Dezesseis

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     A luz da sala foi acesa e se Deco dissesse que viu de onde Michel saiu, ele estaria mentindo. As mãos do namorado apertando o colarinho de sua blusa social com força, o empurrando contra a parede da sala da casa dos dois, derrubando um quadro que estava ali
Estavam morando juntos ha dois dias, desde que, por motivos desconhecidos, Deco saiu de omde trabalhava. Ele já conseguiu um movo emprego.

Tobias já estava com Jade. Ela cuidaria do cachorro enquanto Michel não estivesses bem o suficiente.

— Como você pôde? —Sua voz transbordava raiva e mágoa.

— Do que você está falando? Me solta. 

Não era como se ele não suspeitasse, só não entendia como podia ter sido descoberto sendo que foi tão cauteloso.

—Você sabe o que fez. Não se faz de tonto! —Ele o solta, Se afastando enquanto passa a mão na barba que estava começando a crescer.

O terno branco já estava longe, as mangas da blusa, arregaçadas.
A sala estava uma bagunça, somente agora Deco notou isso. Os vasos de plantas quebrados no chão, os livros também, celular e a TV trincada ... Um desastre.

— Como você descobriu?

— Como? Com essa porra de artigo que você publicou!— Michel fala apontando para um tablet de tela rachada sobre a mesa.— Não acredito que fui tão burro! Já tinha um processo com seu nome no meio, mas eu ignorei porque achei que tinha sido um mau entendido ou algo assim. Até pedi para os meus advogados darem uma olhada nisso.

Michel se aproxima mais dele, os olhos cerrados, mãos em punho abrindo e fechando.

— Você se aproximou de mim, me usou, mentiu .... Em troca de que?

— Da verdade ser exposta.

Michel ri, um riso amargo, revoltado. Estava se segurando pra não sair do controle. Deco continuava encostado na parede, mal respirava.

— Que verdade, André? —Ele cospe as palavras. Nunca chamava Deco pelo nome real. — Foi a porra de um acidente! Você queria era nontar em cima da dor alheia! Sua desculpinha não faz sentido.

Não exatamente.
    
— Morreu outra pessoa naquele dia, mas a mídia só se importa com três.

Havia uma certa raiva na voz dele, mas o olhar era de arrependimento.
Mas Michel ignora isso, ele não liga.

— Porque a família dele pediu pra não expôs. Ai vem você, um desgraçado, e faz exatamente o que pediram pra não fazer. E pior.... Você expõe os meus filhos. 

Ele aponta o dedo para si mesmo. Dando ênfase à sua fala.

—Olha, eu já tinha o artigo quase pronto antes. Você sabe que estou aqui estudando e trabalhando. Se eu não fizesse isso, de continuar trabalhando nele, teria que voltar pro Brasil, mas e- 

Michel não desviava o olhar, ele interrompe a fala do outro.

— E o que você acha que vai acontecer agora que te denunciei? 

—O que? Não, Michel. Eu não públiquei aquilo. Eu sei que divulgar essas fotos é crime! 

É verdade, mas Michel não acredita e nem quer tentar. Ele passa a mão no rosto novamente, nervoso.
Ainda tentando se controlar.

—Para de mentir, para de mentir pra mim!— Sua voz sai alta, mais alterada que antes..—Tem a porra do seu nome no artigo, o seu email é o mesmo que tem mandado as fotos e a última enviada não tem nem vinte e quatro horas. Eu ja sei a verdade, só para de mentir!

O Que Restou De Nós? | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora