Nove

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        Os vizinhos ainda não o odiavam devido ao barulho, mas em duas semana, eles com certeza o fariam. Uma coisa é tocar 'atirei o pau no gato' no violino, outra é tocar "Love of my life" e "Bohemia  Rhapsody" repetidas vezes, até estar tudo perfeito.

Ele queria desistir.

Mas persistiu.

Sempre que chegava da empresa—Sozinho ou com Will e Anerile: Seus amigos.—Ele ensaiava, aliás, só tinha duas semanas e nem havia a possibilidade de fugir do compromisso que a garota fez em seu nome.

"Compromisso que nem é meu, porra, Anerile, você me paga!"

As cordas estavam bem afinadas e embora ele tenha tido certa dificuldade, agora toca lindamente. O asiático quase pôde ouvir seus vizinhos agradecendo aos céus quando ele parou de tocar.
Foram treze dias ensaiando, sendo acompanhado por Anerile e suas dicas e os vídeos do violinista anterior.

— Perfeito!—A garota fica de pé e bate palmas. Acompanhando o sorriso orgulhoso de Ravi.—Parabéns, amigo. Tá incrível. Você vai arrasar, bate aqui!

Ela estende a mão aberta e espera ele bater na mesma. Se havia alguém muito animado com essa apresentação, esse alguém era Anerile.
Cada passo mais próximo do dia do conserto que davam, fazia ela ficar mais 'hiperativa'.
Ravi adorava a animação dela, vontade de viver e tudo envolvido. Lembrava ele na adolescência.

— Foi ótimo mesmo!

Will comenta também. Animado, pois vai assistir o conserto também. Ele não chegou a conhecer Eric tão bem. Tiveram as reuniões ha dois anos, a saída para o bar onde beberam horrores e somente, mas pelo modo como a secretaria do amigo estava se esforçando para que tudo saísse perfeitamente, pôde perceber que ele é alguém importante.

— Eita, o Otto tá me ligando.—Ela comenta e vai para a biblioteca atender o celular.—Você foi ótimo, Ravi! Tô orgulhosa de você!

Depois disso ela entra no cômodo e fecha a porta.
Will se vira para Ravi, o olhar confuso.

— Eles... tem algo?—Will pergunta. Desconfiado.

— A Anerile quer que tenha, da parte do Otto não sei como anda isso. Só espero que eles não se magoem.

Ele guarda o violino na bolsa própria e a coloca sobre o sofá. O evento já seria no dia seguinte e ele não se sentia nervoso dessa forma ha um bom tempo.
Nervoso por ver Eric, mesmo que não esperasse que rolasse nada romântico entre eles.
Definitivamente, ele não está pronto para isso.
Está nervoso por tocar depois de tanto tempo parado, por estar se apresentando em algo público após anos — que não fosse um workshop sobre a empresa ou alguma aula de dança—.

Estava nervoso por vários motivos, mas ele queria se apresentar, sempre adorou os palcos e tudo o que envolva isso, seja dançar, tocar ou somente estar atrás das câmeras para ajudar na produção de algum evento, algum conserto ou peça. Ele adorava a vida de empresário, aliás tem suas vantagens e comodidade.

Porém, nada se comparava com a vida pública de um artista. Algo que ele sempre quis ser. A estabilidade de estar à frente de uma empresa era aconchegante, confortável demais.
Ama tudo que construiu. Todavia, sabe muito bem que a ideia de fundar essa empresa não foi sua.
O esforço para pôr o plano em prática foi com Michel, o projeto inicial não. Ele tinha medo que desse errado, eles tinham.
Hoje em dia é uma das maiores empresas de tecnologia/marketing do Brasil. Com filiais em vários cantos do mundo, não tão grandes como a do Brasil, porém estão indo bem.

Demorou, ele já tinha uma família com filhos quando se formou na faculdade, mas conseguiu. Michel também. Ambos no mesmo curso: administração.

Tudo que ele tem hoje, querendo ou não, construiu ao lado de Michel. Nesse quesito ambos fizeram bem um para o outro, não havia como negar isso.

O Que Restou De Nós? | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora