Capítulo 19 - This is us

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Se sempre sou o último a dormir, a primeira pessoa que acorda na minha família é a minha mãe. Ouço os seus passos no corredor logo cedo, com certeza em breve vai bater na porta do meu quarto. Verifico as horas no celular e são quase 7 da manhã. Estou com tanto sono, dormimos muito tarde e ao abraçar Mady voltei a dormir rapidamente.

Estava num sonho tão engraçado, Yohan estava de pijamas com imagens da Barbie. Mady e eu estavamos sentados num sofá, rindo enquanto ele contava uma história absurda e coloca enfeites numa árvore de Natal. Não consigo lembrar o que ele dizia, mas era cômico demais, ao ponto de gargalharmos. Acabei acordando rindo e ao abrir meus olhos Mady estava sorrindo pra mim.
- Você estava sonhando com o quê Min?
- Não lembro direito, Yohan estava vestindo um pijama de flanela com imagens da Barbie.
- Que?
- E fica melhor, ele estava enfeitando uma árvore de Natal enquanto contava pra gente uma história muito engraçada.
- Que história?
- Sei lá, esqueci! Droga, sumiu da minha lembrança.
- Você estava rindo tanto, no começo me assustei e depois fiquei rindo junto.
- Meu Deus, devo ter sonhado com ele por não ter ficado para o casamento, Seong e a Mille queriam muito a presença dele.
- Pois é, seus pais também comentaram, mas ele teve que ir para o Canadá urgente.
- Ele mandou notícias?
- Sim, a mãe dele está bem, foi só um susto.
- Graças a Deus, ele ficou tão aflito quando soube que a mãe dele havia infartado.
- Também fiquei muito aflita, e não é só por ser a mãe dele, Liz é uma mulher fantástica! Vai amá-la quando a conhecer, ela te adora. Falei tanto sobre você pra ela, que parece que vocês já se conhecem.
- Então deve ter falado muito bem de mim. - Digo ao agarrá-la e beijá-la.

Como esperava, minha mãe bate suavemente na porta.
- Posso entrar pombinhos?
- Pode mãe!
- Bom dia, dormiram bem? A mesa do café está posta, quero tanto que façamos isso juntos. - Diz ao entrar e nos beijar.
- Nem precisa pedir Sra. Park, vamos Min, levante! - Mady me empurra levemente para que eu me levante.
- Calma, vou me levantar.

Me ponho de pé e a segurando pelos braços a puxo da cama, a fazendo desabar da mesma.
- Min!
- Ué, não é pra sair da cama?
- Misericórdia, continuam crianças! - Exclama minha mãe revirando os olhos, mas com um largo sorriso no rosto.
- Nós vamos escovar os dentes e já descemos. - Diz Mady ao ajudá-la a ficar de pé.
- Eu vou primeiro! - Corro para o banheiro.
- Está vendo Sra. Park?
- Esse menino não tem jeito minha filha, vê se não demorem.
- Mãe, se eu depender dessa aí só vamos descer para o almoço! - Grito do banheiro enquanto escovo meus dentes.
- Que mentira! E para de gritar, estamos bem ao lado.
- Mady... - Vejo minha mãe se aproximar dela. - Posso te pedir uma coisinha?
- Claro, o que a senhora quiser.
- Não me chame mais de Sra. Park, em breve será esposa do meu filho e sempre te amei como filha.
- Me sinto honrada, mas não sei se consigo me dirigir à senhora a chamando pelo primeiro nome.
- Me chame como Mille me chama, de sogra. Eu amaria ouvir você me chamar assim também.

Mesmo do banheiro consegui ouvir a conversa das duas, Mady deve estar com as bochechas vermelhas agora.
Termino a minha higiene bucal e da porta as vejo segurando as mãos uma da outra, tão fofas.
- Está bem sogra. - Diz tímida.

Minha mãe fica emocionada e a abraça. Dando depois um beijo em sua testa, mamãe se afasta indo para a porta do quarto.
- Aguardamos vocês lá embaixo. - Diz antes de sair.

Mady toda sorridente, vem em minha direção para usar o banheiro.
- Tão fofinhas, tirei uma foto de vocês duas pela minha mente.
- Amo muito a sua mãe e também amo demais o filho dela sabia?
- Ah é? Acho que ele te ama também, ouvi dizer isso por aí.
- Besta!

Nos abraçamos e nos beijamos.
- Vai, cuida. A mãe só chama uma vez, depois vem no grito.
- E eu não sei? Serei rápida.
- Quem? Você? Duvido! Aí!

Grito ao sentir que ela jogou sua pantufa em mim. Mereço, fui provocá-la.

Em cinco minutos, estávamos todos nós sentados à mesa. O voo dos meus pais e dos recém casados será às 18hs, então iremos seguir o cronograma que mamãe fez.
Café da manhã em família, ficarmos por aqui em casa todos reunidos e sairemos para o aeroporto às 14hs, depois do almoço.

Praticamente todos os pertences mais íntimos estão embalados para a transportadora que virá buscar amanhã. A maioria dos móveis foram vendidos juntamente com a casa e alguns foram doados. E como iremos partir daqui há três dias, ficaremos responsáveis para atender a transportadora, o pessoal que vai vir pegar os móveis doados e por fim entregar as chaves para o corretor, tanto as daqui como as chaves da ex-casa de Mady. Ela acabou decidindo em vender a casa e o mesmo corretor que ajudou aos meus pais, conseguiu uma ótima oferta para ela.

Realmente não fazia sentido ficar com a casa, nossa vida será pelas estradas e trilhas mundo à fora.

O dia em casa com a minha família foi muito especial. Tivemos o melhor almoço em família de todos! E como vai levar um tempo para estarmos assim novamente, aproveitamos bem cada minuto. Meus pais são os meus bens mais preciosos. Eles me ensinaram tanto e me apoiaram em tudo, mesmo quando não agi como um bom filho deveria. Seonghwa tem o mesmo apreço e admiração por eles, e pelas nossas últimas conversas, ele e Mille estão pensando seriamente em mudar os planos de morarem nos Estados Unidos depois da lua de mel.

Pelo que entendi, caso Mille se adapte ao nosso país natal, vão comprar uma casa bem próxima à casa dos nossos pais. Eles têm pesquisado residências há um bom tempo por lá, mas preferiram não comentar nada para eles, principalmente para a nossa mãe. Eles agiram bem em não contar, poderiam criar falsas expectativas.

Despedidas, mesmo sabendo que esta em especial não é eterna, dói do mesmo jeito.
Abraços apertados, lágrimas rolando no rosto, declarações de afeto e promessas de sempre manter contato, são coisas comuns para esta ocasião. Mas isso nunca diminuirá a significância de cada uma delas.

Meu pai que de todos nós é o mais durão, está chorando que nem criança ao acenar para nós dois ao entrarem para a área de embarque. A mãe segura forte o braço do meu velho, na verdade é um dando força ao outro. Os vendo desaparecer de nossas vistas, as palavras que Seong disse ao nos despedirmos se repetem em minha mente.

"Não se preocupe, vou cuidar bem dos nossos pais. Mille e eu já estamos indo morar na Coréia do Sul."

"Mas, a Millie não ia fazer um teste de adaptação primeiro?"

"Quer um teste mais eficaz do que este maninho? Nossos pais precisam de um de nós dois por perto. Min... Viva os seus sonhos, eles estão muito orgulhosos de você e eu também estou, e sempre estaremos em casa para quando vocês quiserem voltar."

Nosso último abraço foi tão forte, amo demais o meu irmãozão. E eu sei que posso confiar nele cegamente para qualquer coisa e ele pensa o mesmo sobre mim.

Depois que o avião decolou, levei Mady para caminhar um pouco nas areias de Palm Beach. Olhando o grande mar azul e a imensidão do céu, nós dois de mãos dadas pensávamos a mesma coisa.

"Temos um mundo inteiro para conhecer, mas o que mais importa é que estamos juntos."

Nos abraçamos apreciando a brisa fria da noite e estamos sendo aquecidos pelo que sentimos. Nos achamos e nos perdemos um do outro por um longo período. Nós fomos feridos e machucados pelas pessoas quem mais nos devotamos e fomos massacrados por nossas próprias escolhas. Estivemos sem expectativas por muito tempo e agora podemos olhar para frente e enxergar um futuro real para nós dois.

Os nossos corações que antes estavam num looping infinito, hoje batem no mesmo ritmo, em rumo ao mesmo destino. Porque foi ao nos perdermos que nos reencontramos e ao nos reencontrarmos, lembramos de quem somos. E ao lembrarmos de quem somos, descobrimos o que sempre fomos um para o outro...

- Você é o amor da minha vida, sabe por que Mady?
- Acredito que pela mesma razão que você é o meu.

Nós dois nos entreolhamos sorrindo e nos beijamos longamente tendo as estrelas como testemunhas.

"Quando o amor é a nossa última chance, o primeiro passo para saber como amar alguém é aprender amar à si mesmo."





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