Capítulo 3 - Madeleine

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Não conseguia acreditar no que meu irmão acabou de me dizer, aquilo não poderia estar acontecendo.
Não com Madeleine, minha eterna amiga que mesmo distantes um do outro, ninguém conseguiu ocupar o seu lugar em meu coração.
Minhas atitudes ultimamente não condiz com o quê digo, eu sei. Abracei outras prioridades e deixei outras tão importantes quanto para trás.

Não enxerguei os sinais que piscavam como holofotes diante de mim, Madeleine estava se perdendo de si mesma à cada dia e eu não estava lá por ela... Não fui a mão que ela precisou segurar.
Fomos nos afastando aos poucos, repito que foi culpa minha.
Sempre fechado para qualquer conversa mais profunda, sempre sem tempo para marcar aquele café e sempre lhe dizia

" Na próxima eu vou sem falta!"

Próxima que nunca veio, não é Madeleine?
E por estar sempre inacessível, você se calou e não me contou sobre seus fantasmas internos e sobre aquele cara que apenas te fez chorar e se machucar...
Estou indo Madeleine, espera mais um pouco e nem pense que é tarde demais para você sorrir novamente.

Falei com ela em meus pensamentos e com meu coração aflito por saber que num ato de desespero, Madeleine se entupiu de calmantes e quase se foi.
"Milagre!" disseram
Não pensei duas vezes, comprei passagem de avião para Kansas, onde ela estava morando atualmente.
Imaginei que diante do ocorrido, Tessa entenderia minha viagem.
Mas não foi assim, me tratou com desprezo e ignorou a situação de Madeleine.
Nunca pensei que veria tamanha falta de empatia!

Uma das coisas que me fez evitar contato com Madeleine era os ciúmes de Tessa de nossa amizade e parceria.
Éramos muito íntimos, contávamos tudo um para o outro.
Tessa via maldade no nosso entrosamento, cismava que tivemos algo a mais e até mesmo desconfiava que Madeleine era apaixonada por mim desde da adolescência e que tramava nos separar.
Absurdo!

Realmente muitas pessoas achavam que nós dois éramos um casal ou que um dia seríamos um.
Chegaram até dizer que se caso isso fosse possível um dia, não aconteceu porque Tessa entrou na minha vida.
Talvez estavam certos, não posso afirmar nada.
Quem somos nós para saber de tudo não é? A vida prega peças na gente todos os dias, coisas mudam e se transformam.
Mas entre eu e Madeleine, não sei.. Acho que não e acho que talvez sim, bem confuso.
Éramos muito unidos apesar de nos implicarmos demais quando mais jovens, sabíamos todas as qualidades e defeitos do outro.
Derrepente isso poderia ser bom para um relacionamento ou poderia ser um problema.
Com Madeleine eu poderia ser eu mesmo, sem medo de ser julgado.
Podia arrotar e peidar na frente do outro por exemplo, que dávamos risadas e ainda fazíamos competição de quem era o mais fodão em ser porcalhão.

Se seríamos felizes como casal, eu não sei.
Mas que sentia falta daquela pestinha, sentia e muito.
Aquela gargalhada engraçada que fazia cócegas nos meus ouvidos e aqueles olhos tão sinceros e brilhantes que me faziam acreditar num futuro doce, cheio de sonhos para se tornar reais.
Mas ao chegar na cidade e ir ao hospital para visitá-la, não foi a Madeleine que conheci quando criança que encontrei naquele quarto frio e triste.

Meu irmão foi me buscar no aeroporto e me levou direto para o hospital que ela estava internada.
Os pais dela sempre carinhosos comigo me abraçaram e sem saber que palavras dizer, apenas os abracei bem apertado.
Me levaram até a frente do quarto e quando atravessei aquela porta, meu coração apertou.
Seu rosto estava tão pálido, seus cabelos sem vida, suas mãos tão frágeis e sem cor.
Me segurei para não me debulhar em lágrimas.
Eu não queria e não seria justo lhe causar mais dor, quem me dera ser tão forte.
Quando aqueles olhos tristes e sem brilho abriram, lágrimas quentes escorreram, me dilacerando por dentro como um bisturi fazendo cortes precisos.

Madeleine olhou pra mim e ao me dar um sorriso de canto, me diz com a voz fraca.
- Saiu da caverna imbecil?
- Por sua causa sua idiota!

Quando dei por mim, estávamos disputando ofensas, chorando e rindo ao mesmo tempo.

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