco? Vou chamar alguém que pode falar com você sobre isso.

- Tudo bem, obrigado.

Caramba, caramba, caramba! Como um cara lindo que nem ele veio parar aqui? Não devia estar numa agência de modelos ao invés de trabalhar cortando madeira? Bom, tanto faz, azar o dele, eu que me banhei, agora vou poder ver esse bonitão todo dia. De repente o trabalho ficou mais interessante.

Corri até minha casa que ficava nos fundos da serraria e procurei pelo meu pai. Não estava na sala, nem na cozinha, só podia estar entupindo o banheiro de novo.

- Mãe, sabe se tem vaga de emprego na serraria?

- Algum amiguinho seu quer trabalhar lá?

- Não. Um homem chegou procurando emprego.

- Você sabe que não sei de nada sobre a serraria, mas acho que tem, sim. Um deles se demitiu semana passada, né?

- Verdade.

Uma pontada de esperança me atingiu em cheio. Finalmente vai ter alguém interessante naquela toca de pica-pau. Mas é melhor não comemorar antes de ter certeza.

Oh, Who Is He? - Narciso Anasui  𓊕Onde histórias criam vida. Descubra agora