Capítulo 13

31 2 0
                                    

- Oque? - Responde Jane, sentindo suas pernas estremecerem.
- O-Okay, está tudo bem! - Matheo afirma - Mas, não olha para baixo.
- Ah? - Jane olha para seus pés, enterrados em meio a ossos e poeira.
Matheo se desequilibra, ao berro que Jane deu.
-Shshshhh, Janie! Janie! - Matheo se ajoelha e a segura pelos ombros. - Quer que o teto desabe?
- Ahh... - Jane apenas gaguejava.
- Argh... Vem cá - Ele estica sua mão, puxando Jane para fora do buraco.
- Oque é isso??? - Ela torce o braço de Matheo.
- Aiaiaiai para para para, - Ele solta seu braço - eu não sei!
Matheo se inclina, vendo oque parecia ser um esqueleto humano, com alguns tecidos rasgados e desgastos e um quadrado de couro.
- A? Matheo! Sobe aqui!!! - Jane sussura para ele, que descia no buraco.
- Oque? Ele não vai me machucar! É só um monte de osso - Diz Matheo, chutando os ossos.
- Uh, é, eu acho... - Jane senta na beirada.
- Haha, foi pro beleléu, né Janie? - Matheo sorri orgulhosamente, com as mãos na cintura.
- Mlk foi de base.
- ... - O rosto de Matheo volta para uma expressão vazia.
- ... De comes?
- ... - Matheo cruza os braços.
- ... Foi de arrasta pra cima.
- Desisto, Janie. - Ele volta a atenção a pilha de ossos à sua frente, deixando Jane meio envergonhada.
- Só tem um? - Ela pergunta, descendo até ele.
- Um esqueleto? Acho que sim, só tem um crânio.
- Então já teve mais gente aqui? - Diz Jane, olhando distraidamente para so lados, onde só havia paredes de pedra.
- Boo!
- AAque me- aafs...
- Olá, senhorita - Matheo, gesticulando o esqueleto, como se conversasse com Jane.
- Haha, que engraçado. Solta isso, Matheo. Que nojo.
Ele para por um instante, logo o largando no chão.
- Estraga prazeres... - Matheo murmura, para si.
- Oque foi isso? - Pergunta Jane, que se inclinara para pegar o quadrado de couro das mãos do esqueleto.
- N-nada não.
- Hmm... Olha, Matheo.
- Oque?
Matheo se aproxima de Jane, que assopra a poeira do couro, revelando um caderno com o nome gravado, 'Léon G.'
- Será que é esse cara? - Pergunta ele.
- Deve ser. - Responde.
- Abre!
Jane levanta a capa de couro, com algumas mosquinhas saindo. Era uma folha amarelada, mas vazia.
- Pula pro final - Diz Matheo.
Então ela abre na última página....

- "Escrita de Jornal, 320
Eu me encontrei preso nessa caverna. Não tenho certeza se vou sair daqui vivo. Ou se vou sair.

Eu vi muitas coisas. Esse lugar pode parecer lindo, mas, em cada beleza há um perigo. Eu estou aqui há mais de 50 anos. Deve ser por volta do ano de 1870. Eu vi esqueletos, esqueletos parecidos com o de um humano. Creio que não sou a primeira pessoa a chegar aqui. E se alguém estiver lendo isso, por favor, não gaste sua vida tentando achar uma saída. É um lugar lindo, afinal. Mas, se você de algum modo conseguir achar uma saída, -----"
O resto da página desmanchara com o tempo, ou foi devorada por insetos. Mas havia uma anotação bem no topo.
"Não confie nas sombras.
- León"
- Ahh... - Jane recua. - É isso. Vamos ficar aqui para sempre!
- An? Ah, não, não. Olha Janie, "Se você achar uma saída", deve ter um jeito! - Matheo mostra o livro para Jane - ... Eu espero - Diz, olhando para baixo, com um pequeno nó em sua garganta.
- Não... por favor... - Jane se senta no chão, cobrindo seus olhos.
- Janie... - Matheo se senta ao seu lado. - Olha, está tudo bem.
- Não! Não ta vendo que vamos morrer presos aqui? - Fala Jane, em meio a choros.
Matheo pensa no que dizer.
- Ai, pensa assim - Ele leva a mão até as costas dela. - Ele disse que viu esqueletos, a gente não. Talvez alguém saiu e levou eles.
Jane olha para Matheo, com seus olhos molhados e o nariz escorrendo.
- Ah, fala sério! Eu quero ir embora! - Ela estapeia o chão.
- Eu entendo, eu também quero.
- Como que ele morreu? O buraco é razo, e a gente está a menos de 3 metros da saída! - Ela pergunta.
- Ah, deixa, ele era velho já. - Matheo sorri.
- Hmm - Jane olha para as mãos, acariciando seus dedos.
- ... Vamos pra casa, Janie. Já passeamos demais.
- Pra casa não né... Pra 'aquela' casa, sim.
- É... - Ele sobe as sobrancelhas.
Matheo levanta, levando Jane pela mão até fora da caverna.
- Não tinha mais nenhuma página escrita? - Pergunta Matheo.
- Tinha, mas tava borrado. Deve ser da umidade da caverna. Não dava pra ler nada. - Responde Jane - Aliás, estranho que aquela camisa que ele estava usando, não parecia nem um pouco com 1870, parecia mais algo do século 18 com aquele colarinho.
- Janie - Matheo para.
- Hm?
- ... - Os olhos de Matheo sobem e descem, por suas vestes.
- Ahh, realmente.
- Pff, qualquer coisa seria melhor que esses suspensórios ridículos. - Matheo brinca.
- Hehe, eu acho fofo.
- An? - Matheo vira para Jane, que o encarava sarcasticamente.
- Meh, tanto faz... - Ele diz, e Jane ri.

...

- Como que você sabe sobre oque é século tal e tal? - Pergunta Matheo.
- Ah, tu não entenderia. - Diz Jane, abrindo a porta de casa.
- Me diz. - Ele segue atrás dela.
- É simples - Começa Jane, se virando para Matheo e chegando mais perto. - Como eu tenho... tinha, acesso a todo o conhecimento da humanidade - Menos oque os lagartos escondem - É fácil descobrir qualquer coisa quando e onde eu quiser.
- Ahh... Todo o conhecimento?
- Sim. Eu tinha isso na palma da minha mão.
- Uau, então você sabe de tudo? - Sorri Matheo.
- Não, né! Não é só porque eu tinha acesso que eu ja vi tudo! - Jane se senta no sofá, tirando seus sapatos.
- Ah... - Matheo olha para ela, pensando. - ... Lagartos?
- Ah, hehehe, é um meme. Deixa pra lá.
- Uhhh... Ta bom. - Matheo se senta ao lado de Jane.
- Que dia hein, Janie?
- Ah, sim. Uuuufa - Ela se joga para trás, deitando no sofá. - Eu só quero dormir.
- E eu so quero um chá. - Matheo levanta.
Jane assiste enquanto ele vai até a cozinha, e pega a chaleira, saindo de casa para buscar água.
- Kss... Matheo, Matheo.

Mais tarde, Jane está sentada na bancada da cozinha, lendo um livro, quando ve Matheo descendo as escadas no escuro.
- Eai, Janie. - Ele diz, se sentando ao lado dela. - Oque você está lendo?
- Ah, nada demais. É o mesmo de antes... Matheo?
- Hmm to ouvindo.
- Uhh... Para de me encarar assim! Teus olhos dão medo. - Jane ri, empurrando Matheo.
- Hehehe, oque foi? - Diz Matheo, arregalando seus olhos.
- Aaahhh, no escuro fica pior ainda? Hahaha! - Jane ri, e Matheo olha para baixo, sorrindo.
- Janie - Matheo se encosta no ombro dela. - Canta algo pra mim.
- An? Oxi, sai fora, Matheo. Que isso heh...
- Canta.
- Ah - Jane pensa. - Uh... Dane-se pra cá, dane-se pra lá, dane-se pra todo lado, ia ia o.
- Que - Matheo ri.
- Canta tu, MC tetheo.
- An??? - Matheo levanta.
Jane sorri.
- Vou dormir, eu acho. Ou tentar. - Jane levanta, indo até a estante de livros e deixando o que lia lá.
- Ei - Matheo leva a mão até a estante, prendendo Jane entre eles. - Não tem nada que você queira... fazer? - Pergunta Matheo, meio receoso, com seu clássico sorriso de canto.
- Sim, tem. Dormir. - Jane passa por debaixo de seu braço, indo em direção a cozinha, onde estava a vela.
- Janie, come on! - Matheo se apoia na bancada.
- Não, não. - Ela pega o pratinho da vela, e o vira para Matheo. - Nada de come on! Eu cansei, hoje o dia foi... bem, bastante coisa.
- Eu sei, mas podemos nos divertir um pouco! Quem sabe você pode ler um pouco do seu livro, ou podemos conversar sobre qualquer coisa!
- Matheo... - Jane suspira.
- Podemos fazer adivinha, animais com sombras, contar até mil... - Matheo levanta um de seus dedos a cada frase.
- Matheo, eu só quero me deitar. Sozinha. Eu e meus pensamentos. Isso se eu conseguir dormir, tem tanta coisa acontecendo, não sei como minha família está, ou se vou vê-los novamente. - Diz Jane, com a voz trêmula, levando a mão até seu rosto para limpar uma lágrima. - Eu só quero meus pais. - Jane enterra seu rosto no peito de Matheo.
-... Eu... Eu sei. Eu entendo, Jane... Eu também não quero... hmm...
- O - snif - Oque? - Ela sobre seus olhos molhados até ele.
- ...
Jane espera uma resposta, mas percebe que não vai receber, abraçando Matheo. Não demora muito para ela ouvir gemidos e fungadas.
- Tu ta chorando? - Jane pergunta, baixinho. Ainda o abraçando.
- N-não... - Ele limpa o nariz.
- Vem - Ela estica a mão para ele, que olha para longe, enrubescido.
Matheo olha rapidamente para a mão dela, e sem olhar, lentamente a pega.
Jane os guia até o andar de cima, segurando a vela em sua frente.
- Tudo bem? - Ela pergunta, o vendo enquanto senta em seu colchãozinho no chão, ainda em silêncio.
- ... Não quer deitar ali comigo? - Jane vira a cabeça em direção ao seu quarto.
- ... Não, valeu. Boa noite. - Ele se vira.
Jane deixa o olhar cair, levemente sorrindo.
- Ta bom. Mas, se precisar de qualquer coisa, pode me acordar - Ela fecha a porta. - Se é que vou dormir. - Sussura para si mesma.
Dormiu. Jane tentara o máximo possível pensar em alguma história, ou filme, ou em seu livro, e assim adormeceu. Já Matheo... Ele realmente não queria estar sozinho naquele momento. Nenhuma de suas ideias de passatempo funcionaram, e ele ainda chorou na frente dela. Qualquer distração funcionaria. Mas, oh. Ele estava calmo. Aquele breve momento com Jane na sala, havia o paralisado. Aquele abraço que ela deu, mesmo que segurando a vela, foi tão... confortante. Aquilo trouxe paz para ele. Mesmo que não muita esperança sobre voltar para casa, foi suficiente para o fazer apagar. Baita tombo, na verdade. Em menos de 15 segundos já roncava.

Nossa VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora