Matheo estava sentado no banco em frente a casa. Apoiando um pé em cima da coxa e sua cabeça inclinada para trás, descansando nos braços. Com seus olhos fechados, relaxava ao sentir o leve vento que corria por entre as árvores, soltando um breve suspiro.
- Psst! - Um som familiar interrompe seu descanso.
Ele abre um olho, mas logo o fecha novamente - Ah, oi Janie.
- Matheo? - Ela pergunta, se inclinando um pouco.
- ...Hmm...
- Que dia é hoje? - Ela sorri.
- Não sei... Terça? Quarta? - Diz, ainda sem abrir os olhos.
- Dia do mês, cabeção.
- Ah... 15.
- De...? - Ela se inclina mais.
Matheo revira os olhos e percebe o sorriso de Jane.
- De... fevereiro?
Jane sorri ainda mais, so aproximando lentamente de Matheo, que revira os olhos mais uma vez, tentando conter o sorriso, enquanto Jane o abraça.
- Feliz aniversário, Matheo!
- Heh, obrigado - Seus olhos percorrem os cabelos de Jane, o fazendo sorrir um pouco, a abraçando de volta.
- Tu tá fazendo quantos anos mesmo? Heh, eu não lembro.
- 16. Nossa, era pra eu ter meu carro já... hah, é. - Ele sorri, se imaginando com várias moças no Chevette Hatch de seu pai.
- Ah, bom, isso eu não consigo te dar, mas eu tenho algo pra ti! - Ela diz.
- Sério?
- Sim, vem cá! - Ela o puxa pela mão até a estante da casa, de onde puxa um dos livros. - Não tá embalado mas acho que não tem problema, hehe.
- Não tem não, sobre o que é? - Ele pergunta, tentando ler a capa.
- Já que tu é o que sabe fazer de tuuudo, talvez tenha algo aqui que tu se interesse. - Ela estica o livro para ele, que o pega e manuseia.
- "Manual básico de instruções"?
- É o que eu consegui achar de interessante.
- Heh, olha isso, "Passo a passo de como construir uma catapulta".
- Nem inventa! - Eles riem.
- Ai, obrigado, Janie. Talvez a gente possa fazer algum desses.
- Uhm... tenho até medo. - Ela sorri.
- Olha, esse eu acho que consigo. - Ele envolve seu braço no pescoço de Jane, a puxando para mais perto.
- Uma jangada? - Ela pergunta.
- É! Não parece difícil. E nós temos o que precisa, é só dar uma vasculhada na floresta. Vamos? - Ele vira para Jane com um grande sorriso infantil.
- Pff, Tá. Só quero ver - Ela cruza os braços.
- Vem então!
- Agora!? - Pergunta Jane, quase grita, na verdade, enquanto Matheo corre com ela para fora da casa.
- É, agora sim. Não parece tão difícil, acho que até hoje à tarde eu termino.
E assim foi. Em algumas eles haviam recolhido pedaços de madeira e de vinhas o suficiente.
- Matheo, tu realmente acha que isso aí vai funcionar? - Jane pergunta, analizando cada canto daquele quadrado feito de pedaços de madeira recortados.
- Confia no macho aqui, Janinie. - Ele sorri.
- Janinie? 'ninie'? - Ela cruza os braços.
- Hehehe, é, Jen... Janenê? Janeném! - Matheo ri.
- Cala boca, caramba! - Jane leva a mão até a testa, enquanto Matheo gargalha.
- Vai, sobe, Jananica.
- O QUE? - Grita, sem tempo de reagir a Matheo que a puxa pelo braço e a joga para cima da jangada.
- Aí, deu certo, viu? - Ele sorri.
Jane estava sentada na jangada, seus olhos fechados com força, antes de os abrir lentamente ao notar que não havia afundado como pensara.
- Uh... É, eu acho.
- Minha vez! - Ele estala o pescoço.
- NÃO, MATHEO! - Jane estica as mãos, mas Matheo pula em cima da jangada antes que ela pudesse fazer qualquer coisa.
- Shiu! Fica parada! - Ele diz, enquanto a jangada se estabiliza. -... Há! Ta vendo? Deu certo!
- Uhh... - Jane olha para as tábuas, esperando ver água subindo por frestas mas, nada aconteceu.
- Eu te falei que podia confiar em mim, Janie. - Ele sorri novamente.
- É... - Jane sobe seu olhar para Matheo - Tu sabe mesmo das coisas.
- Hehe, sei mesmo. Uh, ei Janie, você sabe nadar? Ah, é, você disse que não.
- Sei sim! - Ela diz, quase gritando.
- Você não tinha dito que não sabia?
- Eu... eu usei isso como desculpa pra ti não me atirar no riacho.
- Hm, bom saber.
Um breve silêncio toma conta do momento, até Matheo se esticar até a beira e puxar um galho.
- Caramaba, Matheo! Isso deve ter uns 3 ou 4 metros!
- Haha, é! Vamos dar um passeio?
- Passeio?
- Sim! - Ele enfia o galho na água, os empurrando riacho abaixo.
Jane olha em volta - Tu vai conseguir trazer a gente de volta, né? - Ela vira pra Matheo.
- Claro, é só subir. Não tem correnteza.
Ele continua os empurrando para frente, Jane olhava para as árvores e flores enquanto o tempo passava. Matheo coloca o galho de lado em cima da jangada e se senta ao lado de Jane.
- Heeeyyy... Janie. - Ele mostra seu sorriso de lado.
- O que que tu quer? - Ela cruza os braços.
- Quer dar um mergulho?
- A-ah... não. - Ela olha pra longe.
- Ah, vamos! - Ele se sacode, balançando a jangada.
- NÃO! MATHEO! - Jane se segura, virando para ele que ria - Eu quase caí! É isso que tu quer???
- Isso o que? Iiisso? - Ele sorri, começando a sacudir novamente, dessa vez mais rápido.
- PARAAA!!! - Ela grita.
Matheo fechara os olhos e ria alto, enquanto continuava balançando. Então, com um barulho alto na água, os abrira e notara que Jane havia caído. Ele riu ainda mais.
- Ai, ai, Janie, só você mesmo pra me alegrar. - Ele pega e muda tua atenção para o galho, descascando um pouco dele por alguns segundos, de vez em quando batia o olho na água, esperando ver Jane. Mais segundos se passavam enquanto Matheo descascava o galho, ainda sorrindo. Mais uma vez, ele olhara para a água turva, revirando os olhos e voltando ao galho. Isso se repetira mais algumas vezes, e a cada vez o sorriso de Matheo diminuia. Um a leve expressão de preocupação tomou conta do rosto dele, que, com um suspiro, virara para a água novamente.
- Janie? Já entendi. Sobe logo. - Mais alguns segundos se passam e o silêncio continuara.
- Ah, tá bom! - Ele se apoia na beira da jangada, tentando observar água adentro - VOCÊ VENCEU, JANIEEE!!! AGORA SOBE LOGO! - Ele grita. Matheo tentava ao máximo se manter estabilizado para não perturbar a água, apertando seus olhos, até notar uma leve mancha escura logo abaixo, que fez seus olhos arregalarem.
- ...Bloody heck.
Matheo rapidamente tira seus sapatos e pula na água. Em instantes, volta para a superfície com Jane em seus braços, que foi colocada na jangada.
- Janie! - Matheo segura seu rosto e lhe da leves tapinhas, mas ela não acordava.
- Janie! JanieJanieJanieJanie!!! - Matheo leva suas mãos trêmulas lentamente até sua cabeça, tentando raciocinar.
- Okay, okay, okay, it's alright! No need to panic! - Ele olha de volta para Jane, desacordada.
- Ah, Ah, aquela coisa! Pensa, Matheo, você viu isso num filme! - Matheo posiciona suas mãos logo acima de Jane, mas antes mesmo de encostar nela, para.
- Ai droga! Ela ta usando esse treco duro! Desculpa, Janie, mas vou ter que tirar sua roupa.
Ele a vira e tenta desabotoar sua blusa, mas como demoraria muito, passara uma faca que havia ali e rasgara fora.
- Não brigue comigo depois!
Matheo corta outra camada até chegar no espartilho, coisa que ele teve um pouco de dificuldade em cortar mas conseguira arrancar.
Jane estava agora da cintura para cima apenas com sua camisola - ... Ah... - Matheo perde a linha de raciocínio ao perceber que a água havia penetrado suas roupas e havia deixado sua camisola bem... transparente.
Ele rapidamente olha para cima, seu olhar se perdendo no horizonte e seu rosto tão vermelho como nunca havia estado antes. - Hm... D-Desculpa!!! E-eu não... eu não vi nada! Uhh... - Ele tenta voltar seus olhos pra baixo, mas claramente não poderia. Ele fecha os olhos com força e engole, lentamente posicionando as mãos logo abaixo o peito de Jane.
- Tá bom, tá bom, eram quantas vezes? Ahh! - Ele começa a pressionar repetitivamente, abrindo os olhos e mergulhando seu olhar no rosto empalidecido de Jane
- aAhh... - Ele geme, ao lembrar de algo a mais - Eu... eu vou ter que encostar minha boca na dela??? - Ele olha para os lados, tentando buscar outra alternativa.
- Me desculpa, Janie, mas se eu não fizer isso logo você vai morrer! - Ele cerra os olhos com força novamente, e com um grande inspiro, aproxima seu rosto do dela, que tosse água no rosto de Matheo antes mesmo que ele pudesse encostar nela.
- Aiii, Janie! - Ele sorri, com um suspiro de alívio.
- O... o... o que? - Jane tosse mais ao abrir os olhos.
- Tudo bem! Respira fundo! - Ele coloca as mãos nos ombros dela, a ajudando a se sentar.
- O que que... tu me derrubou na água! Seu idiota! - Seu tom de voz aumenta.
- Calma! Calma! Respira! - Ele diz para ela, que o segue, ainda sem entender direito, enquanto inspira e respira profundamente.
- Uh... A-aqui, coloca! - Ele tira sua camisa e envolve Jane nela.
- Por que que eu vou... - Ela percebe sua situação molhada e com um leve pulo, toma a camisa de sua mão. - O QUE QUE TU TA FAZENDO!? SEU... SEU...!
- Calma! Eu não fiz nada! Só fiz o que era necessário pra você voltar! De nada!
- Espera... - Seus olhos se abrem ainda mais - Tu.. tu fez aquela coisa com... com a... - Ela aponta para seu rosto.
- Não! Quer dizer, eu ia, mas você acordou antes.
- ... Huh... - Ela deixa aquele fato entrar em sua mente.
- Você... está bem? - Ele pergunta, arrastando um cacho da frente de seus olhos até atrás da orelha.
- Eu... eu acho...
Matheo sorri. - Que bom, que bom... Nossa, aquilo que eu fiz com as mãos era pra outra coisa.
- O que? - Ela o encara.
- Não, nada. Você acordou, é isso o que importa.
- Ai meu Deus, o que tu fez com minha blusa??? - Uma expressão de tristeza toma conta do rosto de Jane.
- Eu precisei!
- ERA SÓ TER TIRADO! - Grita Jane.
- VOCÊ IA MORRER! SÃO MUITOS BOTÕES E CORDAS E COISAS!
- O MEU ESPARTILHO TAMBÉM??? EU SÓ TENHO 2!
- VOCÊ NEM PRECISA USAR ISSO!
- ERA SÓ NÃO TER ME JOGADO NA ÁGUA!
- VOCÊ DISSE QUE SABIA NADAR!
- ... Disse... sim eu disse.
- Por quê? - Sua voz de impaciência muda para uma de preocupação.
- Ai, Matheo. Tu sabe fazer várias coisas. Olha isso que a gente tá agora! Pelo menos nadar eu poderia saber...
- Ai, caramba. - Ele leva a mão a testa. - Você poderia ter morrido.
- Não me jogasse na água. Mesmo se eu soubesse nadar seria difícil com essas roupas.
- Hmm... tá. Entendi.
- Eu quase morro e tu nem pede desculpas.
- Janie, eu te pedi desculpas três vezes. Você que não ouviu.
- Tanto faz.
Um breve silêncio toma conta do ar, enquanto Matheo os empurra de volta pra casa.
- Você fica bonita com o cabelo molhado.
Jane ergue uma sobrancelha - Tu fala isso pra eu dizer que tu fica bem sem camisa?
- Depende, você acha isso? - Ele sorri para ela, que bufa e revira os olhos, sorrindo um pouco.
- Posso te ensinar a nadar se você quiser. - Ele diz.
- Outro dia, Matheo. Outro dia.
Ele sorri....
- Matheo! Matheo! - Jane diz, sorridente, descendo as escadas e indo até a cozinha, pulando enquanto se apoia no ombro dele, que cuida para não derramar seu chá
- O que é? Ah, já sei. Hoje faz 1 ano que nós nos conhecemos. Eu não esqueci. - Ele toma um gole.
- Ah... faz? Nem lembrava. - Ela sorri.
- Uh... tá, e o que você quer?
- Me empresta uma calça sua?
- Uhm... - Ele olha em volta, um pouco confuso - Tá, tanto faz.
- Mas tem que ser uma que tu não use mais... ou não vai.
- Por quê? O que é que você inventou agora? - Ele leva uma das mãos até sua cintura.
- Hehe, encontrei um livro sobre costura, e como ta calor pra um caramba esses últimos dias eu quero tentar transformas uma das suas calças em shorts pra mim - Ela sorri.
- Você sabe costurar? - Ele ergue uma sobrancelha.
- Meh, lembro de um pouco que minha avó me ensinava, mas acho que consigo. - Jane pula, sorrindo.
- Hum, algo pelo menos você sabe fazer. - Ele toma outro gole. - Mas uhm, sabe que não dá pra confiar nesse clima, né?
- Não ligo. Está calor e eu quero sair desses vestidos nem que seja por um dia.
- Heh, okay. Pode pegar aquela marrom listrada, foi a primeira que eu achei, nunca consegui tirar a lama da barra dela... lembra, Janie? A gente na chuva aquela vez?
- Lembro sim. Lembro bem daquela bola de barro que tu me jogou na cara... piá abusado.
Ele sorri, tomando outro gole.
- Tá, vou lá tentar. - Jane sorri novamente e corre escadas acima.
- Vai lá, vai.Uma ou duas horas depois, Matheo subira até o quarto de Jane, aonde ela dava socos no chão com breves xingamentos.
- Janie? - Ele fecha a porta atrás de si.
- ISSO TÁ TORTO! QUE ÓDIO! - Jane mostra para ele sua pequena criação, as costuras eram desproporcionais em cada lado e havia algumas feitas em cima de outras.
- Ah, Janie, desde que funcione...
- Meu nome não é Janie! É Jane! Até quando isso, Matheo?
- Prefiro Janie. É mais fofinho. Mas olha, não tá tão ruim. Vai, experimenta. Vou esperar lá embaixo, realmente esse quarto é bem quente. Abre essa janela.
Matheo desce as escadas e se senta no banco acolchoado da janela, cruzando os braços e esperando Jane, aparecendo após alguns minutos com seu short torto e amassado.
- Uau... - Matheo a encara, boquiabierto.
- O que foi? - Ela sorri.
- Eu... não tinha percebido que você tem pernas.
- Ah, fala sério.
- Isso não tá muito curto não?
- Ah não, Matheo, não seja um velho chato. As meninas na sua época usavam coisas menores. Certeza que tu ficava olhando, ainda!
- Ficava mesmo. E você não vai ser uma dessas!
Jane cruza os braços - Matheo? Tu tá com ciúmes?
- Eu não! De quem? Não tem ninguém aqui além de nós! Sua esquisitinha.
- Aham... confia... tu tá até tomateando de novo! - Ela ri.
- Ah - Ele esconde o rosto - E esse seu short aí, tá desmanchando do lado!
- O que? - Jane olha para baixo, notando uma de suas costuras que havia se abrido.
- Ah, droga, isso demorou muito. Aah, que se dane, depois eu arrumo.
- Preguiçosa.
- Tu aí ciumentinho! - Jane diz, subindo as escadas novamente. Matheo não pode conter um sorriso ao ver Jane subindo as escadas com algo que não cobrisse tudo acima de suas canelas. E é claro, o rosto dele ficara vermelho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nossa Vida
FantasyE se você acordasse completamente sozinho num lugar desconhecido?