𝐢. 𝐄𝐋𝐄𝐓𝐑𝐈𝐂 𝐋𝐎𝐕𝐄. ! ༉ 𝗿𝗶𝘃𝗲𝗻 (𝐢𝐧 𝐡𝐢𝐚𝐭𝐮𝐬)

019.

O som dos passos preguiçosos preenchiam todo o corredor. Tecna Regnum tinha a cabeça presa nas nuvens, com o alívio em seu coração não deixando espaço para que seu plano idiota - que quase resultou em duas mortes, incluindo sua própria - pudesse lhe causar algum remorso.

Após a garantia de que Saul ficaria bem, a fada da tecnologia voltava para o seu dormitório. Tudo que importava naquele momento, era que seu pai estava vivo - e assim ficaria.

Tudo ficaria bem.

- Tec - a voz baixa trouxe-a de volta à realidade.

Se virando devagar, a princesa de Zenith deixou que seus olhos amendoados pousasse nos verdes do rapaz à sua frente. Riven parou centímetros longe e balançava os braços em um súbito sinal de ansiedade.

Ele não sabia como, mas, precisava se desculpar. Havia sido uma noite agitada, o pai de seus dois melhores amigos não corria mais o risco de morrer e tinha tudo para as coisas ficarem bem - tudo, exceto sua amizade abalada com a acastanhada.

Ao ver o semblante tenso do especialista, mais detalhes da noite vieram novamente à tona para Tecna. Por momentos de puro êxtase, havia se esquecido de que nem tudo estava tão bem assim.

- O que foi? - perguntou, a voz ríspida conforme as palavras antes ditas por Riven lhe vinham na mente. - Não quero ser o motivo de você parar sua vida novamente, então...

- Qual é? - interrompeu o garoto, soltando um suspiro frustrado. - Eu não quis dizer àquilo... como você mesma diz, sou um idiota e as vezes acabo fazendo coisas idiotas.

Enquanto se observavam, notavam o clima estranho que se estabeleceu entre eles. Havia algo errado. Muito errado. Tecna e Riven se conheciam desde crianças, sempre em uma disputa idiota, por algo sem sentido. Já tiveram inúmeras brigas. Mas, havia algo diferente naquela. Algo que fazia o coração de ambos apertarem e a insegurança pela falta de uma solução bater na porta.

- Esse é um péssimo jeito de se desculpar - resmungou a garota, de repente desanimada.

A Regnum nem sabia mais o porque estavam discutindo. Porque ela sentia tanta raiva? Tudo isso por Riven simplesmente não ter mais tempo para ela como antes? Tudo isso porque agora era Beatrix sua companheira inseparável? Um mistura estranha de sentimentos borbulhava o estômago da especialista.

- Não sou bom nisso - admitiu Riven, mesmo tendo ciência de que a amiga sabia daquilo. Ela o conhecia, afinal. - De qualquer forma, eu sinto muito, Tecna... você não me atrapalha em nada, nunca atrapalhou.

Agora com os braços cruzados, a fada da tecnologia deixou um sorriso ladino escapar por seus lábios.

- Tudo bem - disse. - Eu também sinto muito. Ando com muita raiva de você e às vezes eu nem sei o porquê - admitiu então, soando envergonhada.

- Bom, a maioria das vezes eu faço por merecer - brincou o garoto, sorrindo ao ver a risada pequena que conseguiu arrancar da Tecna. - Estamos bem?

A herdeira de Zenith assentiu.

- Estamos bem - esticou o braço para frente, com o punho cerrado. Riven não demorou ao toca-lô, um peso saindo de suas costas.

Quando Tecna se despediu do melhor amigo naquela noite, não conseguia parar de sorrir. A dualidade de ter ido de uma discussão que achou que nunca iria se resolver, para não conseguir mais esconder os dentes dentro da própria boca, lhe confundiu ainda mais.

- Que porra 'tá acontecendo? - resmungou ao fechar a porta de sua suíte.

•••

De banho tomado e pés descalços, Tecna Regnum entrava em seu quarto. Tudo estava escuro, exceto pela luz azulada que saia do notebook fechado de Musa. O mais silenciosamente possível, a princesa se direcionava até sua cama.

Porém, quando estava prestes a se deitar, um barulho chamou sua atenção. Tecna olhou de imediato para a cama de Terra, vendo que a amiga - que pensava já estar dormindo - se remexia de forma sútil.

- Terra? - chamou, cautelosa. Ao não ter uma resposta, a especialista caminhou até a cama ao lado, depositando uma das mãos de forma suave no ombro da de cabelos claros. - Terrinha?

- Eu estou bem - respondeu a fada da terra, a voz embargada, esfregando o rosto para olhar em direção à amiga.

A acastanhada sentiu o coração se apertar ao observar os olhos vermelhos de Terra - vê-la chorar era um choque total, já que Tecna nunca havia visto alguém sorrir como ela. Com uma preocupação imediata, a fada da tecnologia se abaixou diante Terra, soltando um gemido sôfrego.

- O que houve, Terrinha? - questionou, a voz ainda baixa para não acordar Musa. - Não chore... - pediu, passando o polegar pela bochecha molhada da mais baixa.

- Como eu pude ter alguma esperança? - perguntou a de cabelos claros, deixando um ponto de interrogação ainda maior estampado na testa da outra. - Como eu pude achar que ele realmente gostava de mim? Olhe para mim!

Tecna não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas, detestou ver a amiga se diminuindo daquela forma. Em um gesto único, a herdeira de Zenith se juntou à Terra em sua cama, abraçando a amiga apertado.

- Não diga essas coisas! A pergunta é: quem não gostaria de você? - retrucou, tentando acalma-la. - Você quer me contar o que aconteceu? Tudo bem se não quiser, só quero que se sinta confortável...

Terra sorriu triste, assentindo. Era quase como uma terapia ter Tecna Regnum ao seu lado - não havia nada que a fada da terra não confiasse à ela.

E, a noite à seguir se passou em um piscar de olhos.

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