LXII

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Arlissa


" As vezes, o mais difícil não é superar, e sim esquecer"

Eu corria com a adrenalina a mil, meus pés doiam mas eu não saia do lugar, pelo contrário parecia que eu estava correndo em círculos e sempre acabava no mesmo lugar de sempre. Era torturante, arrepiante e medonho, eu queria ir embora daqui, ficar livre desse lugar mais algo muito forte puxava meu corpo para longe da única luz que tinha ali.

- Tiveste saudades?- paralisia tomou meu corpo ao som da voz horrenda que eu tentei esquecer por anos.
 
- Aposto que de mim também.- lágrimas  inundaram meu rosto, pânico tomou meu corpo.

- Achas mesmo que um dia serás feliz sem nós? Nós somos parte de você para sempre e isso nunca vai mudar.- papai riu e treme de medo.

- Saíam daqui! - gritei forte, todavia eu parecia pequena ao lado deles, inútil e impossibilitada.
 
- Eu tornei você forte, tu achas mesmo que aquele homem vai amar você como pai? Não negrinha, ninguém ama você.

- Ninguém conhece você verdadeiramente, ninguém sabe como és suja.

- Eles conhecem-me, amam-me e nunca fariam o que vocês fizeram.- gritei mas eles riram de cada palavras minha.- Saiam daqui! Saiam!.
 
Gritei a plenos pulmões mas eles continuaram rindo, entimidando, corroendo. Controlar o pavor e pânico  era difícil, eles ainda tinham esse poder sobre mim, ainda destruiriam-me aconteça o que acontecer.

- NÃO.- gritei e sai das cobertas com força, elas queimavam meu corpo e traziam os pesadelos.

A adrenalina tomou conta de mim e lágrimas caíram do meu rosto sem controle algum.

"Nunca serás amada, tua punição por destruir tudo sera a nossa presença em você"

- Não. Cala a boca, cala a boca!

Apertei as mãos nos ouvidos na falha tentativa de acalmar minha mente, eles não existiam, eles morreram  e nunca voltariam.

"Mas nós estamos aqui, tu és  amaldiçoada"

Balanço a cabeça e aperto mais as mãos.
 
- NÃO SOU AMALDIÇOADA, SAIAM DAQUi! SAIAM.- soluços irrompem da minha garganta, meu corpo balançava e convulcionava de pânico.

Eu não sou amaldiçoada, sou normal do meu geito e eles não podem controlar minha mente, não têm esse poder eles... alguém põe as mãos no meu pulso e tenta afastar minhas mãos mas não deixo, eles vão voltar... querem voltar.
 
- Está tudo bem, estás segura aqui.- minhas mãos caíram sobre o corpo e chorei mais, eu nunca estaria segura da minha mente, não enquanto ela estiver acima do meu ombro.

- Minha mente é uma prisão, eu nunca estarei segura enquanto ela estiver acima do meu pescoço.- soluço e mais lágrimas caem em abundância.
 
- Estarás sim.- abracei meu corpo e ergue minha muralha, levantei e sentei no parapeito da janela.

A noite estava mais tranquila que eu, ela esbanjava uma pureza que eu nunca soube oque é, enquanto a lua a fazia brilhar com as suas estrelas a acompanhando. Tem horas, dias e momentos como esse que eu desejo  infinitamente ser uma estrela, brilhar no céu  sem ter ou conhecer a escuridão profunda do mundo, seria livre e estaria livre de minha mente e meus próprios demônios. Mas até isso é impossível, porque estrelas são puras e bonitas por dentro e por fora e isso eu não sou.

Passo as pernas para fora da janela  e um impulso grande de me jogar  assumiu minha mente, mas oque ganharia com isso? Todos dizem que a morte machuca mais os vivos que os mortos, então teoricamente não ganharia nada.
 
Respirei o ar poluído como minha mente  e encarei o céu, as vezes ele só estava ali para mostrar que nós somos sujos e impuros enquanto ele é brilhante e imaculado.

Um copo de chocolate quente foi posto na minha frente e encarei o entregador, Aylan estava de pijama e na mesma posição que eu, porém sua expressão era o oposto da minha, seus olhos azuis brilhavam enquanto os meus  apagaram. Peguei o chocolate e bebi um pouco, estava morno e gostoso, é bom para essa noite em especial.

Submerso (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora