Dez

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    — Mas ele está ótimo assim. Te deixa até mais jovem. Não que você seja velho...—Eric comenta passando a mão nos cabelos de Ravi que estão maiores.—E deixa com menos cara de hétero top.

Ravi abre a boca, sem saber o que dizer. Ele afasta a mão de Eric de si e para de andar—Eles estão a caminho do camarim, pois já terminaram o conserto.—, colocando as mãos na cintura.

— Desde quando eu tenho cara de hétero top?

Ele espera Eric se virar para ele. O sorriso que ele julgava ser uma das coisas mais bonitas da vida está ali.

— Desde que te conheci? — Ele levanta as mãos com as palmas para cima, como para demonstrar o quão óbvio aquilo é. — Sério, se quando entrei na empresa já não soubesse que você é gay, nunca iria imaginar... Sabe aquela série... calma, vou lembrar o nome.

— La casa de papel? 

A primeira que veio à mente. Ravi não sabe o motivo, aliás nunca assistiu.

— Não. É de máfia.

Ok. Tem 80 séries assim, ele não faz ideia.

— Família Soprano?

— Não. Tem romance também, é tailandesa. — Eles começam a andar novamente.—Que tem a família principal e secundária. A série do Porshe.

Ravi ri, passando a mão no rosto.

— Kinnporshe, Eric? — Ele pergunta, frisando o nome 'Porshe'. Eles chegam em frente ao camarim nesse instante. O violino está em sua bolsa própria, pendurada nas costas dele.

— É!—Ele estala os dedos alegre.—Isso. Essa mesmo. Então, você é tipo o Kinn, ninguém diz que é, mas é.

Eric abre a porta, desviando o olhar de Ravi que fez uma careta em desaprovação.

— O kinn? Isso era para ser um elogio ou uma ofensa?

Ambos entram no camarim. Kinn é, na opinião de Ravi, o pior personagem da série. A série sequer acabou de ser lançada e ele já torce para o protagonista morrer no final.

— Nenhum dos dois. É uma comparação.—Eric sorri e tranca a porta. Ravi observa todo o movimento do amigo.—Só em relação a ser e não parecer, ok? Não num todo, já que o Kinn é bem filho da puta.
      
"Para que trancar a porta mesmo?"
Como se ouvisse seus pensamentos, Eric explica que precisa tocar de roupa e que mesmo que tenha um banheiro ali, a porta do mesmo não tem tranca e Anerile tem mania de abrir portas sem avisar.
É, Ravi sabe disso.

Depois dos dois se trocarem—Um de cada vez.—, conversarem sobre os últimos tempos. Mais especificamente, o tempo que não se falaram, guardarem o violino, Ravi oferece uma carona para Eric. Eles foram os últimos a saírem do teatro.
De moto.
Eric tem medo de motos. Prefere carros. O dele está na oficina, pois Anerile o bateu na garagem do prédio.

— Sério, vai devagar. Não posso morrer ainda.—Eric fala assim que coloca o capacete, antes de subir na moto. 

Ravi não está mais de terno, está com uma jaqueta de couro preta, calça azul escura e a blusa branca. Simples. Nada parecido com os figurinos de antes.
Eric está de calça cinza, blusa preta e um moletom preto.

— Para de drama. Você não vai morrer. Vou devagarinho, juro.—Ravi fala com humor, olhando diretamente para o rosto do outro. Eric ainda está de maquiagem, tão.. Irresistivelmente bonito.

— Jura mesmo?

O mais velho revira os olhos e mostra o dedo mindinho em sinal de juramento.

— Juro. Pode confiar.—Ele espera Eric fazer o mesmo com seu dedo. Selando o juramento.—Se eu não cumprir, pode ficar com meu dedinho.

O Que Restou De Nós? | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora