Doze

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Deixar de existir.

Era isso que ele queria.Ravi não queria morrer. Ele queria, com todas as forças, sem margem de erros e como nunca antes, deixar de existir.

Ele quer que toda sua existência seja apagada.
Cada parágrafo, ponto, vírgula ou travessão que compõem sua história, apagados.

É isso que ele quer.
Morrer parece pouco. Ele quer ser como um rascunho riscado e amassado, esquecido. Até de si mesmo.

Ccoloca a mão no peito, como quem tenta—Inutilmente— arrancar a dor que sente com as próprias unhas.

A blusa que usava antes já tinha sido arrancada de si e jogada no chão. Seu peito, braços e qualquer lugar que as unhas alcançassem já tinham sido arranhados e nada, nada era suficiente para diminuir a dor que estava sentindo.

O chão frio do banheiro nem mesmo o incomodava, o fato de ter vomitado até perder o ar menos ainda. Está 5 °C na França, ele podia ter uma hipotermia, mas nada disso importa.

A ardência dos arranhões não importam.

Os arranhões na tatuagem de trevo não o incomodam. Um trevo de cinco folhas em formato de coração. Ele e Michel as fizeram quando as crianças nasceram.
O fato de ser 14h da tarde, não importa.

A água que já derramava da pia e inundava o banheiro aos poucos, não importava.
Não importa se ele ainda está no trabalho.
O modo como seu estômago rejeitou os muitos comprimidos que tornou, não importava...

Ele quer, precisa deixar de existir.

Ravi se deita no chão, de barriga para cima, respirando devagarinho. Ou tentando já que o ar parecia não chegar aos seus pulmões. Os olhos estavam fechados, ardendo—Eles ardiam todas às vezes que chorava, pois, eram ressecados.— como se tivessem jogado sal, mas eram somente as lágrimas.

Ele chorava como uma criança. Não era alto, mas se a música que tocava no corredor parasse, Anerile o escutaria.

Tinham sido três músicas desde que sua crise começou. Ele sabia precisar de ajuda, precisava sair daquela situação—Ele não tinha uma crise como essa há meses. Desde o dia de seu divórcio, onde passou mau em frente seu advogado antes de entrar na sala, não na mesma intensidade que essa.—, parar de chorar, se vestir e encarar a tela do computador para apagar o maldito e-mail que recebeu.

O email. Ravi quer matar quem lhe mandou aquilo. De preferência com as próprias mãos, mas agora... Agora ele precisa se acalmar, tomar um banho e voltar para casa. Não conseguiria trabalhar mais.

Estava tudo bem. Tudo bem, estranhamente bem.

Tinha recebido o café que Eric mandou lhe entregar, mandou uma mensagem de voz para ele e o almoço—Eric esquece de comer quando tem que ensaiar muito.—, trabalhado e respondido os e-mails da Be on Cloud. Até que esse maldito e-mail chegou. Vindo de uma conta com endereço de e-mail mais estranho que já vira. O assunto era. Seu castigo, somente com um anexo, uma imagem.

A imagem que Ravi nunca teve coragem de ver.

A partir daí, uma cadeia de coisas aconteceram. Ele travou na frente do computador, quase meio minuto sem respirar, o coração acelerou de repente, parecia que iria sair pela boca.

— Não…—Foi tudo que ele conseguiu dizer. Baixo e quase de forma indecifrável. Se colocando de pé como um raio, derrubando a cadeira atrás de si, ele vai para o banheiro. Cambaleando e esbarrando em tudo que ha pela frente.

E assim, ele terminou em uma das piores crises de sua vida.

—Olha... Eu sei que...—Ele começa a falar, se virando para ficar de lado no chão, os olhos ainda fechados e ardendo. Ele nem sabe onde largou os óculos.—Que-e eu digo que não acredito em você, mas é porque tudo parece mais fácil assim...—Ele funga, o coração ainda doendo e ele sequer sabe se realmente ha um deus ouvindo sua prece.—Mais fácil crer que ninguém olha por nós, que não ha um deus no céu. É mais fácil... Dói menos.

O Que Restou De Nós? | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora