We Go Down Together [Versão em Português]

14. Ceilings

Kit acorda com o som da chuva caindo do lado de fora, as gotas pesadas batendo na janela fazendo um som rítmico e sereno, ela se estica para tocar Jade e fica imóvel ao perceber que ela não está lá.

Kit se senta, o lado da cama onde Jade estava está vazio e frio, o que quer dizer que ela se levantou faz tempo.

Kit sai da cama, andando descalça, ela atravessa o espaçoso quarto e se direciona para o quarto de hóspedes, nenhum sinal da ruiva, então ela segue para os banheiros e desce as escadas para a sala e a cozinha, sem fazer barulho.

Ela encontra Jade na sacada, trancada do lado de fora, na chuva e senta no chão, ensopada da cabeça aos pés, o rosto enterrado em suas mãos, seu corpo balançando aos soluços.

O coração de Kit se afunda no peito quando ela percebe o que ela está fazendo.

Jade está chorando.

Kit assume que ela fora para a sacada para que Kit não a ouvisse, e uma parte de si se sente ferida ao perceber que ela não confia o suficiente em Kit para chorar na sua frente.

Mas há outra parte em si que entende, ela mesma não consegue chorar na frente de ninguém nem mesmo seus pais.

E há ainda, uma parte em si que quer ir abraçar Jade, mas Kit não escuta essa parte em si e retorna ao quarto, dando Jade a privacidade que ela necessita.

Se Jade precisasse chorar na chuva para aliviar suas dores ao invés de falar sobre elas, Kit não se oporia a isso, o importante é que ela estava colocando tudo pra fora.

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Jade nunca sentiu tanta dor em sua vida inteira.

Agnar estava certo, ela era apegada a todos aqueles objetos, mas era muito mais profundo do uma afeição material.

Em cada um deles, havia uma história, uma memória da sua vida, todos os momentos doces e amargos, todas as alegrias e tristezas.

E a dor de perdê-los, a dor de ter todas aquelas histórias apagadas da sua vida... Ela consome Jade, em cada parte do seu ser, ela a sente em seus ossos e em sua alma.

Ao passo que a tempestade cai, lavando Jade como um banho divino, Jade coloca toda a sua dor para fora dos seus pulmões, chorando alto e soltando gritos de frustração, tão altos e fortes que sua garganta começa arranhar e logo ela perde a voz.

Ela se encolhe, abraçando os joelhos e afundando seu rosto entre eles, seus cabelos encharcados se grudando as suas costas.

Era como perder Kit mais uma vez, mas dessa vez, todas as vidas que elas tiveram juntas, todas as reencarnações de Kit, sendo arrancadas de Jade contra a sua vontade de uma vez só, sem dó e sem remorso, como arrancar a casca de uma ferida cicatrizada com força.

A ferida voltaria a sangrar, ainda pior do que antes.

Jade sentia-se cheia de agonia, ela não podia passar por isso novamente, ela não podia perder Kit mais uma vez, aquilo a destruiria permanentemente.

Se dessa vez ela perdesse Kit...Então essa seria a última vez que andaria por essa terra.

Ela está disposta a encerrar sua própria vida imortal por Kit, ela não poderia esperar por mais cinquenta anos, vagando pelo mundo como um fantasma, até encontrar Kit e recomeçar tudo de novo, só para perdê-la mais uma vez.

É claro que ela tinha outra alternativa, aquela que já passou por sua mente diversas vezes, mas ela se recusa a sequer pensar demais sobre isso.

Ela não transformaria Kit, jamais, ela não subjugaria Kit numa vida assim, ela nunca se perdoaria por isso.

Jade fica em silêncio, respirando devagar, a chuva lava todas as suas emoções embora aos poucos, acalmando seu coração e sua mente.

Ela olha para o céu, completamente escuro graças as nuvens de chuva.

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Kit desliga a televisão, já se passou uma hora inteira desde que ela acordou, e Jade ainda não retornou.

Ela balança as pernas na beirada da cama, ansiosa, ela não irá até Jade, ela prometeu a si mesma que respeitaria sua privacidade.

Mas isso é muito tempo para estar debaixo de chuva, ela pode acabar doente...

Kit se levanta e vai até as longas janelas, ela observa a cidade lá embaixo, ainda viva e brilhante, apesar da chuva, dali de cima tudo parece tão pequeno e silencioso, muito diferente do constante barulho e movimentação que é a vista da janela de Kit.

Isso a faz lembrar de sua mãe,  quando ela era pequena, a mãe de Kit vivia dizendo que ela adoraria as cidades grandes, com todas as suas luzes e prédios.

De início, Kit odiava a capital, ela não suportava toda a poluição e barulho.

Mas agora... Não parece tão ruim, a capital conquistou um espaço no coração de Kit...

Porque ela conheceu Jade aqui, e ela seria eternamente grata à cidade por isso.

Kit respira fundo e se vira, saindo do quarto e descendo as escadas, ela entra na sala e se vira para a sacada.

Jade ainda está sentada, mas ela não chora mais, pelo contrário, ela colocou suas pernas por entre as hastes da varanda e está apoiada nas palmas de suas mãos, olhando para as estrelas.

Kit se aproxima, admirando a mulher.

Ela destranca a porta da sacada e sai, a fechando atrás de si.

Sem dizer uma palavra, ela se senta ao lado de Jade, sem se importa com suas roupas se molhando e a chuva caindo em sua cabeça.

Ela passa suas pernas por entre as grades como Jade e pega uma das mãos dela, entrelaçando seus dedos.

E ela permanece ali, em silêncio, sem dizer uma palavra, ao lado de Jade.

E quando olha para ela, Kit encontra com o olhar de Jade, e bem ali, naquele momento, uma promessa é selada, sem necessidade de palavras.

A promessa de que, não importa o que acontecesse, Kit sempre estaria ao lado de Jade, sem julgamento ou exigências, apenas fidelidade.

Os céus poderiam se abrir e descer um inferno na terra, pessoas poderiam ir e vir e tentar colocá-las uma contra a outra, o mundo poderia queimar desde seu núcleo até seu último oceano, não importa o que acontecesse, Kit jamais deixaria Jade.

Kit sente que nem mesmo a morte poderia quebrar o laço que ela tem com Jade.

E se a morte acontecesse de chegar a ela ou a Jade, Kit prometeu a si mesma, de que ela voltaria, em outra vida, ela retornaria para Jade.

Não há mais como negar, por mais que ela não fosse dizer em voz alta, Kit já sabia a verdade.

Seu coração pertence a Jade, e ela a amaria até o último dia de sua última vida.