- Tecnicamente seus dois minutos passaram durante o trajeto até aqui - comentou Tecna, resmungando ao se apoiar em um dos pilares do pátio vazio.
O único motivo de não ter ignorado Electronomo, era o fato de ele parecer realmente preocupado. Não que se importasse o suficiente com o homem que nitidamente também não se importava nada com a própria filha, só sentia que tinha que ouvir. Afinal, o que poderia o preocupar tanto ao nível de fazê-lo olhar para ela com tanto recuo?
- Antes de sua mãe morrer...
- Ah, não - negou a princesa, suspirando.
- Antes de sua mãe morrer, tivemos sinais.
- Electronomo, eu não estou muito afim de saber o que aconteceu na pior noite da minha vida - gesticulou, agitada. - Pode ter certeza que o pouco que me lembro, já é mais do que suficiente.
- Fomos atacados a semana toda - o homem ignorou a mais nova, sentando-se em um dos bancos de concreto. - Queimados entraram no reino, mataram muitos dos nossos bem antes de todo o atentado.
Vendo que o rei não pararia, a herdeira de Zenith se deu por vencida ao sentar-se ao lado do homem, alguns centímetros longe, mas perto o suficiente para prestar atenção.
- Foi estranho - admitiu. - Queimados são monstros conhecidos em todos os reinos, só que ao mesmo tempo, não era tão comum tê-los de fato atacando.
- Eu não sabia que Zenith já tinha sido atacada por Queimados - disse Tecna, confusa.
- Para você ver o quão irrelevante eles chegavam a ser, quando o assunto era Zenith - explicou. - Quero dizer, eles realmente não apareciam muito por lá. Tanto que em quase nenhum dos livros disponíveis pra estudos do reino, eles são abordados - respirou fundo, negando com a cabeça. - Enfim. Estou dizendo que foi estranho e logo em seguida tivemos um ataque ainda maior, que matou a rainha e desestruturou todo o reino.
Ainda sem entender aonde aquilo tudo daria, a Regnum mais nova continuou em silêncio, dando deixa para que o rei de Zenith prosseguisse.
- Não sabemos ainda ao certo quem fez o que fez - confessou. - Temos ideias baseadas em hipóteses, achismos, caças... nada de fato concreto, apenas uma ideia ao ar, em que colocamos fé por ser a única coisa que temos em mãos - encarando a garota, ele continuou a respirar com tensão. - Fizemos o que pudemos para que você pudesse ficar longe de tudo isso, até porque, como poderíamos explicar que não fazemos ideia de quem realmente matou a sua mãe e o porquê?
- Eles queriam matar nós três - começou Tecna, cada vez mais confusa. - Aparentemente queriam o trono do reino. Os boatos eram que poderia ser alguém de Solaria, por conta das diferenças de ideias e...
- Isso de fato existiu e... ainda existe, apesar dos acordos feitos por mim e a rainha Luna - coçou a cabeça, sem graça. - Sua mãe era muito difícil de se convencer e após a morte dela...
- Foi fácil pra você fazer o que não conseguiu com que ela fizesse em vida - retrucou, a voz áspera. - Ela não era difícil de se convencer, ela era a rainha. Sabia o que queria e o que ela queria não tem nada haver com o que você fez com Zenith após ela partir.
Vendo que o clima esquentava aos poucos, Electronomo Regnum colocou-se de pé, decidindo ir direto ao ponto para evitar qualquer outro conflito:
- Eu sei que você sabe que os queimados estão de volta - interrompeu a farpa da garota, que arqueou uma das sobrancelhas. - Está acontecendo tudo de novo, Tecna e... olha, eu acho que eles, seja lá quem sejam, estão vindo mais uma vez.
- O quê? - em um pulo, Tecna também se viu de pé. - Aqui? Em Alfea? Solaria não tem nada haver com... não tinha nada haver com Zenith - suspirou, lembrando que agora Solaria e Zenith estavam em grande união.
- Agora eu sei que sua mãe não queria proteger apenas Zenith.
- Não era apenas o ideal dela que não batia com o da rainha Luna - sussurrou a princesa, aflita. - Como? Mamãe sabia que seríamos atacados? Ela saberia nos dizer quem são eles? Meu Deus.
E só então a ficha pareceu cair.
- Querem atacar Alfea - afirmou.
- Os Queimados não param de vir, eu estou tentando reunir todos os especialistas mais fortes que conheço, só que...
- Por isso eles estão de volta - ligou as fichas, lembrando dos especialistas readmitidos de repente. - Quantos sabem disso? Silva não me contou nada.
Revirando os olhos, Electronomo assentiu.
- Ele não sabe - tossiu. - Ainda. Só eu, os especialistas que trouxe e a rainha Luna - explicou. - Ela vem tentando também melhorar a segurança, mesmo eu não entendendo muito bem os métodos "secretos" dela - resmungou com aspas nas mãos.
Andando de um lado para o outro, Tecna Regnum parecia atônita.
- Precisam saber - decretou. - Todos precisam saber. Todos precisam se preparar!
- Eu não acho que seja...
- Se há como prevermos que estão chegando, se vocês já sabem que estão vindo, tem que contar - exclamou, passando as mãos pelos os cabelos acastanhados. - Sabe quantas vidas podemos poupar, se apenas dissermos que eles precisam estar preparados? Que precisam saber como se defender?
- Pânico - retrucou o homem. - Causaria pânico. Acha que podemos tentar manter tudo em segurança e cuidar de adolescentes em pânico ao mesmo tempo? - debochou, agora também nervoso. - Não há tempo para se cuidar de crianças, Tecna. Estou apenas te contando para que possa tomar cuidado. Contarei a Saul, Farah. Luna irá reunir a direção, os adultos darão um jeito de...
Rindo em escárnio, a fada da tecnologia o calou.
- Não somos crianças - respondeu, ácida. - Você não sabe nem metade do que as pessoas aqui já passaram em suas vidas pessoais, Electronomo - apontou para o homem, irritada. - Cada um de nós tem sua própria carga pra carregar e pode ter certeza, não somos mais crianças. Eu - mudou o dedo indicador para o próprio peito - não sou mais uma criança. Não sou mais a menina que foi retirada chorando da própria casa, vendo a multidão de corpos e sangue deixados no caminho! Você pode não contar, mas eu vou. Não vou deixar mais ninguém do meu povo morrer, vossa majestade. É isso que um rei faz - cuspiu com tanta certeza, que nada mais importava.
Saindo apressada para o lado de fora mais uma vez, Tecna corria sem nem perceber. Não podia acreditar que mais uma vez, tudo poderia desmoronar.
O cheiro de sangue revivendo na memória. Os gritos. Seu choro, o colo de Saul e toda a dor que sentiu ao saber que nunca mais veria sua mãe. Andando até a multidão que ainda treinava sob o sol quente, a princesa sentiu o peito se apertar.
- Tec? - Riven chamou ao vê-la ofegante.
A acastanhada dividiu o olhar entre todos os adolescentes ali, vivendo suas vidas e fazendo suas obrigações. Todos treinando justamente para, no futuro, poderem lutar para salvar pessoas. Se salvarem.
- Está tudo bem? - o garoto se aproximou, colocando uma das mãos sobre o ombro da mais baixa, que respirou fundo ao olhá-lo nos olhos.
- Acho que ainda sou ela - sussurrou. Dizia não ser mais a mesma garota que saira de Zenith. Mas, aquela era sua bagagem.
Por mais que tentasse ser corajosa, ela ainda vivia ali.
E, viu que sentia medo.
Ela ainda era ela.
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𝐢. 𝐄𝐋𝐄𝐓𝐑𝐈𝐂 𝐋𝐎𝐕𝐄. ! ༉ 𝗿𝗶𝘃𝗲𝗻 (𝐢𝐧 𝐡𝐢𝐚𝐭𝐮𝐬)
Fanfiction𓈒 ࣪ ࣭ 🖇 . ˙ ˙ ⋆ ࣪ 𝐀𝐌𝐎𝐑 𝐄𝐋𝐄́𝐓𝐑𝐈𝐂𝐎 ˒˒ ↳ fate: the winx saga fanfiction. Desde bem pequena, Tecna viveu pelos arredores de Alfea. Sob a supervisão de Silva, a garota cresceu ao lado de Sky e Riven, tendo o...