- Ou, ou, aonde você vai? - Pergunta Matheo, que seguia Jane.
- Pra casa?
- Janie - Matheo a vira para ele - Voltar pra que? Temos todo esse mundo para explorar!
Jane seguia os gestos de Matheo, com uma expressão confusa.
- Ah, sim. Que belo dia para se perder no meio do mato. - Jane revira os olhos.
- Ah, vamos lá, Janie!
Jane para por um instante, perdida em seus pensamentos. Talvez fosse interessante, talvez até encontrassem alguma coisa, qualquer coisa, que diga aonde estão ou como sair.
- Ah... - Jane se vira para Matheo, que sobe as sobrancelhas duvidosamente. - Hmm... Ta. Vamos.
- Isso - Matheo puxa o punho, sorrindo.
- Mas, se a gente se perder, azar é seu - Jane cruza os braços enquanto Matheo levemente a empurra.
- Shshshhh, relaaaxa, Janie. Só vamos passear um pouco.
- Okay, não sou eu que preciso tomar chá todos os dias.
Matheo para, com seu sorriso caindo, ao contrário de Jane, que sorria abertamente.
...
Os dois foram caminhando, e caminhando, tentando não dobrar muito para não se perderem. Por mais que houvessem ficado 8 meses livres para explorar esse lugar, nunca realmente encontraram algo ou deixaram alguma marcação.
Foi menos de 30 minutos que caminharam.
- Ta bom, ta bom, eu entendi. Podemos voltar para casa? - Diz Matheo, jogando a cabeça para trás.
- Foram mais ou menos 15 anos que o 'The New Look' de Christian Dior foi realmente usado... - Dizia Jane, que perambulava saltitando pelo caminho, deslizando os dedos em folhas, parando para sentir o aroma das flores e conversando com joaninhas e borboletas.
- Ninguém merece... - Diz Matheo para si mesmo, parando de caminhar. Via ao longe Jane aos rodopios. Ela parecia estar muito bem sem ele.
Matheo olha para trás, para o caminho de onde vieram. Inundado pela luz alaranjada do sol, com pitadas de sombra das folhas das árvores. Matheo então se volta para Jane, que agora mais distante, nem havia notado que ele a desacompanhara.
Com um longo e cansado suspiro, se senta no chão. Amassando o cabelo com uma mão e esfregando o bico de seus sapatos com a outra.
O farfalhar das folhas, que se batiam entre si como bolas de sinuca descontroladas, o vento que ecoava dentro dos bosques, e um som de água que pingava de algum lugar. Pouco se ouvia destes, já que Jane, por mais que um pouco longe, cantava alto.
Matheo vai escorregando, até se deitar completamente na grama, apoiando a cabeça em uma raiz saltada de uma árvore. Respirava calmamente, o sutil movimento das frações de nuvens visíveis através das folhas o confortavam. Era quase famíliar. Do nada ficou tudo estranho, ele estava completamente relaxado, perdido em sua mente, mesmo que pensando em nada, sentia quase como se alguém o balançasse, como uma criança nos braços de sua mãe.
- Matheo... - Diz uma voz feminina - Morreu? Denovo?
- Ah? - Matheo abre os olhos, após sentir uma cutucada na bochecha.
- Faz uns 15 minutos que eu ando sozinha, eu acho - Diz Jane, ajoelhada ao lado de Matheo.
- Ah, eu acho que cochilei. Parece até que estava em casa. - Ele diz, olhando para cima.
- Ah... Será que se a gente tentar, consegue voltar pra casa? - Jane se apoia na árvore.
- Não sei. Devem achar que eu morri, ja fazem meses. Ao não ser que algum clone do mal meu tenha me substituído.
- Haha, o Matheus. - Jane lembra da noite chuvosa em que compartilharam histórias.
- Pff, algo assim. - Ele vira para o lado.
- Eu sentiria a sua falta se eu voltasse. - Diz Jane, se deitando ao lado de Matheo e apoiando sua cabeça em seu ombro.
-...
Matheo, imóvel, nem se importara tanto, pensava mais em sua família, como estariam, se seus irmãos haviam demolido sua coleção de Hotwheels, se ja haviam vendido suas roupas, ou se seu rosto aparecia em caixas de leite. Se seus amigos da escola ainda falavam dele, ou se nada havia mudado.
-... Você ja parou para pensar se... - Matheo desce os olhos até Jane, vendo apenas o leve balançar de seus cabelos ao vento, tão quieta, nem deve tê-lo escutado.
Descansando sob uma árvore, ele sorria para as nuvens, seus olhos iluminados quase se camuflavam com a cor do céu. Via pelo canto de seu olho Jane, cuja cabeça levemente subia e descia conforme Matheo respirava.
Distraidamente, levava os dedos até o ombro de Jane, a abraçando junto à si, e deslizando os dedos pelas suas costas.
- Uh - Jane levanta, com um pequeno movimento brusco, olhando diretamente para Matheo, que acordava do transe constrangido.
-...
-...
...- Não falaremos disso - Dizia Jane, enquanto caminhava apressadamente à frente de Matheo, que concordara.
Um silêncio estranho tomou conta do ar, são só dois adolescentes que se conhecem a pouco mais de um mês, aquilo havia sido um pouco íntimo demais.
- Essa sua saia é mais curta que o normal. - Matheo tenta puxar uma conversa.
- Ah - Jane olha para seus sapatos, que estavam completamente expostos, diferentemente de quando usa outras peças. - É, ta calor hoje. E faz um tempinho que nada aparece naquele armário, não é? - Ela se vira para Matheo. - Geralmente apareciam coisas ali uma vez a cada, uh, 3 dias? Quando foi a última vez que algo apareceu ali?
- Ah, faz um tempo, já. Umas 3 semanas. - Ele responde, pensativo.
- Heh, armário ex-machina - Jane sobre os ombros, sorridente.
- Oque é isso? - Matheo pergunta, antes de ser barrado por Jane.
- Shh! - Ela leva seu dedo até a boca.
- O-Oque que?
- Ouviu isso, Matheo? - Pergunta, deixando ambos em silêncio por alguns segundos.
- Oque foi?
- Não ouviu? Parece pingos... plin...plin...plin. - Jane fecha os olhos, tentando ouvir melhor.
- Deve ser algum lugar mais fechado, tem eco. - Responde Matheo.
- Ah é?
- Sim, eu ia pescar com meu pai e meu tio, deve ser algum tipo de gruta.
- Ahh... - Jane sorri pra ele.
Ela pisa devagar na grama à sua frente, seguindo o som. Matheo faz o mesmo.
- Pra cá parece mais alto - Jane aponta.
- Se ta ecoando ta vindo do outro lado, confia em mim Janie. - Matheo leva a mão ao peito, sorrindo, enquanto Jane desdenhava.
Eles seguriam esse caminho, por onde o som ficava cada vez mais alto, e cada vez mais Matheo assegurava que estava certo. Dando de cara com uma parede de pedra, e seguindo pela lateral, encontraram a entrada para uma pequena caverna, de onde um pequeno fiozinho de água escorria.
- Aha! - Matheo cruza os braços, quase que empurrando Jane.
- Ta bom, me poupe.
- Te poupar? Você me fez ouvir sobre alguma coisa dos anos 50 por 20 MINUTOS! - Matheo leva as mãos até a cintura.
- O The New Look começou em '47, e é muito mais interessante do que como eco funciona... E o que isso tem a ver com pescar?
- Ah, a água é mais quente, logo...
- Ah, por favor! - Ela cobre o rosto.
Os dois discutem, mas logo se distraem ao ouvir a água novamente. Os dois entram na caverna, com Matheo indo na frente.
- Legal, nunca tinha visto isso por aqui. - Diz ele, que passava a mão pelas paredes úmidas.
- Não vai muito, não gosto de lugar apertado. - Responde Jane.
- Fica aí, então... Mas cuidado, viu?
- Com oque? - Diz ela, apoiada na beirada.
- Lembra do veio do saco? - Matheo sorri.
- Aaah - Ela suspira enquanto Matheo ri - ele seria melhor companhia que tu.
-... Vem logo, Janie - Ele a puxa para dentro.
- Viu? Não é tão apertado. - Matheo tenta olhar em volta, mesmo que esteja um pouco escuro.
- AAAHHH!!!
- Oque foi??? - Matheo cambalea até Jane, que descera num buraco.
- Uma lagartixa! Que lindinha! Olha Matheo, ela é roxa...?
- Ah, Janie! Você me assustou...
- Hehe - Jane sorri para a lagartixa, no teto do buraco que entrara.
-... Janie... Janie... - Matheo chama.
-Hmm? - Ela se vira para ele, notando seus lábios tremendo e seus olhos arregalados.
-Matheo?
-Janie... - Matheo aponta para ela - N-Não se assusta, mas... Você está pisando numa pessoa.
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Nossa Vida
FantasyE se você acordasse completamente sozinho num lugar desconhecido?